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Há 40 anos, eleição indireta de Tancredo Neves explica espírito golpista vivo entre militares

Em 15 de janeiro de 1985, Brasil tinha primeiro presidente civil eleito após ditadura, mas ainda com influência militar

Ouça o áudio:

Registro de Tancredo Neves com os médicos no Hospital de Base, em Brasília; político viria a falecer, deixando posto para José Sarney, o vice - Gervásio Baptista/Divulgação

Após 21 anos de Ditadura Militar, a chegada de um civil à presidência do Brasil, em 1985, pode ser considerada como o marco final do regime no país. No entanto, a vitória democrática recebe algumas ressalvas.

A começar pelo fato que a eleição foi realizada sem votação popular, ignorando o movimento Diretas Já, que já estava constituído na época, mas foi rejeitado na Câmara dos Deputados. De modo que Tancredo Neves superou Paulo Maluf numa escolha feita apenas por parlamentares. 

A votação aconteceu exatamente 40 anos atrás, em 15 de janeiro de 1985. A posse, marcada para março daquele ano não aconteceu como prevista, afinal o presidente eleito morreu, deixando o cargo para o vice, um notório apoiador do regime militar, José Sarney.


O abraço de Tancredo Neves e José Sarney após eleição da chapa, em 1985 / Foto: Gervásio Baptista/Divulgação

Para o historiador Moacir Assunção, não é possível afirmar se o governo de Tancredo Neves teria sido diferente do exercido pelo político maranhense, afinal o resultado que levou esta chapa ao poder foi costurado nos bastidores para garantir a anistia desejada aos militares.

“Tancredo Neves era um conciliador, era um homem de centro-direita, um conciliador aceito pelos militares para fazer essa transição, exatamente porque havia a compreensão de que ele não faria uma transição muito brusca, ou seja, ele não perseguiria militares que cometeram todos aqueles crimes que a gente conhece”, afirma o historiador em entrevista ao programa Bem Viver desta quarta-feira (15).

“[Foi] uma negociação das elites dos setores mais poderosos, que estava embutida a promessa de que os militares que cometeram crimes não seriam punidos. O principal deles, Carlos Alberto Ustra, homenageado pelo ex-presidente Bolsonaro na famosa sessão do impeachment da presidenta Dilma [Rousseff]”, afirma Assunção, que atua como professor na Universidade São Judas, em São Paulo (SP).

Mestre em História Social pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), o professor lembra que, de fato, o trato foi cumprido, e o Brasil viveu e ainda vive a “anistia ampla, geral e irrestrita". 

“Detalhe que a esquerda já não tinha mais quem anistiar, porque os que combateram efetivamente já tinham morrido. E a direita tinha vários, muitos deles retratados agora no filme Ainda Estou Aqui, o belíssimo filme do Walter Salles com a Fernandes Torres, que assisti três vezes e não me canso de me surpreender.”

Para o professor, esse fato de 40 anos atrás se relaciona com a eleição de Jair Bolsonaro (PL), em 2018, e as tentativas de golpe, que tiveram como marco o 8 de janeiro, com envolvimento de políticos e militares.

“Persiste aquela história da Lei de Segurança Nacional, aquela mentalidade do ‘nós contra eles’, dos militares como superiores aos civis, do enfrentamento ao socialismo, ao comunismo. Isso está presente até nas polícias militares, a gente pode constatar de uma maneira geral”.

"Os militares, como eles não foram punidos lá atrás, se sentem meio livres. Veja que o antigo comandante da Marinha [almirante Almir Garnier] colocou suas tropas à disposição do [ex-]presidente [Jair Bolsonaro]", lembra o professor se referindo a articulação golpista no final de 2022 que começou a ser revelada apenas em 2024.

“A gente ainda vê, passados 40 anos, um pensamento enraizado de golpear uma autoridade civil que você não gosta por alguma razão, porque é de centro-esquerda, digamos assim, afinal, a gente não pode dizer que o PT hoje seja um partido de esquerda.

Moacir Assunção é autor dos livros Luiz Carlos Prestes: um revolucionário brasileiro; Nem heróis, nem vilões, sobre a Guerra do Paraguai, e Os homens que mataram o facínora: a história dos grandes inimigos de Lampião, este último finalista do Prêmio jabuti de 2008.

Portanto, para o professor, esta mentalidade golpista que ele cita obriga que o país como um todo esteja constantemente mobilizado para não permitir uma volta da ditadura.

"Como não houve [a punição] e essa coisa ainda persiste, então a gente precisa ficar, a sociedade civil tem obrigação de ficar muito vigilante com essas tentativas que ainda estão na cabeça de alguns. Ainda bem que pelo menos é a minoria dos militares", conclui.


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Edição: Geisa Marques