Parlamentares e artistas de Araraquara (SP) usaram as redes sociais para questionar a nomeação da nova Diretora Executiva da Fundação de Arte e Cultura de Araraquara (Fundart).
Renata Crespi, nomeada pelo atual prefeito Dr. Lapena (PL), é ex-presidente do Conselho Municipal de Cultura, dona de uma escola de balé e apontada como participante de um acampamento de caráter golpista em Araraquara, organizado por apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) após as eleições presidenciais de 2022.
Na ocasião, um áudio vazado de um grupo de Whatsapp, atribuído a Crespi, dava detalhes sobre a participação dela no movimento.
“Eu tô acampada num Tiro de Guerra. Mas eu precisava tá lá? (sic) Não, eu não precisava (...) Eu tô lá por uma verdade que eu acredito (...) A gente conversa, de hora em hora a gente canta o hino nacional, de hora em hora a gente pede intervenção federa, de hora em hora a gente perde fora Lula. É um movimento pacífico”, diz a voz atribuída a Crespi.
Em outro trecho do áudio, a mulher diz: “Imagina a Renata Crespi que vocês conhecem, de joelhos, pedindo: ajuda, gente, façam a parte de vocês. Eu não precisaria estar lá”.
A gravação veio a público em janeiro de 2023, mas voltou a circular nas redes sociais após a publicação da nomeação, em 1º de janeiro de 2025. A mensagem de voz atribuída à empresária tinha o objetivo de chamar mais pessoas para frequentar o acampamento.
“Vistam verde amarelo, pega a bandeira de vocês, vão lá. O Tiro de Guerra conta as pessoas, faz um relatório e manda para o comandante Geral das Forças Armadas, é isso que acontece lá no TG [Tiro de Guerra]”, diz. No Facebook, a empresária fez publicações questionando o resultado das eleições presidenciais. "Como alguém pode achar que essa eleição foi correta e limpa?", questionava, em postagem de 2 de novembro de 2022.
Artistas e parlamentares questionam nomeação
A Fundart é a principal entidade de fomento de ações no campo da arte e da cultura em Araraquara, município de cerca de 240 mil habitantes, localizado a 270 quilômetros da capital. Com a nomeação de Crespi, artistas temem que o trabalho desenvolvido nesse segmento seja prejudicado.
O Coletivo Bases, que desenvolve ações nas periferias da cidade, como cozinhas solidárias e educação popular, publicou uma nota no Instagram com o título A cultura de Araraquara não é lugar de golpista.
"Araraquara é um celeiro de grandes artistas. No entanto, essa nomeação é um grande retrocesso, pois coloca à frente da cultura municipal alguém cuja trajetória e posicionamentos não dialogam com a pluralidade e os valores democráticos que a cultura exige", ressalta o texto publicado no Instagram do coletivo. Artistas de destaque nacional, como o diretor e dramaturgo Zé Celso Martinez Corrêa (1937-2023), fundador do Teatro Oficina; e a cantora Liniker, membro da Academia Brasileira de Cultura, nasceram em Araraquara e são nomes que fortalecem a tradição artística local.
“Nós temos uma pessoa que defendeu abertamente a tentativa de golpe que foi aplicada aqui no Brasil, então, é inadmissível uma pessoa com esse critério assumir uma fundação tão importante pro fomento da cultura na cidade”, diz José Lopes Nei, integrante do Coletivo Bases, servidor público e militante do Movimento de cultura Hip Hop.
Em resposta à nomeação, as vereadoras petistas Filipa Brunelli e Fabi Virgílio protocolaram um requerimento pedindo detalhamento sobre as nomeações para cargos comissionados da atual gestão. O documento pede que o prefeito forneça informações que justifiquem as nomeações, como currículo e justificativa técnica.
“Colocar uma pessoa que defendeu pautas antidemocráticas em um cargo público na gestão cultural da cidade é uma afronta aos princípios da liberdade, diversidade e inclusão”, diz Brunelli.
Esta é a primeira gestão de Dr. Lapena, médico, que assume a prefeitura após dois mandatos do petista Edinho Silva. Na campanha para as eleições de 2024, Lapena teve apoio de Jair Bolsonaro, que comemorou a vitória.
O Brasil de Fato tentou contato com Renata Crespi e com a prefeitura de Araraquara. Até a publicação deste texto, a reportagem não teve retorno. O espaço segue aberto.
Edição: Nathallia Fonseca