Uma pesquisa da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) da Bahia revela que o Bolsa Família tem potencial para reduzir mortes de pacientes com transtornos mentais. Desenvolvido por pesquisadores e pesquisadoras do Centro de Integração de Dados e Conhecimentos para Saúde, (Cidacs/Fiocruz Bahia), o estudo acompanhou cerca de 70 mil pessoas inscritas no programa e que passaram por hospitalização por transtorno mental entre 2008 e 2015.
Com base em dados socioeconômicos e de saúde, foram feitas comparações com grupos que também passaram por internação, mas não eram contemplados pelo programa de transferência de renda. Os resultados mostram que o Bolsa Família promoveu uma redução de 7% na mortalidade geral e de 11% na mortalidade por causas naturais, como doenças cardiovasculares, cânceres e doenças respiratórias.
A pesquisa ressalta que morbidade por múltiplos fatores é uma realidade frequente entre pessoas com transtornos psiquiátricos. Essa população costuma enfrentar condições médicas crônicas diversas simultaneamente. Entre os exemplos estão diabetes, hepatite e obesidade. Para completar o cenário de risco, o acesso à assistência médica é comumente precário, principalmente em países de baixa e média renda (LMICs na sigla em inglês).
“Essas pessoas enfrentam inúmeras barreiras para acessar os serviços de saúde, como dificuldades de transporte, longas listas de espera, barreiras linguísticas e culturais, e experiências de estigma e discriminação. A atenção inadequada, predominante em LMICs, está intimamente ligada a resultados ruins de saúde física e aumento da mortalidade”, aponta o estudo.
O impacto positivo do Bolsa Família na redução da mortalidade foi especialmente notável entre mulheres, com uma queda de 25% dos óbitos por causas gerais e 27% por causas naturais. O público jovem (10 a 24 anos) também se beneficiou, com diminuição de 21% na mortalidade geral e expressivos 44% por causas naturais.
Além disso, a pesquisa avaliou o potencial do programa em evitar mortes. Os dados indicam que, se todas as pessoas hospitalizadas por transtornos psiquiátricos tivessem recebido o benefício, pelo menos 4% das mortes teriam sido evitadas. O dado reforça a importância de programas de redução da pobreza para grupos populacionais de alto risco.
O estudo faz um alerta sobre a urgência de se considerar estratégias intersetoriais que contribuam para a prevenção da mortalidade de pacientes após hospitalização psiquiátrica. “A pobreza contribui para que esses indivíduos experimentem mais comportamentos de risco e recebam menos assistência médica”.
Edição: Nathallia Fonseca