Frente ao embargo econômico imposto pelos Estados Unidos, que impede que a Venezuela comercialize seu petróleo com diversas nações do mundo, o governo chavista vem apostando numa solução caseira para suprir necessidades básicas da população.
A produção de alimentos é um exemplo de como o país se reinventou após o início das sanções.
“No primeiro mandato do Chaves, praticamente 80% dos alimentos eram importados. Essa era a tradição de todo o século 20 da Venezuela. Usava o petróleo para comprar tudo fora, Com a crise e o bloqueio houve uma mudança na produção de alimentos, e hoje, 80% dos alimentos consumidos na Venezuela são de produção nacional”, explica João Pedro Stedile, liderança do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST).
A propriedade da afirmação vem de uma relação íntima que a Venezuela vem desenvolvendo com o MST nas últimas décadas.
“O MST se orgulha disso, porque nós também botamos o nosso grãozinho de areia, porque nós temos vários projetos de intercâmbio com as comunas e com o governo, via Ministério da Agricultura para justamente produzir sementes, para conseguir a soberania alimentar”, lembra Stedile em entrevista ao programa Bem Viver desta quinta-feira (9).
Reeleito em julho do ano passado, o atual presidente Nicolas Maduro inicia oficialmente seu terceiro mandato nesta sexta-feira (10), quando acontece a cerimônia de posse. Embora uma contestação internacional tenha tentado anular o resultado, o Conselho Nacional Eleitoral (CNE) confirmou a vitória chavista dias após o pleito.
Para Stedile, a vitória dá condições para que o governo chavista siga driblando o bloqueio e avançando ainda mais na soberania nacional.
“Eu tenho certeza que no próximo mandato do Maduro eles vão alcançar que 100% dos alimentos da culinária venezuelana ejam produzidos pelos próprios venezuelanos".
Na entrevista, a liderança do MST fala também sobre as expectativas para a posse e sobre que relações a Venezuela deve desenvolver com o Estados Unidos, agora de Donald Trump, e também com o Brasil, que teve altos e baixos nesses dois anos do terceiro mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
Confira a entrevista na íntegra
O senhor está preocupado com a posse? Pode haver algum tipo de ameaça?
Todas as informações que nós temos do ambiente de Caracas são as melhores possíveis. Há um clima tranquilo, a população tá andando na rua, tranquila e é uma expectativa muito positiva para o dia da manhã quando se realiza a cerimônia oficial de posse. É uma espécie de feriado nacional, apesar de ser um dia da semana.
Eu acho que o perigo maior da tensão foi logo depois das eleições, porque havia todo um circo preparado, em que a Maria Corina, que é a Bolsonaro deles, articulada com a extrema direita dos Estados Unidos e da Europa, tinha preparado todo um cenário de cópias falsas das atas de votação.
Você não consegue em 12 horas, mesmo que você tenha fiscal em todo o país, cópias das atas e amontoar em um só documento questão de horas. Então, é evidente que essas atas eram fraudulentas, como se comprovou.
Mas junto com a história das atas, havia toda uma articulação com os meios de informação da burguesia internacional nas redes sociais para criar o mesmo discurso que havia fraude, e aí na sequência, como todo mundo sabe, esses setores de Caracas financiaram as gangues de jovens menores de idade para cometer em crimes atentados terroristas, jogaram bomba molotov em escolas…
Felizmente a população não se acovardou e no terceiro, quarto dia, chamados pelo governo e já com a proteção da polícia e das Forças Armadas, houve manifestações de multidões apoiando a legitimidade da eleição do presidente Maduro.
Também no ponto de vista legal, o presidente Maduro apresentou no Tribunal de Justiça as suas provas, já a oposição não compareceu, então as atas que eles diziam que era a prova, por que eles não apresentaram no Tribunal Superior Eleitoral e muito menos pela imprensa?
Mais uma vez, Nicolas Maduro terá que lidar com Donald Trump como presidente dos Estados Unidos. O que esperar desse novo capítulo?
Em primeiro lugar, é importante nós termos claro que a verdadeira política dos interesses capitalistas dos Estados Unidos é independente do partido que esteja de plantão.
