Nosso problema não é o desempenho, são as poucas vagas
Nesta semana, após a divulgação do resultado do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), muitas críticas à educação brasileira, especialmente à pública, foram feitas pelo fato do desempenho dos alunos na redação ter sido o mais baixo em dez anos.
Foram 12 redações com nota máxima, sendo uma única escrita por estudante de colégio do Estado.
Para o professor e pesquisador Daniel Cara, a crítica está atingindo o alvo errado. O especialista defende que, nos últimos anos, “se criou uma lógica da redação perfeita, quase como um algoritmo, se você cumprir determinados critérios, você tem uma redação perfeita”.
“Hoje, os pré-vestibulares, os cursinhos populares, influenciadores de internet em relação aos vestibulares estão decifrando o algoritmo. O Inep [Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira] foi subindo o grau de exigência na correção das redações do Enem”, explica o professor em entrevista ao programa Bem Viver desta sexta-feira (17).
O levantamento do Ministério da Educação mostra que, embora apenas 12 alunos tenham atingido a nota máxima, foram quase 35 mil participantes próximos disso, que marcaram entre 950 e 1.000 pontos.
Professor na Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo (USP), Daniel Cara cita a experiência de colegas que, durante suas pesquisas acadêmicas, realizaram o Enem e, mesmo com toda a extensa formação voltada ao tema, não conseguiram atingir a nota máxima no exame.
“Eu conheço colegas meus da faculdade de educação, da Universidade de São Paulo, professores com pós-doutorado, que não tiraram nota máxima no Enem. Parte da pesquisa deles é viver uma observação participante do Enem”.
Por 14 anos, Daniel Cara esteve à frente da Campanha Nacional pelo Direito à Educação. Atualmente, ele é membro do comitê diretivo.
Para o professor, essa situação denota como o Enem está desvirtuado da sua concepção original de democratizar o ensino superior no Brasil, atuando apenas em fortalecer as empresas que atuam na preparação dos alunos para as provas.
“O Enem e os vestibulares no Brasil não estão servindo para o que deveriam servir. Ou seja, essa redação ultraexigente está servindo para gerar propaganda para as escolas privadas e cursinho pré-vestibulares, influenciadores, etc.”
O professor analisa que toda essa situação escancara como o Brasil tem alunos com condições intelectuais de ingressar no ensino superior, mas que não conseguem pela falta de vagas.
“Agora eu vou dar uma bomba aqui: até a 5ª lista de chamada, caso nós tivéssemos quinta lista de chamada no Brasil, o desempenho do estudante que entra na 1ª lista e que entra na 5ª é praticamente o mesmo no país”, alerta. “Nosso problema não é o desempenho, são as poucas vagas.”
Proibição de celulares na escola
Na entrevista, Daniel Cara avalia também a lei sancionada nesta semana, proibindo o uso de celulares dentro de sala de aula e nos intervalos.
“É uma lei importante pela coragem de ser sancionada, no sentido de que, de fato, é uma demanda de professores, diretores de escola”, celebra.
Citando Paulo Freire, ele argumenta que “a educação se dá por comunicação e a comunicação tem que ser bidirecional, ela não pode ser desviada por uma tela, por um aparelho como o celular.”
De qualquer forma, o professor pondera que o ideal seria que não fosse necessária uma lei, mas sim que o sistema de ensino no Brasil tivesse professores “fortalecidos para que eles conseguissem dar conta desse combinado dos estudantes”.
“Essa lei também representa uma certa renúncia à educação no seguinte sentido: os estudantes hoje já não conseguem cumprir acordos elaborados junto aos professores e demais profissionais de educação, isso eu considero o mais grave.”
A entrevista pode ser escutada na íntegra pelo reprodutor de áudio abaixo do título desta reportagem.
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Edição: Martina Medina