Repercussão

Ricardo Nunes tem até esta sexta (17) para explicar ao STF sobre muro na cracolândia

Prefeitura realizou obra em 2024 que isola usuários de drogas em espaço de antigo estacionamento

Brasil de Fato | São Paulo (SP) |
A decisão de Moraes se deu após parlamentares do Psol protocolarem o pedido - Marcelo Camargo/Agência Brasil

Na quinta-feira (16), o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), deu um prazo de 24 horas para que o prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes (MDB), dê explicações sobre o muro levantado na Cracolândia, na região central da capital. 

A decisão de Moraes se deu após parlamentares do Psol protocolarem o pedido numa ação já relatada por Moraes sobre as diretrizes da Política Nacional para a População em Situação de Rua 

A deputada federal Luciene Cavalcante, o deputado estadual Carlos Giannazi e o vereador Celso Giannazi afirmam no documento que, ao construir o muro, a Prefeitura de São Paulo “isola e exclui socialmente as pessoas que vivem na Cracolândia”, cometendo “um ataque brutal e inconstitucional contra o conjunto dos direitos fundamentais consagrados pela Constituição Federal, negando a dignidade humana e violando princípios basilares de igualdade, liberdade e acesso a direitos essenciais”. 

O paredão de 2,5 metros de altura e 40 metros de extensão cria um triângulo entre as ruas General Couto de Magalhães e dos Protestantes, na região da Santa Ifigênia. Do outro lado, um gradil fecha a população em situação de vulnerabilidade no espaço. A obra custou R$ 95 mil aos cofres públicos e foi realizada entre maio e junho de 2024.  

Um dia antes da decisão de Moraes, a Defensoria Pública de São Paulo orientou o prefeito Ricardo Nunes a retirar as barreiras físicas colocadas e erguidas na região. O órgão afirma que não há “qualquer justificativa legal” nem “qualquer comprovação de sua eficiência para atingir os objetivos declarados de melhor atender os usuários”. 

O ofício diz ainda que a “estratégia dos gradis e muro limita drasticamente o uso público da rua pelas pessoas, prejudicando em certa medida as estratégias de sobrevivência nas ruas, como receber doações de alimentos e roupas e deslocar-se livremente para atender as necessidades fisiológicas”.  


Antes, o espaço era um estacionamento / Google Maps/Reprodução

No mês em que a obra foi finalizada, o Núcleo Especializado de Cidadania e Direitos Humanos do órgão já tinha classificado o espaço onde ficam isolados os usuários de drogas, no Centro da cidade, como “um verdadeiro ‘curral’ humano”, após uma visita ao local.    

“Nos chamou atenção o desrespeito ao direito de locomoção e liberdade de ir e vir das pessoas em situação de vulnerabilidade social, uma vez que foram instalados gradis no local que formam verdadeiro ‘curral’ humano”, diz o relatório da Defensoria. “Ressalta-se que tal impedimento, além de impor uma série de riscos às pessoas confinadas, é imotivado e não há qualquer situação de flagrância permanente que justifique a ação constante de inibição do direito de ir e vir”.   

Em nota, a Subprefeitura da Sé informou que a construção foi realizada “para melhorar as condições de atendimento às pessoas mais vulneráveis dentro do fluxo” e favorecer “o trabalho dos agentes de saúde e assistência social, garantindo maior segurança para as equipes e facilitando o trânsito de veículos”.   

“A Secretaria Municipal de Segurança Urbana (SMSU) ressalta que a Guarda Civil Metropolitana (GCM) atua de forma contínua nas Cenas Abertas de Uso, desempenhando patrulhamento preventivo e oferecendo apoio e proteção aos agentes públicos nos serviços de zeladoria, saúde e assistência social. A SMSU reitera que não compactua com desvios de conduta por parte de agentes da GCM e assegura que todas as denúncias recebidas são rigorosamente investigadas”, diz o texto. 

Edição: Nathallia Fonseca