POSSÍVEL CESSAR-FOGO

Cessar-fogo permanente e comando de Gaza após a guerra são pontos de divergência em negociação com Israel

Israel se opõe a que o Hamas, que governa o território palestino desde 2007, volte a administrar Gaza

Brasil de Fato | São Paulo (SP) |
Mulher avalia estragos feitos por ataque israelense ao campo de refugiados de Bureij, regiao central de Gaza, na segunda-feira (6) - EYAD BABA/AFP

Israel e Hamas parecem estar se aproximando de um acordo de cessar-fogo na Faixa de Gaza e libertação de reféns por parte do Hamas, segundo oficiais dos Estados Unidos, Qatar e Egito, países envolvidos nas conversas de negociação.

A última rodada de negociações com o objetivo de intermediar uma trégua duradoura no conflito de 15 meses foi retomada em Doha, no Qatar, no último domingo (5), e prevê um acordo definitivo em até duas semanas, data em que Donald Trump assumirá a Presidência dos Estados Unidos.

Entre os principais pontos de bloqueio até agora estão o caráter permanente do cessar-fogo e o comando de Gaza após a guerra. Israel se opõe a que o Hamas, que governa o território palestino desde 2007, volte a administrar Gaza.

O Hamas disse nesta segunda-feira (6) que deu aos mediadores uma lista de 34 prisioneiros israelenses apreendidos durante o ataque do grupo a Israel em 7 de outubro de 2023, que desencadeou a guerra, que poderiam ser libertos como parte da "primeira fase de um acordo de troca de prisioneiros".

Um funcionário do Hamas disse para a agência de notícias AFP que o grupo precisava de pelo menos uma semana de calmaria em Gaza para determinar a localização dos reféns e se comunicar com os captores sobre a situação de cada um deles.

Apesar do avanço das negociações, Israel continua a atacar a população palestina na Faixa de Gaza e infraestruturas hospitalares da região. Segundo oficiais de saúde palestinos, os ataques aéreos do exército israelense mataram mais de 100 pessoas por todo o enclave apenas no último fim de semana.

O jornal israelense The Haaretz reportou nesta segunda que as negociações com o Hamas "estão próximas de um cruzamento" entre as partes, e que "a delegação israelense está otimista sobre a finalização de um acordo nos próximos dias".

Sem tempo a perder

A nova rodada de negociações em Doha ocorre apenas duas semanas antes da posse, em 20 de janeiro, do presidente eleito dos Estados Unidos, Donald Trump, que já pressionou o Hamas.

O chefe da diplomacia dos Estados Unidos, Antony Blinken, expressou nesta segunda sua "confiança" em conseguir um cessar-fogo, mesmo que não seja alcançado "nas próximas duas semanas".

O Fórum das Famílias, principal associação de familiares dos reféns israelenses, pediu que um acordo seja alcançado o mais rápido possível: "Não há mais tempo a perder".

Dos 251 sequestrados pelo Hamas no ataque de 7 de outubro, 96 pessoas continuam em cativeiro em Gaza, das quais 34 foram declaradas mortas pelo exército israelense.

Os bombardeios e a invasões terrestres de Gaza por Israel mataram 45.800 palestinos, mais da metade deles mulheres e crianças. A ofensiva causou destruição generalizada e deslocou cerca de 90% dos 2,3 milhões de moradores, muitos deles por mais de uma vez.

As condições em Gaza estão cada dia piores devido às baixas temperaturas causadas pelo inverno e falta de suprimentos adequados, como cobertores e roupas, devido ao bloqueio feito pelo exército israelense.

Três bebês palestinos morreram de hipotermia no campo de refugiados de al-Mawasi, no sul de Gaza, no fim de dezembro, enquanto as temperaturas despencam e o bloqueio israelense de alimentos, água e suprimentos essenciais de inverno continua.

A agência da ONU para refugiados da Palestina (Unrwa) disse no fim do último mês que 14.500 crianças palestinas foram mortas por Israel na Faixa de Gaza, desde outubro do ano passado, significando, em média, um assassinato a cada 60 minutos.

Centenas de milhares estão amontoados em acampamentos de tendas ao longo da costa enquanto o inverno frio e chuvoso se instala. Grupos de ajuda têm lutado para entregar alimentos e suprimentos e dizem que há escassez de cobertores, roupas quentes e lenha. "Este é um exemplo gritante das consequências desta guerra injusta e seu impacto sobre o povo da Faixa de Gaza", disse Ahmed al-Farra, diretor da ala infantil do Hospital Nasser.

Nos últimos três meses, as operações terrestres de Israel têm se concentrado na região norte do enclave, mas, nesta segunda, duas crianças foram mortas por um ataque de drones em al-Shawka, no sul da cidade de Rafah, segundo a Defesa Civil.

O Programa Alimentar Mundial também declarou que as forças israelenses abriram fogo contra um comboio identificado da organização no domingo (5), mesmo tendo recebido autorizações prévias de segurança das autoridades israelenses.

Violência na Cisjordânia

Enquanto um possível acordo se aproxima, mas ainda não chega em definitivo, a violência persiste na Faixa de Gaza, devastada por mais de um ano de guerra.

A Defesa Civil do território palestino informou nesta segunda-feira que pelo menos 16 pessoas morreram, incluindo diversas crianças, em vários bombardeios israelenses.

O exército israelense anunciou, por sua vez, que três "projéteis" foram disparados contra Israel a partir do norte do enclave, sem deixar feridos.

Na Cisjordânia ocupada, outro território palestino onde a violência se intensificou desde o início da guerra em Gaza, Israel anunciou que três israelenses morreram nesta segunda-feira em um ataque próximo da cidade de Al Funduq.

Dois homens "abriram fogo contra um ônibus e veículos civis", segundo o exército, que acrescentou que uma operação estava em andamento para localizá-los.

"Encontraremos os desprezíveis assassinos e acertaremos contas com eles e com quem os ajudou. Ninguém ficará impune", reagiu o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu.

*Com The Guardian e AFP

Edição: Leandro Melito