Mobilização

Manifestantes protestam contra o aumento da tarifa em SP pela terceira vez: 'É abusivo'

O preço da passagem de trem e metrô aumentou para R$ 5,20; o da passagem de ônibus para R$ 5

Brasil de Fato | São Paulo (SP) |
Mesmo com chuva, o ato reuniu cerca de 300 manifestantes que pediram por passe livre e melhorias no transporte público - Caroline Oliveira/Brasil de Fato

Com receio de ir de ônibus e se atrasar, a diarista Fernanda Souza escolheu o metrô para se locomover até o local do terceiro ato contra o aumento da tarifa do transporte público em São Paulo, realizado no fim da tarde desta quinta-feita (16), convocado pelo Movimento Passe Livre (MPL). Todos os dias, Souza usa ônibus para chegar à casa dos seus clientes, "nos quatro cantos de São Paulo", como disse, e está acostumada com os atrasos e outros problemas dos coletivos que rodam pela capital paulista.

"Eu tô indignada com o transporte público, porque de R$ 4,40 aumentou para R$ 5,00 e tá sucateado. No meio do caminho, os ônibus quebram. Toda vez que eu vou levantar, às 6 horas da manhã, já levanto no desespero que eu vou pegar o ônibus cheio, se é que eu vou conseguir embarcar", lamenta. 

Na capital, o preço da passagem do transporte sobre trilhos (metrô e trens) aumentou de R$ 5 para R$ 5,20, e o da passagem de ônibus de R$ 4,40 para R$ 5, conforme anunciado em 26 de dezembro. O reajuste de 13,6% da taxa cobrada para passar pela catraca do ônibus é o maior registrado na capital paulista nos últimos dez anos. A prefeitura, no entanto, afirma que o aumento está abaixo da inflação acumulada desde o último reajuste feito em 2020, em torno de 32%.

O MPL de São Paulo argumenta que a subida do preço vai na contramão do avanço do debate sobre o direito à cidade e de um cenário no país onde 118 municípios têm algum tipo de tarifa zero.

Para Souza, o reajuste não condiz com a qualidade do serviço oferecido aos usuários. "O prefeito da vez foi reeleito e, ao invés dele melhorar de acordo com o reajuste, ele só reajustou e não melhorou nada", reclama. 

O professor Leonardo Borghi lembra que o constante aumento das passagens tem como consequência a limitação do acesso à cidade. "O preço das passagens está constantemente aumentando. Isso não acontece com salário dos trabalhadores, das trabalhadoras, estudantes e filhos de trabalhadores", ressalta.


Nos cartazes e faixas, manifestantes fazem críticas ao prefeito, Ricardo Nunes (MDB) e ao governador, Tarcísio de Freitas (Republicanos) / Lucas Martins (@lucasport01)

Mesmo com chuva, o ato reuniu cerca de 300 pessoas, que seguiram em caminhada entoando as palavras de ordem "Só vai mudar quando povo controlar. Tarifa zero quando? Tarifa zero já!". 

"Acreditamos que é um aumento abusivo da tarifa não só do coletivo como também da ferrovia e metroviário", afirma o motorista de ônibus Carlos Augusto, conhecido como Carlão dos Condutores, que também atua como presidente do Instituto dos Trabalhadores em Transporte Rodoviário do Estado de São Paulo. Ele trabalha como motorista há 32 anos e avalia a medida anunciada pela prefeitura como retrocesso.

"Porque, hoje, o empresariado, como o poder público, se preocupa com a coisa, não se preocupa com o profissional e muito menos com o usuário. Se compra carros caros, mas o atendimento é péssimo. Tivemos uma pandemia, a nossa categoria foi sacrificada, a população também foi sacrificada e a redução da frota, que houve na pandemia, não retornou até hoje", denuncia.

Os manifestantes se reuniram em frente ao Theatro Municipal e seguiram em direção à praça da República. O ato terminou diante da prefeitura, na região central da cidade. O trajeto foi acompanhado por forte aparato policial. Alguns policiais militares usaram celulares para filmar a manifestação.

O grupo, formando, majoritariamente, por jovens e estudantes, carregava faixas com críticas ao prefeito Ricardo Nunes (MDB) e ao governador do estado, Tarcísio de Freitas (Republicanos), e pedindo a implementação do passe livre. Dois representantes da Defensoria Pública do Estado de São Paulo acompanharam a caminhada. O mandato da vereadora Keit Lima (Psol) também enviou uma advogada criminalista para acompanhar os manifestantes e prestar apoio, caso fosse necessário.


Acompanhados de policiais, os manifestantes caminharam até a prefeitura, onde encerraram o ato / Caroline Oliveira/Brasil de Fato

Outros atos

Este não é o primeiro ato desde que o aumento da tarifa do transporte foi anunciado, ainda em 26 de dezembro do ano passado, e implementado, em 6 de janeiro. No dia 9, o MPL realizou um em frente à Prefeitura, no Viaduto do Chá. Na última terça-feira (14), a União Estadual dos Estudantes (UEE) convocou o segundo ato.

A entidade estudantil também esteve presente na manifestação desta quinta. Em nota, a UEE afirmou que "o aumento da passagem nos ônibus municipais da capital representa o maior aumento da história enquanto a qualidade segue a mesma há mais de uma década em muitas linhas".

Ação na Justiça 

Uma ação, protocolada por parlamentares do Psol, chegou a tramitar no Tribunal de Justiça de São Paulo (TJ-SP) pedindo a suspensão do aumento da tarifa, mas foi derrubada.  

O vereador Celso Giannazi, o deputado estadual Carlos Giannazi e a deputada federal Luciene Cavalcante acusaram a gestão Ricardo Nunes de promover estelionato eleitoral, uma vez que o emedebista afirmou que não haveria o reajuste da tarifa durante a sua campanha à reeleição, no ano passado.  

Os parlamentares também apontaram irregularidades e falta de participação popular na reunião do Conselho Municipal de Trânsito e Transporte (CMTT), onde o aumento foi definido, no final do ano passado. 

O juiz Bruno Luiz Cassiolato, no entanto, entendeu que "à luz da farta documentação apresentada pelo requerido [a prefeitura]", não havia "razões para acolhimento do pedido" do Psol.

Edição: Nicolau Soares