Mas já?

Israel acusa Hamas de exigir concessões e adia assinatura de cessar-fogo; grupo palestino nega

Em racha por apoio ao acordo, governo Netanyahu afirmou que não se reunirá para aprovar trégua

Brasil de Fato | São Paulo (SP) |
Benjamin Netanyahu foi acusado de prolongar guerra contra o Hamas para permanecer no poder e escapar de processos por corrupção - WOJTEK RADWANSKI/AFP

Em menos de 24 horas após o anúncio do cessar-fogo entre Israel e o grupo palestino Hamas na Faixa de Gaza, o acordo, que deveria entrar em vigor no próximo domingo (19), já está sendo colocado em xeque pelo governo do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu.

Segundo a imprensa israelense, Netanyahu acusou o Hamas nesta quinta-feira (16) de provocar "uma crise de último minuto" por supostamente ter desistido de alguns pontos do acordo de trégua.

"O Hamas não cumpriu partes do acordo alcançado com os mediadores e Israel em uma tentativa de obter concessões de último minuto", disse o gabinete do primeiro-ministro em comunicado.

Diante da acusação, Netanyahu informou que seu gabinete “não se reunirá [para aprovar o acordo] até que os mediadores tenham notificado Israel que o Hamas aceitou todos os elementos do acordo", acrescentou o texto. 

O Conselho de Ministros de Israel deveria se reunir nesta quinta para avaliar o acordo e aprová-lo, apesar das diferenças internas.

O comunicado seria o primeiro posicionamento oficial do governo israelense sobre o acordo, que prevê, entre outros pontos, a troca de 33 reféns mantidos sob o Hamas por mil prisioneiros palestinos. O acordo foi anunciado pelos mediadores Estados Unidos, Egito e Catar, na última quarta-feira (15). 

O Hamas, por sua vez, negou as acusações. Seu principal líder, Sami Abu Zuhri, declarou que as afirmações de Netanyahu "não têm fundamentos" e que o grupo mantém o acordo anunciado. 

Racha no governo Netanyahu 

Benjamin Netanyahu vem sendo pressionado há meses por aliados políticos e pelas famílias dos reféns para acabar com a guerra contra o Hamas na Faixa de Gaza. 

Desde o ataque do movimento palestino em território israelense em 7 de outubro de 2023, Netanyahu foi duramente criticado por não ter conseguido impedir o ataque e por não ter feito o suficiente para libertar todos os reféns.

Neste contexto, cerca de 800 pais de soldados que lutam em Gaza lhe enviaram uma carta no início deste mês dizendo que não podiam mais “permitir que continuasse a sacrificar” seus filhos “como bucha de canhão”. Mais de 400 soldados foram mortos no território palestino desde o início da guerra.

O governante de extrema direita também foi acusado de prolongar a guerra para permanecer no poder e escapar de processos por corrupção.

Em somatória, mesmo antes da finalização do acordo, na última terça-feira (14), o acordo para trégua na Faixa de Gaza foi rejeitado por Itamar Ben-Gvir, ministro da Segurança Nacional de Israel. 

O membro do governo Netanyahu classificou a resolução como “terrível” e alegou que “conhecia bem os seus detalhes”, mesmo antes de sua publicação. 

Referindo-se à troca de prisioneiros palestinos por reféns israelenses, Ben-Gvir opinou que o acordo, “inclui a libertação de centenas de terroristas assassinos e regresso de habitantes de Gaza".

Ben-Gvir pediu reforço ao ministro das Finanças de Israel, Bezalel Smotrich contra “o terrível acordo”, alertando que, caso fosse aprovado, ambos apresentariam sua renúncia ao governo. Apesar da ameaça, nenhum dos dois pronunciou-se ainda.

Israel intensifica ataques antes do cessar-fogo

O Ministério da Saúde de Gaza disse nesta quinta-feira (16) que pelo menos 81 pessoas foram mortas no território palestino nas últimas 24 horas. O acordo de cessar-fogo deve entrar em vigor no próximo domingo (19), se aprovado pelo governo israelense. 

Já a Defesa Civil de Gaza contabilizou 73 mortos e centenas de feridos. "Desde que o acordo de cessar-fogo foi anunciado, as forças da ocupação israelense mataram 73 pessoas, incluindo 20 crianças e 25 mulheres", disse à agência AFP o porta-voz do órgão, Mahmud Basal, acrescentando que outras 230 pessoas ficaram feridas em "bombardeios que continuam", um dia depois do anúncio.

Segundo os números do governo de Gaza, os últimos ataques elevam o número total de mortos para 46.788 em mais de 15 meses de combates. No total, 110.453 pessoas foram feridas na Faixa de Gaza desde o início do genocídio. 

*Com AFP
 

Edição: Lucas Estanislau