Israel e o grupo palestino Hamas alcançaram, nesta quarta-feira (15) um acordo para cessar-fogo na Faixa de Gaza. Apesar do avanço, o presidente da Federação Árabe Palestina do Brasil (Fepal), Ualid Rabah, afirmou que “medidas práticas” precisam resultar da trégua, entre elas, o reconhecimento do Estado palestino.
Em entrevista ao Brasil de Fato, o representante da maior organização palestina no Brasil, avaliou o acordo que, entre outros pontos, deve permitir a troca de 33 reféns israelenses mantidos pelo Hamas por mil prisioneiros palestinos detidos em Israel.
“Para o reconhecimento do Estado palestino, os Estados Unidos devem levantar seu veto na ONU; Israel deve retirar suas forças armadas e colonos de todos os territórios palestinos ocupados, incluindo a Cisjordânia; Gaza deve ser reconstruída às custas daqueles que provocaram sua destruição; a administração de Gaza deve ser exclusivamente dos palestinos sob o guarda-chuva da OLP (Organização para a Libertação da Palestina), com eleições em todos os níveis; e os mais de 18 mil detidos palestinos por Israel devem ser libertados”, listou.
Na análise de Rabah, apesar do acordo ser um “encaminhamento da situação”, sem tais condicionantes, este é “apenas um cessar-fogo antes do próximo genocídio”. “De 2009 até o momento, quantas tréguas já houveram em Gaza, sem que a situação se alterasse?”, questionou ao afirmar que tais decisões nunca modificaram o domínio israelense sobre a Palestina.
Embora o acordo tenha sido alcançado, o presidente da Fepal afirma que “Israel atingiu seus objetivos” e recorda o número de vítimas feitas pelo genocídio cometido por Israel. Segundo a organização, são mais de 48 mil mortos pelos bombardeios e ataques, além dos mais de 11 mil mortos sob os escombros, totalizando ao menos 59 mil pessoas.
De acordo com dados do Ministério da Saúde de Gaza, que a ONU considera confiáveis, os ataques israelenses vitimaram pelo menos 46.707 pessoas, a maioria civis, entre eles mulheres e crianças.
“2,7% da demografia de Gaza está exterminada. Comparando com a Europa durante a Segunda Guerra Mundial, seria o equivalente a 20 milhões de pessoas. 90% de Gaza está destruída; o PIB (Produto Interno Bruto) caiu 82%; 80% da população de Gaza está desempregada; há quase 120 mil feridos, todos eles graves ou mutilados; todos os hospitais, fábricas de alimentos e terras foram destruídas”, afirmou Rabah. Contudo, ele aponta que Israel “não alcançou a fuga em massa dos palestinos”.
Diante das perdas e grave crise humanitária que assola a Faixa de Gaza, “se os criminosos de guerra que provocaram tudo isso não forem levados ao banco dos réus, será uma vitória para Israel”, avalia, referindo-se ao mandado de prisão emitido pelo Tribunal Penal Internacional (TPI) contra o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu e seu ex-ministro da Defesa, Yoav Gallant. “O mandado de prisão expedido deve ser cumprido”, instou ao Brasil de Fato.
Na avaliação de Rabah, o cessar-fogo deve influenciar no mandado de prisão contra Netanyahu: “Os criminosos de guerra nazistas após a Segunda Guerra Mundial não deixaram de ser buscados. Pelo contrário, após a guerra, houve o Tribunal de Nuremberg. Por isso, a Corte Internacional e Justiça devem continuar apurando a responsabilidade de Israel, dos Estados Unidos e de outros atores internacionais neste genocídio”, completou em referência ao maior apoiador bélico de Israel durante esse período, o governo do presidente estadunidense, Joe Biden.
Edição: Leandro Melito