Há inúmeros fatos históricos em que os Democratas se comportaram muito pior do que os Republicanos, mesmo em relação ao Brasil e à América Latina em geral.
Mas no caso específico, eu acho que o perigo maior de uma invasão militar aconteceu no primeiro mandato do Trump, quando ele tentou fazer isso, porque tinha o governo da Colômbia que era de direita e aqui no Brasil com o Bolsonaro.
E ele tentou uma invasão militar que seria feita por esses dois exércitos, cada um de um lado da fronteira, de maneira que os Estados Unidos sairiam ilesos. O único objetivo de uma invasão militar seria o controle do petróleo que os Estados Unidos quer porque é a maior reserva mundial de petróleo e muito próxima dos Estados Unidos.
Então eu acho que o Trump vai tentar um acordo, porque é muito mais fácil. A Venezuela não tem nenhum problema em vender petróleo para os Estados Unidos. Ela vende no mercado internacional.
Pouco a gente sabe, o maior mercado consumidor hoje do petróleo venezuelano é a Índia, que é um governo de direita. E a Venezuela troca por remédio, troca por equipamentos, tocam por tecnologia, que é um avanço enorme que a Índia tem.
Assim como eu não acredito que o Trump vai instalar o Edmundo [Gonzáles] como novo governo. Os Estados Unidos já cometeram esse erro quando instalaram o Guaidó.
O governo Lula teve altos e baixos na relação com a Venezuela. Alguma coisa pode mudar, agora, com o novo mandato de Maduro?
Como o Brasil de Fato tem noticiado, os movimentos populares brasileiros têm sido críticos da política do Itamaraty, que se revelou com diversos erros, sobretudo ao não reconhecer a eleição, depois que todos os presidentes dos Brics tinham reconhecido, depois que o México e a Colômbia, que são os dois outros grandes países da América Latina, reconheceram.
E depois, o veto à entrada Venezuela nos Brics foi de um erro histórico que o Brasil vai pagar, porque desmoralizou a política externa. Ficou parecendo que era um jogo de birra do Itamaraty frente ao governo Maduro.
E finalmente o último erro foi o acordo do Mercosul que o governo Lula se iludiu com as promessas do [Emmanuel] Macron, mas sobretudo do ministro da Alemanha, porque na prática o acordo agora se revela ser apenas o interesse da Alemanha e, portanto, a França, Polônia, Itália e Espanha provavelmente vão vetar o acordo.
Eu tenho certeza que esse acordo não tem futuro. Então qual é a saída para o governo Lula depois de tantos erros? Fazer de conta que nada aconteceu.
Eu acho que a sinalização que vai acontecer amanhã, que irá a embaixadora do Brasil ao ato de posse, já é o reconhecimento da legitimidade das eleições.
Apenas não com alta representação, mas isso é detalhe, eu acho que a tendência é as relações entre os dois países se normalizarem.
O MST tem uma relação muito próxima com a Venezuela, especialmente por conta das Comunas. Como se deu essa construção?
O MST tem uma relação histórica com as comunas da Venezuela e, por isso, também nos alegra em poder comentar sobre elas.
As comunas jogaram um papel muito importante após o bloqueio dos Estados Unidos. Já no primeiro mandato do Chaves, praticamente 80% dos alimentos eram importados.
Essa era a tradição de todo o século 20 da Venezuela. Usava o petróleo para comprar tudo fora, Com a crise e o bloqueio houve uma mudança na produção de alimentos, e hoje, 80% dos alimentos consumidos na Venezuela são de produção nacional.
E, de certa forma, o MST se orgulha disso, porque nós também botamos o nosso grãozinho de areia, porque nós temos vários projetos de intercâmbio com as comunas e com o governo, via Ministério da Agricultura para justamente produzir sementes, para conseguir a soberania alimentar.
Eu tenho certeza que no próximo mandato do Maduro eles vão alcançar que 100% dos alimentos da culinária venezuelana sejam produzidos pelos próprios venezuelanos.
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Edição: Nathallia Fonseca