ELEIÇÕES

Governo e aliados são céticos sobre força da extrema direita para golpe, diz correspondente do BdF na Venezuela

Correspondente do Brasil de Fato em Caracas, Lorenzo Santiago explicou as estratégias da oposição e políticas de Maduro

Brasil de Fato | São Paulo (SP) |
Javier Milei e Edmundo González acenaram para venezuelanos e apoiadores do governo argentino que se reuniram na Praça de Maio - Comando ConVenezuela

Na próxima sexta-feira (10), na Venezuela, está marcada a oficialização de Nicolás Maduro como presidente eleito, cuja vitória foi ratificada pelo Conselho Nacional Eleitoral (CNE) do país. A posse presidencial na Assembleia Nacional venezuelana promete ser tão movimentada quanto as eleições em si. Por isso, a posse de Maduro e o futuro da Venezuela foi o tema do primeiro episódio do ano d'O Estrangeiro, podcast de política internacional do Brasil de Fato com a participação do correspondente Lorenzo Santiago, que acompanha as movimentações em Caracas.

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Brasil de Fato acompanha o que está acontecendo na Venezuela / Brasil de Fato/Rafael Canoba

Nos últimos dias, o opositor político Edmundo González Urrutia tem feito uma "turnê" por países de direita, e visitou o ultraliberal Javier Milei, na Argentina, o conservador Luis Lacalle Pou, no Uruguai, e Joe Biden, em Washington. As visitas também incluíram a República Dominicana e o Panamá.

"É um cenário bastante incerto, até porque são infinitas as possibilidades. A oposição não diz exatamente o que vai fazer", avaliou Santiago. 

O próprio governo venezuelano, seus aliados e a força militar veem com ceticismo um possível levante de força da extrema direita no país que culmine em golpe, avaliou o correspondente."O próprio ministro do Interior [venezuelano], Diosdado Cabello, disse que, se entrar no país, Edmundo será preso". O ex-candidato à Presidência tem um mandado de prisão emitido pelo Ministério Público. Ele é investigado pela publicação de falsas atas eleitorais e de usurpar as funções do CNE ao divulgar tais atas.

Desde que esteve asilado na Espanha, González tem dito que assumirá a posse presidencial na Venezuela, em 10 de janeiro, sem, no entanto, dizer como fará isso. "Esse processo [de disputa eleitoral] se encerrou quando o Maduro foi oficializado vencedor pelo CNE", explicou. No entanto, o próprio CNE, que deveria ter publicado os registros das atas publicamente não o fez após os 30 dias estipulados, e até hoje não divulgou completamente os resultados. "Essa é uma lacuna que o Conselho Nacional deixou e que abre margem para esse questionamento da oposição."

Cabello anunciou nesta quinta (9), a descoberta de um suposto plano da oposição de empossar Edmundo em uma embaixada da Venezuela fora do país."Eu escutei da alta cúpula militar no final do ano passado, que eles [a oposição] também calculavam a possibilidade do Edmundo ir para a fronteira com a Colômbia e tentar criar uma área livre para tentar se declarar presidente", esclareceu Lorenzo.

"Isso não parece algo muito viável, porque ele teria que enfrentar questões territoriais da Colômbia, e o [Gustavo] Petro não parece muito disposto a permitir algo assim".

Também foram discutidas as marchas que acontecem no país nesta quinta-feira (9). Estão marcados protestos a favor e contra o governo de Nicolás Maduro "O termômetro [do que pode acontecer sexta-feira] vai ser medido hoje [quinta]", avaliou Lorenzo. Para o correspondente, o cenário mais provável é que a oposição tente algo midiático, que ele considera como "a única ferramenta que a oposição tem atualmente, para tentar mobilizar as pessoas".

A tática de não reconhecer resultados eleitorais se tornou um padrão - principalmente contra governos latinoamericanos - para deslegitimar governos eleitos democraticamente e tem sido levada a cabo na "política de pressão máxima" exercida sobre a Venezuela, tendo como apoiadores governantes de países de direita.

O correspondente do Brasil de Fato também ressaltou as propostas econômicas, sociais e políticas que sondam o futuro da Venezuela no terceiro mandato de Nicolás Maduro. "Espera-se de Maduro uma política um pouco mais liberal, que permitam o capital privado de atuar na Venezuela."

Para a posse na próxima sexta-feira, o Brasil de Fato estará na Assembleia Nacional da Venezuela, reportando os principais acontecimentos do dia.

O podcast O Estrangeiro é apresentado por Lucas Estanislau e Camila Salmazio ao vivo toda quinta-feira às 10 horas.

Edição: Leandro Melito