Venezuela

Movimentos populares organizam festival em apoio à posse de Maduro e reforçam articulação internacional de esquerda

Presidente da Venezuela participou do evento e disse ser preciso ‘pegar em armas’ contra o fascismo

Brasil de Fato | Caracas (Venezuela) |
Maduro recebeu apoio de movimentos sociais para os próximos 6 anos de governo - Alba-TCP

O dia seguinte à posse de Nicolás Maduro para um terceiro mandato na Venezuela foi marcado por uma articulação internacional para reforçar a vitória eleitoral do chavista. Movimentos e lideranças populares se reuniram em Caracas neste sábado (11) na cerimônia de encerramento do Festival Internacional Antifascista para manifestar apoio ao governo venezuelano, mas também para marcar posição com uma frente de esquerda formada por diferentes regiões do mundo.

O evento reuniu 200 delegados de mais de 120 países na capital venezuelana. Os convidados internacionais acompanharam a posse de Maduro nesta sexta (10) e debateram uma agenda de ações para enfrentar a extrema direita global. O festival terminou com a assinatura de um documento assinado pelos movimentos que se comprometem, entre outras coisas, a avançar na consolidação de uma "internacional antifascista". 

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Brasil de Fato acompanha o que está acontecendo na Venezuela / Brasil de Fato/Rafael Canoba

O documento assinado também estabelece a criação do chamado "Foro de Caracas", um espaço para a discussão e articulação permanente das esquerdas. Outras propostas incluem a realização de um encontro internacional antifascista para grupos religiosos, povos originários e juristas, além do ⁠lançamento da internacional feminista, popular e antifascista em 8 de março.

Adrian Odle é professor de Direito no St. Vincent and the Grenadines Community College. Ele participou do evento e disse que mais do que criar uma agenda comum, a articulação é importante para mostrar a força das esquerdas globais em uma atuação de oposição à extrema direita global. 

“Uma coisa que temos que dizer é que não só os Estados Unidos, mas o Ocidente em geral permanece junto para combater a nossa frente de esquerda. E quando estamos juntos, nós temos capacidade de enfrentar esse bloco extremista e de apoiar qualquer país que determina sua própria política e seu próprio destino”, disse ao Brasil de Fato

Ismael Sanchez, membro do comitê central do Partido Comunista de Espanha (PCE), destaca que a ocupação dos espaços virtuais, como redes sociais e páginas de internet, por parte dos conservadores exige uma resposta rápida.

“Estamos vivendo um momento de auge do fascismo. Então é lógico e necessário convocar uma articulação internacional antifascista. Todos aqueles que defendem a dignidade dos povos, os direitos humanos e a paz têm a obrigação de constituir uma organização antifascista. Na Europa, 380 organizações de extrema direita estão legalizadas. Se chamam de neofascistas, mas são fascistas e participam das eleições para impor discurso de ódio a partir das instituições públicas”, afirmou ao Brasil de Fato.

MST, Alba e a integração

A posse de Maduro também foi um grande mote do evento. O dirigente nacional do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), João Pedro Stédile, foi responsável por ler a declaração final e reforçou o apoio dos movimentos ao governo venezuelano que, segundo ele, é uma das “principais trincheiras contra o imperialismo” no mundo. Ele também afirmou que é importante ser solidário com Cuba, Venezuela e Palestina, mas é fundamental “fazer as lutas em cada país”.

O secretário da Aliança Bolivariana para os Povos da Nossa América - Tratado de Comércio para os Povos (Alba- TCP), Manuel Bertoldi, concorda com essa ideia. Segundo ele, é preciso construir uma mobilização popular que tenha como proposição transformar a sociedade.

“Há uma ofensiva forte dos EUA, principalmente com Trump. Então temos que reforçar a nossa unidade e ter mobilização popular nas ruas que seja acompanhada de processos radicais de transformação do nosso povo porque a direita também está disputando essa mobilização”, afirmou ao Brasil de Fato

O presidente Nicolás Maduro tomou posse nesta sexta-feira (10) em Caracas na Assembleia Nacional venezuelana. Em seu discurso, o chavista disse que os próximos seis anos de mandato serão "marcados pela paz". Em meio a uma pressão da oposição que ameaçou interferir na cerimônia, o presidente disse que "prometeu paz e entregou paz".

O pleito venezuelano se transformou em uma disputa global protagonizada pelos Estados Unidos que, desde 2017, é um dos principais atores que não reconhece o governo de Nicolás Maduro e impõe um bloqueio contra a economia venezuelana por meio da proibição da venda de petróleo no mercado internacional. 

Para a militante mexicana Maria Vergara Alba, há um simbolismo que esse evento aconteça na Venezuela justamente por essa disputa com outras potências.  

“Esse é um espaço para a militância internacional se encontrar e construir uma agenda conjunta. Para defender os processos democráticos, sociais, ambientais. Inclusive é muito bom que aconteça na Venezuela porque os venezuelanos enfrentam de maneira terrível uma manipulação midiática brutal. Nunca vimos isso contra um país antes”, disse ao Brasil de Fato.

Maduro celebra

O presidente venezuelano foi responsável por fazer o discurso de encerramento do evento. Ele comemorou a cerimônia de posse e disse que o 10 de janeiro foi um dia “de síntese” de todos os esforços que o governo venezuelano fez para enfrentar os desafios colocados por outras potências globais: “e o povo venezuelano triunfou”. 

Ele também criticou a fala do presidente do Chile, Gabriel Boric, que chamou o governo venezuelano de “ditadura”. Maduro afirmou que a fala é uma demonstração da “covardia do poder político do Chile”. Durante o discurso, o chefe do Executivo também homenageou as Forças Armadas e pediu que a América do Sul esteja em “alerta” para as ações dos Estados Unidos. 

O mandatário também reforçou a importância da articulação dos movimentos contra o crescimento de grupos de extrema direita que, de acordo com ele, fazem parte de um movimento “fascista”. 

“No mundo já há consciência sobre o perigo das correntes fascistas, alguns preferem uma linguagem moderada de chamar de extrema direita, de reacionária, nós chamamos pelo de nome: fascismo”, disse.  

Maduro disse que, na Venezuela, a líder da oposição, María Corina Machado, é a “representação do fascismo”. Ele ainda afirmou que a ultraliberal é “filha de Álvaro Uribe” e não foi capaz de mobilizar sua base no país, mesmo querendo dar um “golpe de Estado”. O presidente terminou seu discurso afirmando que é preciso “pegar em armas” contra o fascismo: “a Venezuela está se preparando”.

O presidente lembrou da nova rodada de sanções imposta pelos EUA contra oito funcionários do governo venezuelano nesta sexta. No encerramento do evento, ele condecorou os sancionados.

Resposta à Uribe

O ex-presidente da Colômbia Álvaro Uribe foi um dos assuntos do encerramento do festival. Neste sábado, o colombiano pediu que o governo de seu país promova uma intervenção militar na Venezuela para impor “novas eleições”. Em nota, o festival antifascista respondeu as declarações de Uribe e chamou o ex-presidente colombiano de “narcotraficante”.

O próprio presidente Gustavo Petro respondeu a fala de Uribe pedindo para que o setor político que apoia o ex-presidente “pare de pensar em matar nossos irmãos”.

Edição: Lucas Estanislau