Investigação

Justiça determina prisão de segundo suspeito de ataque a assentamento do MST em SP

Primeiro prisão foi efetuada no sábado, um dia após o ataque

Brasil de Fato | São Paulo (SP) |
Criminosos invadiram o assentamento com carros e motos, disparando contra as pessoas - Arquivo MST

A Justiça de São Paulo decretou, nesta segunda-feira (13), a prisão temporária do segundo suspeito de atacar o assentamento Olga Benário do Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST), em Tremembé, na região do Vale do Paraíba, no interior do estado. Ítalo Rodrigues da Silva, no entanto, é considerado foragido.

O ataque matou duas pessoas e deixou outras seis feridas. Dois homens e três mulheres foram levados para o Hospital Regional de Taubaté e o Pronto-Socorro de Tremembé, sendo que uma já foi liberada ainda no sábado (11).

No sábado (11), a polícia prendeu Antonio Martins Filho, conhecido como Nero do Piseiro, que é apontado como o mentor intelectual do crime. O delegado seccional de Taubaté, Marcos Ricardo Parra, afirmou que ele confessou o crime. “Não só confessou, como ele está indicando onde podem ser encontradas as demais pessoas [que participaram do ataque]”, disse em coletiva de imprensa. 

Nero do Piseiro foi identificado por vítimas que estão hospitalizadas e por testemunhas que presenciaram o ataque. “A gente trabalha na condição de certeza da participação dele”, afirmou o delegado Marcos Ricardo Parra. O caso foi registrado como homicídio, tentativa de homicídio e porte ilegal de arma.

De acordo com a Polícia Civil de São Paulo, a motivação para o crime teria sido um desentendimento sobre a negociação de um dos lotes do assentamento, onde 200 pessoas vivem legalmente. A linha de investigação está a cargo da Delegacia Especializada de Investigações Criminais (Deic) do município, que descartou motivação ideológica. 

“Com o assentamento fechado que é, eles têm ali um entendimento de existir concordância para a admissão de pessoas novas no local. Até onde a gente apurou, essa concordância não teria acontecido nessa comercialização do terreno”, contou o delegado.

“O homem e seu grupo estariam lá para, num primeiro momento, intimidar, mas como não intimidou e aconteceu, na verdade, uma repulsa da presença deles lá, a gente tem o nascimento de um confronto envolvendo arma branca e arma de fogo e levou a gente para esse resultado trágico de várias mortes e várias pessoas lesionadas”, disse.

Segundo o MST, o assentamento foi atacado por 10 homens, utilizando cinco carros e duas motos, por volta das 23h da sexta-feira (10). Em nota, o movimento disse que "o Assentamento Olga Benário enfrenta uma intensa disputa com a especulação imobiliária voltada para o turismo de lazer, devido à sua localização estratégica na região do Vale do Paraíba. Há anos, as famílias assentadas vêm sofrendo ameaças e coerções constantes”. Também afirmou que "diversas denúncias feitas aos órgãos estaduais e federais", mas que não resultaram em uma resposta efetiva do poder público.

Velório

Denis Carvalho, de 29 anos, que foi alvejado com tiros na cabeça, chegou a ficar em coma induzido, mas não resistiu aos ferimentos. Ele faleceu na tarde sábado (11).

Horas antes, Gleison Barbosa de Carvalho, de 28 anos, irmão de Dennis, e Valdir do Nascimento, 52 anos, foram veladas no sábado, na presença de amigos, familiares, lideranças do MST, políticos e ministros do governo Lula (PT). 

No local, a ministra Macaé Evaristo, do Ministério de Direitos Humanos e Cidadania, afirmou que o governo federal dará atenção aos assentamentos do MST em São Paulo, o que vem sendo cobrado publicamente por dirigentes do movimento.  

“Seguimos na luta porque a gente sabe que, em São Paulo, precisamos dar uma atenção muito especial, porque os nossos movimentos estão sob linha de fogo e linha de tiro. E o nosso povo não pode perecer por força dos algozes que são aqueles que acham que são donos das riquezas do nosso país”, disse a ministra em Tremembé.                                  

O ministro Paulo Teixeira, por sua vez, reiterou que aguarda o esclarecimento do crime. “O que a gente espera é que a polícia esclareça a autoria desse crime e o verdadeiro mandante desse crime, e que possa dar segurança a esses assentados que querem tocar a sua vida, querem produzir alimentos. Eles estavam dentro do assentamento, não estavam perturbando ninguém. Eles foram defender o lote”, disse. 

Edição: Nathallia Fonseca