Para atrair e prender a atenção das maiorias, as redes sociais online estimulam o sensacionalismo
O modelo de negócios das redes sociais online é baseado na economia da atenção e na modulação dos comportamentos de seus usuários. Isso significa que essas redes organizam a coleta de dados de quem as utiliza para identificar os hábitos, gostos e interesses de cada pessoa. Tendo como base esses perfis, os algoritmos das redes sociais distribuem seus conteúdos e definem o que cada um vai ler e ver.
A renda das big techs vem da capacidade de distribuir mensagens publicitárias certeiras. Isso é possível porque com o perfil de cada usuário, essas empresas atraem a sua atenção conforme gatilhos, cores, imagens e palavras que as envolvem. Com base nessa economia da atenção, os sistemas algorítmicos das redes sociais vão modulando, orientando o comportamento das pessoas. É principalmente pelo controle da visualização de mensagens que a modulação é realizada. Por isso, o tempo todo os usuários das redes são colocadas em amostras acessadas por quem pagou pela distribuição dos conteúdos específicos para aqueles determinados perfis.
As leis de proteção de dados não proíbem o tratamento de dados sensíveis, nem a vigilância permanente dos usuários, por parte dessas plataformas. Por isso, essa coleta massiva e constante de dados não chega a um fim. As plataformas querem saber sempre mais sobre cada usuário. Como a operação e a gestão algorítmica dessas estruturas são invisíveis para quem as utiliza, não sabemos ao certo quantas experiências comportamentais são realizadas sem o conhecimento e controle da sociedade. Mas, as leis de proteção de dados protege esse modelo de negócios.
Para atrair e prender a atenção das maiorias, as redes sociais online estimulam o sensacionalismo e a espetacularização. Alguns dizem que elas geram polarizações, mas isso não parece explicar a dinâmica central dos algoritmos. Para chamar a atenção de cada perfil, as redes sociais utilizam os temas, assuntos e palavras preferidas de grupos de usuários, mas privilegiam os conteúdos que podem engajar mais, prender mais a atenção, em geral, tais conteúdos se caracterizam pelo exagero, por aquilo que desperta a curiosidade, pela narrativa espetacular. Para quem tem um perfil de grande interesse pela ciência, publicar que a Nasa acaba de obter indícios de vida em um certo planeta irá chamar sua atenção. A notícia não precisa ser verdadeira, deve apenas ser espetacular.
O grupo Meta (controlador da Whatsapp, Instagram e Facebook), o Grupo Alphabet (controlador do Google e do Youtube) e as demais Big Techs nunca privilegiaram a qualidade e a veracidade da informação. Sempre priorizaram o número de cliques, a polêmica e o engajamento em torno de postagens. A apuração de uma informação ou uma postagem sempre foi secundarizada diante do número de replicações, repostagens e comentários. As redes sociais online aplicam na prática o princípio de Goebbels: uma postagem é verdadeira se for replicada um milhão de vezes. Obviamente, essa prática comunicacional das empresas se confunde com a principal estratégia da extrema direita, a desinformação.
Para as democracias sobreviverem a um sistema comunicacional baseado no espetáculo e na vontade de quem tem mais poder econômico para monetizar suas postagens será preciso regular as plataformas de relacionamento online. Isso não será fácil. Por que? A extrema direita defenderá com todas suas forças o modelo de negócios das redes sociais intacto. Esse modelo que coloca o poder econômico e a mentira como preceitos fundamentais da organização social, que descarta a realidade dos fatos diante do que pode chamar mais as atenções e engajar o que tem de mais desprezível e desrespeitoso no senso comum é de total interesse das classes dominantes que aderiram ao neoliberalismo.
Estamos lidando com o fascismo. Nos anos 20, 30 e 40 do século XX, o fascismo histórico era corporativo, o fascismo do século XXI é neoliberal. A destruição total de direitos e a colocação do Estado a serviço das empresas e da liberdade de quem tem poder econômico são os primados do neofascismo. Não vamos nos iludir. As redes sociais online, as plataformas controladas pela Big Techs são estruturas geopolíticas cada vez mais alinhadas com a extrema direita. Seus tentáculos chegam aos parlamentos. No Brasil, antes da eleição de Trump já impediram a aprovação do projeto de Lei 2630. Agora que o modelo de negócios das plataformas e a disseminação de desinformação são política oficial do governo Trump, não será fácil regular essas megaestruturas. Espero não chegarmos a uma situação em que o combate ao fascismo se confundirá ao combate ao poder descomunal das plataformas.
**Este é um artigo de opinião e não necessariamente representa a linha editorial do Brasil do Fato.
Edição: Nathallia Fonseca