Crise política

Após denúncias de interferência russa, Romênia realizará novas eleições em maio

Kremlin nega as acusações de que teria interferido nas eleições presidenciais da Romênia

Brasil de Fato | São Paulo (SP) |
Nova eleição presidencial na Romênia será realizada em 4 e 18 de maio, primeiro e segundo turno respectivamente - DANIEL MIHAILESCU/AFP

O governo da Romênia anunciou, nesta quinta-feira (16), que novas eleições presidenciais no país serão realizadas em maio, após o cancelamento do pleito anterior, marcado por denúncias de interferência da Rússia por meio do aplicativo TikTok. O país faz parte da União Europeia (UE) e da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), além de ser fronteiriço com a Ucrânia. 

A Rússia nega as acusações de que teria interferido nas eleições presidenciais da Romênia. “Não interferimos nas eleições de outros países, particularmente na Romênia, nem pretendíamos isso”, declarou o porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, a jornalistas no final de novembro.

"A legislação que define a data para a eleição presidencial de 2025 foi aprovada", disse o porta-voz do governo Mihai Constantin, confirmando a proposta de realizar um primeiro turno em 4 de maio e um segundo em 18 do mesmo mês.

A repetição da eleição presidencial foi exigida pela população romena em protestos. Dezenas de milhares de pessoas realizaram um ato na capital Bucareste, no último domingo (12), exigindo que a eleição presidencial fosse cancelada.

Na nova votação, Crin Antonescu, ex-presidente do partido liberal, de 65 anos, será um dos candidatos. O político foi escolhido por quatro forças políticas pró-europeias após um acordo em dezembro passado para nomear um candidato único para as próximas eleições presidenciais.

A coalizão também objetiva manter a extrema direita fora do governo. Sua ação foi tomada após Calin Georgescu, candidato pró-Rússia e contrário à Otan, alcançar 22,95% dos votos contra a candidata Elena Lasconi, que teve 19,2% no primeiro turno, em 24 de novembro de 2024. 

Os dois presidenciáveis deveriam se enfrentar no segundo turno, em 8 de dezembro, que não aconteceu pois o Tribunal Constitucional revogou a eleição em 6 de dezembro.

Até maio, Klaus Iohannis se mantém como o presidente da Romênia, e Marcel Ciolacu, líder do partido governista Social Democrata, ocupa o cargo de primeiro-ministro. 

Após o anúncio da nova data, Ciolacu afirmou que mudanças foram introduzidas “para garantir que as regras sejam as mesmas para todos os candidatos, evitando a prática que tivemos nas últimas eleições, onde um instrumento de mídia social favoreceu um concorrente em particular”, sem mencionar Georgescu. 

Denúncias de interferência russa e TikTok

A Romênia está em crise desde que as eleições presidenciais de novembro foram canceladas - uma medida extremamente incomum na Europa - depois que Georgescu, que era praticamente desconhecido antes da eleição, obteve uma vitória surpreendente no primeiro turno. 

O Tribunal Constitucional da Romênia revogou a eleição, justificando que o primeiro turno da votação havia sido “prejudicado por múltiplas irregularidades e violações da legislação eleitoral”. 

Documentos de inteligência do país listaram ataques cibernéticos, “ações híbridas russas agressivas” e promoção maciça de Georgescu nas mídias sociais no período que antecedeu a votação. Para as autoridades romenas, Georgescu teria recebido apoio ilícito por meio da plataforma TikTok.

Por sua vez, o político que tem uma plataforma política de críticas à Otan e é favorável à Rússia, contestou a anulação, acusando as autoridades do país de “um golpe de Estado formalizado”. 

Com 62 anos, o ex-funcionário de alto escalão e antigo admirador do presidente russo Vladimir Putin, negou que estivesse ligado a Moscou.

Georgescu apresentou diversos recursos legais contra a anulação, inclusive perante o Tribunal Europeu de Direitos Humanos (TEDH). Contudo, não conseguiu reverter a anulação e novas eleições serão realizadas no país. 

*Com AFP e TASS
 

Edição: Leandro Melito