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Trégua em Gaza é uma vitória, mas pode 'não se manter em pé', avalia especialista

Fernando Horta analisou os termos do acordo de cessar-fogo no Central do Brasil desta sexta-feira (17)

Brasil de Fato | São Paulo (SP) |

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Enquanto as duas primeiras fases do acordo envolvem principalmente a libertação de reféns, a terceira tem foco na recuperação de Gaza - EYAD BABA/AFP

O gabinete de segurança de Israel aprovou o acordo de cessar-fogo em Gaza. A decisão foi tomada em reunião de ministros que aconteceu na manhã desta sexta-feira (17). A reunião deveria ter acontecido um dia antes, mas foi adiada por discordâncias dentro da coalizão do premiê israelense Benjamin Netanyahu. Ministros da extrema direita sionista não queriam o acordo. A primeira leva de reféns será libertada no domingo (19), dia em que o tratado de cessar-fogo entra em vigor.  

Para comentar o tema, o Central do Brasil desta sexta convidou Fernando Horta, historiador, professor e doutor em história das relações internacionais. O especialista afirma que o acordo deve causar uma diminuição imediata da violência na região, mas que há riscos do cessar-fogo não durar. 

“Está todo mundo muito preocupado se isso vai ser levado a cabo, porque é muito comum, dos dois lados da região, e não apenas do lado israelense, algum tipo de ação que venha a impactar os termos do acordo e torná-lo impossível de ser concretizado. Netanyahu está sob pressão interna, a sua política interna é um desastre, basicamente, ele tem se sustentado no poder a partir dessa relação com a guerra, e isso significa que ele precisa cortejar a extrema direita que lhe dá votos e lhe permite ficar no poder. Para cortejar, ele precisava efetivamente negar esse armistício, o que não foi feito”.

Enquanto as duas primeiras fases do acordo envolvem principalmente a libertação de reféns, a terceira tem foco na recuperação de Gaza. Nesse sentido, Horta acredita que a única forma de cumprir a totalidade do acordo é o envolvimento de agências internacionais, como a Organização das Nações Unidas (ONU), por exemplo. No entanto, isso parece improvável num cenário em que Israel não reconhece a legitimidade da ONU, atacando politicamente e até materialmente as instituições da agência em seu território. 

“Na prática, a reconstrução de Gaza não é parte da estrutura desse acordo. Ela está ali de forma um pouco retórica, porque não vejo condições disso se dar no território por mais tempo do que seis meses. Infelizmente, nós vamos ver ainda a população em Gaza sofrendo com a falta de tijolos, de insumos médicos mínimos, como seringas, e coisas necessárias para tratar efetivamente a violência e o desarranjo institucional que ocorreu na região. Muita gente ali está morrendo de fome, está morrendo porque não tem água, está morrendo porque tem disenteria, e essas coisas precisam ser paradas urgentemente para que a gente possa ter um retorno mínimo das capacidades de vida na região”.

Outro ponto de fragilidade do acordo e que também pode contribuir para que ele não dure é o fato de ser liderado por países que não estão sob a violência imediata - Estados Unidos, Catar, Arábia Saudita e Israel - e sem nenhum representante libanês, sírio ou palestino. Ainda assim, Horta afirma que o acordo pode ser considerado uma vitória.

“Na atual situação, três meses de cessar-fogo para quem está na região sofrendo com a violência já é algo inimaginável e muito importante de se atender. Em que pese que, no meio-termo ou a longo prazo, a gente veja que o acordo tem problemas para ficar de pé, só essa trégua inicial que você dá às mães e às crianças já é suficiente para a gente contar como uma vitória e torcer a favor”. 

A entrevista completa está disponível no YouTube do Brasil de Fato.

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O Central do Brasil é uma produção do Brasil de Fato. O programa é exibido de segunda a sexta-feira, ao vivo, sempre às 13h, pela Rede TVT e por emissoras parceiras.

Edição: Martina Medina