Imperialismo

Marco Rubio diz que EUA podem recolocar Cuba em lista de países que patrocinam terrorismo

Retirada de país caribenho da lista foi anunciada nos últimos dias da gestão democrata de Joe Biden

Brasil de Fato | Havana (Cuba) |
Marco Rubio, de posições extremistas sobre políticas de imigração e guerras, é o próximo secretário de Estado do governo dos EUA, cargo mais importante do presidente e vice. - KEVIN DIETSCHGETTY/IMAGES NORTH AMERICA/Getty Images via AFP

O senador republicano Marco Rubio, futuro secretário de Estado dos EUA no governo de Donald Trump, afirmou na quarta-feira (15) que a decisão de retirar Cuba da lita de Estados patrocinadores do terrorismo pode ser revertida pela nova administração do país.

“Não tenho nenhuma dúvida de que (Cuba) cumpre todos os requisitos para ser considerada um Estado patrocinador do terrorismo”, afirmou na quarta-feira Marco Rubio, diante da Comissão de Relações Exteriores do Senado dos Estados Unidos para sua audiência de confirmação como secretário de Estado. 

A declaração foi feita apenas um dia depois de o presidente Joe Biden anunciar a retirada de Cuba da lista de “Países Patrocinadores do Terrorismo”. “Nada do que o governo Biden concordou nas últimas 12 a 18 horas vincula o próximo governo, que começa na segunda-feira”, afirmou.

Rubio afirmou que o governo cubano mantém "relações amistosas com o Hamas e o Hezbollah", e fortes laços com o Irã, além de “abrigar estações de espionagem de dois países hostis aos Estados Unidos". Durante as quase cinco horas de audiência, Rubio afirmou que os Estados Unidos devem começar a colocar seus “interesses nacionais fundamentais acima de tudo”.

Indicado por Donald Trump para o cargo de secretário de Estado, Rubio - de 53 anos - integra há 14 anos o Comitê de Relações Exteriores do Senado, órgão que o interrogou. Senador pela Flórida, Rúbio é conhecido por suas posições de extrema direita e intervencionistas no exterior. 

Protestos

Em várias ocasiões, a audiência foi interrompida por manifestantes que protestavam contra sua indicação.

Apenas 25 minutos depois de iniciada a audiência, a sessão foi interrompida pelo primeiro manifestante que protestou contra as “guerras eternas”. Enquanto a polícia o levava fora, ouve-se que ele se referiu a Rubio como “Little Marco”, o mesmo apelido depreciativo com o qual Trump o chamou na campanha de 2016. 

“As sanções de Marco Rubio estão matando crianças na Nicarágua, em Cuba e na Venezuela”, interrompeu em espanhol uma mulher que foi rapidamente retirada do local. “Eu recebo manifestantes bilíngues”, ironizou Rubio ao comitê após o incidente. 

Novas sanções contra a Venezuela 

Rubio disse que o governo Biden “se deixou enganar”, expressou sua “profunda discordância” com as negociações entre os EUA e a Venezuela e afirmou que o país é governado "por uma organização de tráfico de drogas”. O futuro secretário de Estado acusou Maduro de “usar fluxos migratórios para obter concessões”, ao mesmo tempo em que afirmou que “as eleições presidenciais realizadas na Venezuela foram completamente fraudulentas”.

Rubio ressaltou que o alívio das sanções contra a Venezuela deveria ser reconsiderado. “Agora eles têm licenças gerais, onde empresas como a Chevron estão despejando bilhões de dólares nos cofres do regime, e o regime não cumpriu nenhuma das promessas que fez. Portanto, tudo isso precisa ser reconsiderado”.

Também garantiu que um dos principais problemas para os EUA seria a “forte presença da Rússia e do Irã na Venezuela”, que está permitindo que “o Irã comece a construir fábricas de drones”.  Do mesmo modo, acusou a Venezuela de “dar passaportes ao Hezbollah”.

A maior ameaça aos EUA: China

Rubio apontou a China, a Rússia e o Irã como os principais desafios para os EUA. Afirmou que esses países “semeiam o caos e a instabilidade, alinham-se com grupos terroristas radicais e os financiam, e depois se escondem atrás de seu poder de veto nas Nações Unidas e da ameaça de guerra nuclear”.

