O governo da Polônia disse nesta quinta-feira (9) que concederá livre acesso às autoridades israelenses que queiram participar do 80º aniversário da libertação do campo de concentração nazista Auschwitz-Birkenau, apesar do mandado de prisão do Tribunal de Haia contra o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu por crimes contra a humanidade na Faixa de Gaza.
A Polônia, que é signatária do Tribunal Penal Internacional (TPI), “garantirá o acesso livre e seguro para a participação dos mais altos representantes do Estado de Israel nessas comemorações”, afirmou em uma resolução o primeiro-ministro polonês, Donald Tusk.
No documento o mandatário não menciona o TPI, que insta todos os estados que assinaram o Estatuto de Roma, que criou o tribunal em 1998, a cumprir suas ordens relacionadas ao julgamento de indivíduos por crimes de guerra e contra a humanidade.
O documento de Tusk afirma que “a memória das seis milhões de vítimas do Holocausto é uma obrigação moral e legal não apenas da Polônia e das nações da Europa, mas também de toda a comunidade internacional”. Assim, justifica a decisão de “garantir a participação segura dos líderes de Israel” porque “o governo da Polônia vê isso como parte de um tributo ao povo judeu, cujos milhões de filhos e filhas são o resultado de um trabalho de paz”.
Apesar da garantia de imunidade, o jornal israelense Times of Israel apurou que Netanyahu não planeja comparecer à cerimônia, de acordo com um assessor do primeiro-ministro. Segundo o periódico, o pedido de proteção havia partido do presidente polonês Andrzej Duda para Tusk.
Além de Netanyahu, o TPI também emitiu mandado de prisão contra o ex-ministro da Defesa de Israel, Yoav Gallant. Contudo, a imprensa polonesa e israelense não tem indícios de que nenhuma autoridade israelense vá à cerimônia devido à falta de contatos para estabelecer a visita.
Pressão contra Netanyahu
O mandado de prisão do TPI contra Netanyahu gera pressão internacional contra o primeiro-ministro. No entanto, o mandatário também é alvo de apelos que vêm dentro de Israel pelo fim da guerra contra o Hamas no enclave palestino.
Um grupo de pais de soldados apelou, também nesta quinta-feira (9), ao primeiro-ministro israelense para que ponha fim à guerra na Faixa de Gaza como forma de salvar a vida de seus filhos, acusando-o de prolongar o conflito desnecessariamente.
A associação Pais de Soldados Gritam ‘Basta’ reúne mais de 800 pais de militares, recrutas ou reservistas que servem em unidades de combate em Gaza, alguns praticamente sem descanso desde o começo da guerra, iniciada há mais de um ano.
Netanyahu vem recebendo críticas há meses por supostamente prolongar o conflito contra o Hamas por razões políticas. A guerra foi iniciada em resposta ao ataque do movimento palestino em 7 de outubro de 2023.
O grupo expressou essa crítica em uma carta dirigida ao primeiro-ministro. A AFP obteve uma cópia do documento. "O acusamos de conduzir uma guerra sem horizonte, inédita na história do nosso país. E isso apenas em função do interesse de sua sobrevivência política pessoal", declara o coletivo."O acusamos de abandonar os reféns e os soldados. Fazemos um apelo: Ponha fim à guerra!", continua o texto.
Os pais dos soldados acreditam que "todos sabem, inclusive eles [os soldados], que a guerra está sendo prolongada sem um objetivo e que os reféns só serão libertados como parte de um acordo", atualmente em negociação no Catar, um dos três países mediadores, junto com os Estados Unidos e o Egito.
"O exército israelense não tem qualquer razão para permanecer em Gaza, a não ser para satisfazer desejos messiânicos de se estabelecer lá", acrescenta o grupo."Não podemos permitir que continue sacrificando nossos filhos como carne de canhão", concluem os pais dos soldados.
O gabinete de Netanyahu ainda não comentou a carta. E o número de soldados mortos em território palestino desde o início da ofensiva é de 399.
*Com AFP e informações de Times of Israel
Edição: Leandro Melito