O primeiro-ministro francês, o centrista François Bayrou propôs nesta terça-feira (14) renegociar a impopular reforma da Previdência do presidente Emmanuel Macron, em um gesto de aproximação com a oposição de esquerda para evitar uma rápida queda de seu governo.
O anúncio rompe uma linha vermelha do governo, que até agora rejeitava abrir a reforma previdenciária para discussão, apesar dos protestos massivos, da oposição dos principais sindicatos e sem votação no Parlamento. A sanção foi imposta por meio de decreto por Macron em 2023.
No entanto, a profunda crise política desde as eleições legislativas antecipadas de 2024 - com a recusa de Macron em nomear Lucie Castets como primeira-ministra após vitória da esquerda nas eleições, e a queda do primeiro nomeado, Michel Barnier -, além da situação econômica, com níveis de déficit e dívida pública acima dos limites da zona do euro, levaram Bayrou a dar esse passo, mirando "recuperar a estabilidade".
"Podemos buscar um novo caminho para a reforma, sem totens nem tabus, nem mesmo a idade de aposentadoria" – os famosos 64 anos – com a condição de não comprometer o "equilíbrio financeiro", anunciou Bayrou, de 73 anos, em sua Declaração de Política Geral perante o Parlamento.
Liderando um governo sem maioria, que reúne a aliança de centro-direita de Macron e o partido conservador Os Republicanos (LR), o objetivo de Bayrou é convencer os socialistas a não apoiarem uma moção de censura, como ocorreu com seu antecessor, e garantir uma sobrevivência política.
Os socialistas, que participaram das eleições legislativas dentro da coalizão Nova Frente Popular (NFP) com outros partidos de esquerda, fizeram campanha pela revogação da reforma da Previdência e haviam exigido de Bayrou, no mínimo, uma suspensão temporária da medida promulgada por Macron.
O primeiro-ministro rejeitou essa proposta, mas aceitou renegociar a reforma "com os interlocutores sociais" por três meses, a partir de sexta-feira (17). O objetivo é buscar uma alternativa ao aumento da idade de aposentadoria de 62 para 64 anos, que, segundo ele, deve respeitar o "equilíbrio financeiro" do país.
No entanto, o aliado histórico de Macron já advertiu que, se não houver "um acordo que seja equilibrado e mais justo", "a reforma atual continuará sendo aplicada".
"As contas não fecham", respondeu Boris Vallaud, porta-voz socialista na Assembleia Nacional - a casa dos deputados franceses - que celebrou as discussões, mas rejeitou a ideia de voltar "à lei anterior" caso não seja alcançado um acordo.
"Espada de Dâmocles" francesa
Vallaud não esclareceu se os socialistas apoiarão a moção de censura que os aliados da esquerda radical França Insubmissa (LFI) que fazem parte da aliança de esquerda, já anunciaram que farão.
Os ecologistas já confirmaram que apoiarão a moção após o discurso "vago" de Bayrou, nas palavras da líder parlamentar Cyrielle Chatelain.
O apoio de toda a oposição de esquerda e da extrema direita a uma moção de censura já provocou a queda, em dezembro do ano passado, do breve primeiro-ministro conservador Michel Barnier, que tentava aprovar sua proposta de orçamento para 2025.
Essa queda agravou a situação da França nos mercados, e o principal objetivo de Bayrou é evitar uma nova censura. Isto durante um cenário de uma dívida pública que ronda 112% do PIB e o governo projetando um déficit público de 5,4% do PIB em 2025.
"Essa dívida é uma espada de Dâmocles sobre nosso país e nosso modelo social", declarou o primeiro-ministro da segunda maior economia da União Europeia.
A extrema direita rejeitou, por enquanto, apoiar a moção de censura apresentada pela LFI, enquanto espera o projeto final de orçamento para 2025, cujo debate parlamentar será retomado nos próximos dias.
Ao contrário de Barnier, que, sem sucesso, buscou apoio da extrema direita de Marine Le Pen para tentar se manter no poder, Bayrou fez uma série de anúncios sociais, como o aumento dos gastos com saúde, para tentar convencer a esquerda.
Entre outros anúncios do primeiro-ministro francês, está uma reforma eleitoral que busca um modelo mais proporcional nas legislativas. A proposta foi rejeitada pelos aliados dos Republicanos, que consideram que isso criará uma "desordem política".
*Com AFP
Edição: Leandro Melito