Pernambuco

‘Democracia demora a chegar na periferia, mas temos que defendê-la’, diz vereadora sem teto do Recife

Jô Cavalcanti (Psol) apresentou um pacote de projetos de lei “da democracia”, a serem protocolados em fevereiro

Recife (PE) |
Recém-empossada no Recife, vereadora Jô Cavalcanti (Psol) apresentou um pacote de projetos municipais para a “defesa da democracia” - Paloma Luna

Nesta quarta-feira (8) a vereadora Jô Cavalcanti (Psol), recém-empossada no Recife, reuniu aliados na área externa da Câmara Municipal para anunciar um “pacote da democracia”, com projetos de lei, resoluções e requerimentos a serem protocolados na casa legislativa a partir de fevereiro, quando os vereadores retornam das férias. A parlamentar concedeu uma entrevista ao Brasil de Fato Pernambuco após o ato, quando aproveitou para fustigar bolsonaristas locais: “esse pessoal saiu do esgoto”.

A deputada federal Clarissa Tércio (PP) é uma das que foram processadas pela Procuradoria Geral da República por exaltar, nas suas redes sociais, os atos de vandalismo contra os prédios dos três poderes da República no 8 de janeiro de 2023. “Essa é mais uma que veio do esgoto de Bolsonaro. É uma ‘ralé’ que é contra o Estado democrático de direito, mas se utilizam da democracia para pregar o conservadorismo e perseguir minorias”, disparou Jô Cavalcanti (Psol), que foi colega de Tércio por 4 anos como deputada estadual.

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Os ataques à democracia liberal no Brasil e no mundo, avalia Jô, são fruto de uma ideologia que não é nova, mas que se fortaleceu com as crises econômicas. “Eles dizem que chegaram hoje, que são ‘o novo’, mas eles sempre estiveram lá. Esse projeto sempre existiu, mas as grandes crises fortalecem esses setores. Aqui no Brasil, o golpe de 2016 trouxe esse pessoal do esgoto”, pontuou. “Nós, que somos defensores dos Direitos Humanos e do Estado democrático de direito, temos que estar vigilantes”, diz a vereadora.

Nascida no Morro da Conceição, periferia da zona norte do Recife, trabalhadora do comércio informal e militante sem teto junto ao MTST, Jô Cavalcanti reconhece as falhas do sistema, mas mantém sua defesa. “Temos uma democracia muito jovem e ainda temos muito o que lutar para termos a democracia plena que a gente deseja”, diz ela. “Principalmente nós, que moramos nas periferias. A democracia demora para chegar lá. Mas ainda temos que prezar por ela, para que possamos ter voz e não retrocedamos a um passado que não queremos repetir”, completa.

A parlamentar do Psol deseja a punição dos envolvidos nos atos golpistas do 8 de janeiro e promete usar seu mandato no Recife para lutar contra homenagens a quaisquer apoiadores daquele movimento.


“Defender a democracia sem anistia para golpistas”, diz faixa pendurada pelo MTST na Ponte da Boa Vista, a popular “Ponte de Ferro” do Recife / MTST/reprodução

O 'Pacote da Democracia'

No início do seu mandato como vereadora, em fevereiro, logo após o fim das férias legislativas, a vereadora deve protocolar na Câmara do Recife um Projeto de Lei que proíbe nomear ruas e equipamentos públicos com homenagens a pessoas e entidades condenadas por apoiar os atos golpistas do 8 de janeiro de 2023. Um outro projeto pede revogação de títulos, comendas, medalhas e outras homenagens já concedidas pela Câmara Municipal ou pela Prefeitura do Recife para pessoas implicadas no 8 de janeiro.

Jô Cavalcanti também pretende realizar homenagens, com requerimentos de votos de aplausos para os ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) Flávio Dino e Alexandre de Moraes, além da aposentada Rosa Weber, que presidia o STF quando do 8 de janeiro. Os pedidos de votos de aplausos se estendem também à chapa Lula-Alckmin, ambos alvos da operação paramilitar “Punhal Verde-Amarelo”, que pretendia assassiná-los para impedir que assumissem a Presidência da República.

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A vereadora do Recife também quer criar na Câmara Municipal uma nova comenda, a “Medalha Defensores da Democracia”, para reconhecer figuras públicas que representam ideais democráticos e o respeito a direitos políticos e civis. A psolista também garante que enviará um requerimento ao Congresso Nacional apelando contra a aprovação de uma “anistia” aos militantes golpistas - projeto que tramita em Brasília.

No ato de apresentação do Pacote da Democracia estiveram presentes o deputado estadual e ex-prefeito do Recife, João Paulo (PT); lideranças de organizações não-governamentais, como a Fase e o Centro Sabiá; lideranças do Movimento dos Trabalhadores Sem-Teto (MTST); além de dirigentes políticos do Psol e do PCB.


“Sem medo, sem anistia”, diz outra faixa pendurada por militantes do MTST num outdoor da cidade / MTST/reprodução

Fonte: BdF Pernambuco

Edição: Vinícius Sobreira