No entanto, repetidamente, garantiu que a “maior ameaça” aos EUA é a China, devido à sua crescente capacidade de influência internacional e aos vários investimentos que faz globalmente. 

“O Partido Comunista Chinês colheu todos os benefícios do sistema internacional pós-Guerra Fria, mas ignorou todas as responsabilidades que vêm com ele. Em vez disso, eles mentiram, trapacearam, hackearam e roubaram para alcançar o status de superpotência global às nossas custas”, disse.

Criticando a administração democrata que está deixando o cargo e usando um tom de Guerra Fria, ele disse que se Washington “não vai mudar de rumo". "Viveremos em um mundo onde muito do que é importante para nós todos os dias, desde nossa segurança até nossa saúde, dependerá do fato de os chineses permitirem ou não que tenhamos”.

Contra a lei internacional e em defesa de Israel 

Rubio defendeu as ações de Israel contra a população palestina na Faixa de Gaza. Disse que o processo do Tribunal Penal Internacional contra autoridades do governo israelense, incluindo o próprio primeiro-ministro Benjamin Netanyahu, “prejudicou enormemente sua credibilidade global”.  

Em seguida, indicou que o julgamento de funcionários do governo israelense estabelece “um precedente muito perigoso para os Estados Unidos”.

“Este é um julgamento para ver se podemos ir atrás de um chefe de Estado de uma nação não membro. Se pudermos ir atrás deles, e pudermos fazer isso com relação a Israel, eles aplicarão isso aos Estados Unidos em algum momento”, argumentou.

Ao ser questionado se acreditava que uma possível anexação israelense do território palestino levaria a mais guerras no Oriente Médio, Rubio evitou responder à pergunta, dizendo que era “uma questão muito complexa”.

“A chave não é simplesmente governar, mas quem governa você”, disse. O secretário de Estado de Trump afirmou que os EUA não poderiam “entregar autoridade” a pessoas que (supostamente) “buscam a destruição de Israel”. 

“Não se pode coexistir com elementos armados na fronteira que buscam a destruição e o desmantelamento de um Estado. Simplesmente não é possível. Nós e os israelenses não vamos tolerar isso”, afirmou, justificando as ações do Estado de Israel, acusado por mais de 50 países de cometer genocídio, como uma suposta medida de ‘segurança’. 

Cartéis mexicanos

Em relação ao México, ele disse que os grupos criminosos “basicamente têm controle operacional sobre enormes faixas das regiões de fronteira entre os EUA e o México”.

Ele também disse que não descarta o uso de força militar para atacar os cartéis, “essa é uma opção que o presidente tem à sua disposição”.

“Acho que o presidente Trump é alguém que nunca discute publicamente suas opções e se dá a flexibilidade para agir”, disse após afirmar que não descarta a possibilidade de designar os cartéis como organizações terroristas estrangeiras. 

“Esses grupos não estão apenas aterrorizando os Estados Unidos. Eles estão aterrorizando e, de certa forma, minando o governo mexicano, a soberania mexicana, a saúde e o bem-estar do povo mexicano. Portanto, minha esperança em um mundo perfeito é que possamos trabalhar em conjunto com as autoridades mexicanas para eliminar esses grupos”, diz. 

Mais ameaças contra Panamá 

Continuando a escalada de ameaças feitas por Trump nas últimas semanas, o senador republicano afirmou que a influência da China sobre o Canal do Panamá seria “uma violação dos termos da entrega” da hidrovia aos panamenhos.  

“Ainda não analisei a pesquisa jurídica por trás disso, mas sou obrigado a suspeitar que se poderia argumentar que os termos sob os quais o canal foi entregue foram violados”, disse ele.

Ele acrescentou que “embora tecnicamente a soberania sobre o canal não tenha sido entregue a uma potência estrangeira, na realidade uma potência estrangeira possui hoje, por meio de suas empresas, que não são independentes, a capacidade de transformar o canal em um gargalo em um momento de conflito”.

De acordo com Rubio, a situação é “uma ameaça direta aos interesses nacionais e à segurança dos Estados Unidos”. 

Com relação ao governo de José Raúl Mulino, ele garantiu que “é um grande parceiro em muitas outras questões”, afirmando que espera “resolver essa questão do canal e sua segurança”. 

 

Edição: Leandro Melito