"Assustado com esse crime bárbaro, contra pessoas pacíficas", disse o ministro do Desenvolvimento Agrário (MDS), Paulo Teixeira (PT), em entrevista exclusiva ao Brasil de Fato, após um ataque armado contra o Assentamento Olga Benario, do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), em Tremembé (SP), na noite dessa sexta-feira (10), que deixou três pessoas mortas e cinco feridas.
Segundo o ministro, a preocupação agora é com a segurança das famílias que vivem no assentamento, objeto de interesse do crime organizado. "Essa situação se deveu há uma tentativa de subtração de lotes pelo crime organizado. E nós tínhamos tirado o crime organizado de lá", declarou o ministro.
Teixeira informou que, após tomar conhecimento do fato, ligou "para o secretário de segurança pública de São Paulo, Guilherme Derrite, liguei para o secretário [Gilberto] Kassab do governador, já que o governador está de férias. E liguei também para o Nico [Osvaldo Nico Gonçalves], que é o secretário-executivo [de Segurança Pública de São Paulo]. E eles então vão chamar as delegacias especializadas para investigar e prender os responsáveis por esse crime bárbaro", declarou. "Eles foram muito é receptivos ao nosso pedido, prometerem, inclusive, mandar a polícia especializada para investigar e checar rapidamente a autoria desse crime bárbaro. Eu estou contando com a colaboração do estado de São Paulo", afirmou Teixeira.
O ministro também relatou que fez contato com o diretor-geral da Polícia Federal (PF), Andrei Rodrigues, para que a PF colabore com as investigações e que ajude a reforçar a segurança dos assentamentos, sobretudo do Assentamento Olga Benário.
"Esse crime é um crime condenável, inaceitável, inadmissível, e ele não vai, de forma nenhuma, constranger o programa de reforma agrária", finalizou o ministro, que ainda não havia conversado com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, até o momento da entrevista.
Em nota, o MST atribui o ataque desta sexta-feira à especulação imobiliária, que tem expandido empreendimentos na região. O ataque armado ao Acampamento Olga Benário resultou na morte de três pessoas. Gleison Barbosa de Carvalho, de 28 anos, e Valdir do Nascimento, 52 anos, morreram na hora. Denis Carvalho, de 29 anos, foi levado para o hospital com um tiro na cabeça e colocado em coma induzido, mas não resistiu.
Outras cinco pessoas foram levadas para o Hospital Regional de Taubaté e passaram por cirurgias para a retirada dos projéteis. Segundo a direção do MST, estão fora de perigo.
Em nota, a Polícia Civil de Taubaté informou que investiga o caso como homicídio, tentativa de homicídio e porte ilegal de arma de fogo de uso permitido. Ainda segundo o texto, um homem foi "abordado no local do ataque e autuado em flagrante por porte ilegal da arma".
"Proteção aos defensores de direitos humanos"
O Ministério dos Direitos Humanos e Cidadania (MDHC) divulgou nota na manhã deste sábado (11) sobre o ocorrido no Assentamento Olga Benário. No comunicado, o MDHC informou que está buscando mais informações sobre os fatos ocorridos para prestar assistência às vítimas, familiares e aos assentados.
"Temos o dever estatal de dar proteção integral às defensoras e aos defensores de direitos humanos. Neste sentido, acionaremos os órgãos de Estado responsáveis pela resolução de conflitos agrários e pela segurança pública para atuarmos de forma conjunta e coordenada", declarou a ministra Macaé Evaristo (PT), no comunicado.
Segundo o MDHC, no Assentamento Olga Benário não havia pessoas incluídas no Programa de Proteção aos Defensores de Direitos Humanos, Comunicadores e Ambientalistas (PPDDH), "ferramenta essencial para a proteção de pessoas, grupos e comunidades em risco em razão de sua atuação em defesa dos direitos humanos". A pasta pede ainda que qualquer ameaça seja comunicada ao PPDDH.
"O grave ataque contra o assentamento do MST e o assassinato de duas lideranças soma-se aos alertas anteriores para a urgência de fortalecimento das políticas de proteção aos defensores de direitos humanos que integrem as esferas federal e estadual, os sistemas de Justiça e de Segurança Pública e as redes de proteção, definindo as responsabilidades e o tipo de dinâmica e relacionamento para garantir a proteção das defensoras e dos defensores de direitos humanos", disse o ministério, em nota.
Texto atualizado às 18h11 para inclusão de nota da Polícia Civil de Taubaté
Edição: Nicolau Soares