O presidente Nicolás Maduro fez nesta quarta-feira (15) a sua tradicional mensagem anual à nação e celebrou o acordo de cessar-fogo entre o Hamas e o governo de Israel, na Faixa da Gaza. De acordo com o chefe do Executivo venezuelano, esse é um "passo importante" na construção de "mudanças na sociedade".
"Começaram grandes mudanças na sociedade. Ganhamos com valentia. Que a humanidade inteira se junte para que se cumpra esse acordo e para que busquemos o entendimento e o respeito ao direito internacional, à vida e à paz", afirmou Maduro durante o discurso.
O presidente reforçou também o seu projeto de promover uma reforma constitucional para "ampliar a democracia". A proposta já tinha sido levantada por ele em dezembro de 2024 e durante seu discurso de posse em 10 de janeiro. Agora, no entanto, Maduro não só deu mais detalhes sobre como será feito esse processo, como também assinou um decreto para criar uma secretaria-executiva que vai discutir a reforma.
De acordo com o chefe do Executivo, a comissão será formada pela vice-presidente, Delcy Rodríguez, a primeira-dama, Cilia Flores, e o deputado Hermann Escarrá. Ele pediu ainda que o presidente da Assembleia Constituinte seja o procurador-geral, Tarek William Saab. Maduro elogiou a atuação do chefe do Ministério Público, que chamou de "grande defensor dos direitos humanos".
Segundo o chavista, o objetivo da reforma é "ampliar e reforçar a democracia", além de estabelecer "bases mais claras" para definir um "perfil da sociedade venezuelana".
"Precisamos buscar ampliar a democracia, a construção de um novo Estado, definir um perfil de sociedade que queremos do ponto de vista cultural, institucional e deixar as bases mais claras da nova economia autossustentável, não-dependente, diversificada e produtora de riquezas que satisfaçam as necessidades do povo da Venezuela", disse.
Posse e vitória eleitoral
Maduro também falou sobre a vitória nas eleições e a posse no último 10 de janeiro. Para ele, a cerimônia foi "emocionante" e marcou um ponto de inflexão para a América do Sul e para o progressismo na região. Ele também voltou a dizer que a posse era o símbolo da "derrota do fascismo", fazendo referência à oposição de extrema direita liderada pela ultraliberal María Corina Machado e pelo ex-candidato Edmundo González Urrutia.
"Derrotamos o fascismo e essa vitória pertence a toda a Venezuela. Os planos de caos não conseguiram nos levar a violência. Em 10 de janeiro, aconteceu o que tinha que acontecer: em santa paz, assumiu o governo democrático para 2025, de um homem do povo. O representante do socialismo cristão e bolivariano jurou e começou um novo período como presidente e eu assumi para o bem da América Latina", afirmou.
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A cerimônia foi marcada pela tensão e disputa da oposição em torno do evento. Edmundo González Urrutia questionou os resultados e afirmou que estaria na Venezuela na última sexta para tomar posse, o que não ocorreu. Ele é alvo de um mandado de prisão. Maduro já havia criticado essa conduta em seu discurso de posse e falou sobre a interferência dos Estados Unidos na economia venezuelana. Também disse que Washington foi derrotada ao tentar "atacar" o país.
Maduro reforçou o apoio popular que recebeu na posse e disse que a cerimônia foi a consagração da "confluência social-militar, vencendo todas as mentiras".
Em seu discurso, o presidente também falou sobre as tentativas de desestabilização e ataques que o governo enfrentou nos últimos anos. Citou a prisão dos mercenários e os pedidos de golpe de Estado feitos pelos ex-presidentes da Colômbia, Álvaro Uribe e Iván Duque. Aproveitou a oportunidade para fazer um novo aceno aos militares: "Por isso tem tanto valor nossas forças militares", disse.
Democracia
Como de costume, Maduro também elogiou o processo democrático de seu governo e afirmou que a Venezuela é o país com mais eleições no mundo. Segundo ele, só em 2025 serão 10 eleições, entre legislativas, executivas e consultas comunais. A meta é que a décima eleição seja o referendo da reforma constitucional. O presidente afirmou também que pretende ter uma consulta sobre temas ligados a juventude e cultura, mas não explicou como seria feito isso.
"Se alguém quer falar de democracia, falem da Venezuela. Temos a democracia mais poderosa do continente e talvez do mundo. Assediada, atacada, mas funcionando e ativa. Esse ano teremos 10 eleições. Também temos o objetivo de fazer uma consulta para projetos da juventude e da cultura", afirmou.
Economia em crescimento
O chefe do Executivo venezuelano enfatizou o que foi o lema de seu governo em 2024: crescer mesmo com sanções. De acordo com Maduro, o país conseguiu superar a meta de crescer o PIB em mais de 9% ao longo do ano, em um movimento de "plena recuperação" e estabilização da economia.
O governo afirma que a alta no PIB foi puxada pela mineração (21%) e construção (25,9%). Maduro indicou que o comércio cresceu 6,2% e a manufatura, 4,6%. O setor petroleiro também foi destacado, já que apresentou crescimento de 14% e, de acordo com o presidente, conseguiu atingir a produção de mais de 1 milhão de barris por dia. A meta do governo era terminar o ano em até 1,5 milhão e fechar 2025 em até 2 milhões.
Maduro também falou sobre o controle da alta dos preços. O Banco Central da Venezuela ainda não divulgou os dados fechados de 2024, mas o presidente afirmou que a inflação anualizada terminou 2024 em 48%. Apesar de permanecer como a segunda mais alta da América do Sul (atrás apenas da Argentina), o resultado é uma conquista em comparação com os 130.000% alcançados pela inflação acumulada em 12 meses em 2018.
Segundo Maduro, todos esses resultados foram conquistados a partir de uma atividade sustentada em uma "política econômica produtiva".
Outra questão importante levantada pelo governo foi a produção de alimentos. Em seu discurso, o presidente afirmou que hoje não há desabastecimento no país e que 85% dos produtos nos mercados venezuelanos são produzidos no próprio país. Maduro afirmou também que o turismo cresceu 94% e que o crédito no país aumentou 72%.
Esses resultados, de acordo com ele, apresentaram uma economia que possibilita investir em políticas sociais. A principal meta nesse sentido é construir 400 mil casas populares neste ano.
Ele prometeu aumentar os rendimentos dos trabalhadores e os investimentos públicos também com todas essas conquistas. "Mesmo com sanções, estamos preparados como povo para o que vier", concluiu.
Edição: Nicolau Soares