A cerimônia de posse de Nicolás Maduro para o terceiro mandato presidencial na Venezuela, na última sexta-feira (10), após ter a vitória ratificada pelo Conselho Nacional Eleitoral (CNE) do país, reacendeu a escalada na relação diplomática entre Brasil e Venezuela.
A tensão entre os dois países começou depois que o Brasil não reconheceu o resultado do pleito e pediu a publicação dos resultados desagregados. No entanto, foi o veto brasileiro à entrada da Venezuela no Brics que azedou o clima.
Para Amanda Harumy, secretária-executiva da Organização Continental Latino-Americana e Caribenha de Estudantes (Oclae), é importante que o Brasil volte a estabelecer laços com a nação bolivariana.
"Nós somos povos irmãos, os nossos países estão conectados, e a gente precisa dar continuidade à nossa integração regional", pontuou a pesquisadora em entrevista para o Central do Brasil. A projeção de Amanda é que esta reaproximação "é essencial para um mundo de paz na América Latina, e também para o projeto de integração nacional do Brasil".
"Precisamos lembrar que o pronunciamento de alguns ex-presidentes e ex-chefes de Estado que direcionam ataques, e falam até mesmo em intervenção, é algo muito grave", pontuou a secretária do Oclae. "Nós não devemos perpetuar esse tensionamento na região, ao lembrar que vivemos em mundo de conflitos, guerras. Nós não devemos trazer essas disputas para a nossa região."
Objetivo do Maduro 3
Para Harumy, o papel deste terceiro mandato de Nicolás Maduro será o de cumprir objetivos já estabelecidos dentro do processo Constituinte do país "para avançar em um planejamento econômico, mas também para aprofundar a forma de participação social direta venezuelana, que são as comunas". Segundo a pesquisadora, "esse processo já vem sendo construindo politicamente desde o [ex-presidente Hugo] Chávez".
Este propósito já vem sendo visto nos últimos anos, por exemplo, em que "a participação política no orçamento do Estado também foi efetiva". Maduro anunciou que vai "aprofundar o processo de politização e de enraizamento da democracia venezuelana a partir das comunas", acrescenta.
Enfrentamento das sanções
Sobre as sanções que a Venezuela já enfrenta, e que podem proliferar ainda mais com a volta de Donald Trump à Casa Branca, Harumy diz que a falta de reconhecimento do governo de Maduro "aprofunda o isolamento da Venezuela, principalmente na questão econômica", em um país que já é sancionado desde 2017.
"Economicamente, eles já aprenderam a construir mecanismos para driblar essa situação econômica e social. Mas o isolamento político é muito ruim para o país", esclarece. Por seu papel dentro da América Latina, a pesquisadora destaca a importância regional de que as sanções impostas a ela sejam enfrentadas. "É um país importante na questão da soberania, tanto econômica quanto energética."
"Existe uma ambição por parte do país de ter novas relações com o mundo multipolar. Então, ao mesmo tempo que alguns países se afastam da Venezuela, outros se aproximam, como China, Rússia, Irã; países muito importantes para essa organização do mundo multipolar."
De um lado temos a representação da extrema-direita, representada por Donald Trump, e, na América do Sul, Javier Milei na Argentina e Jair Bolsonaro no Brasil, e, do outro lado, o processo de esquerda na Venezuela, "que fala de socialismo e revolução", aponta. Para a pesquisadora, a volta do governo trumpista tornará explícita uma "polarização ideológica" na política externa dos EUA.
"O Trump deixa clara a sua vontade de intervir na política latinoamericana. Precisamos estar atentos com os impactos dos republicanos na América Latina. Ainda mais fundamental é que os países progressistas e os países democráticos criem um cordão antifascista para frear o avanço da extrema-direita na região."
A entrevista completa está disponível na edição desta segunda-feira (13) do Central do Brasil, no canal do Brasil de Fato no YouTube.
Edição: Leandro Melito