REVOLUCIONÁRIA

Crítica de Rosa Luxemburgo à social-democracia se mantém atual frente à ascensão do fascismo na Europa

Ascensão da extrema direita é resultado da falta de resposta para os trabalhadores, segundo pesquisadora Isabel Loureiro

Brasil de Fato | São Paulo (SP) |
Rosa Luxemburgo nasceu no ano de 1871 em uma família judia, na região da Polônia que era dominada pelo império czarista (monarcas da Rússia) - Fundação Rosa Luxemburgo

A crítica da pensadora Rosa Luxemburgo à política da social-democracia de conciliação com a burguesia, que teme propor reformas radicais em benefício dos trabalhadores, se mantém atual diante da política em curso em diversas nações europeias, mas principalmente na Alemanha.

 "O repúdio de Luxemburgo às tramoias das grandes potências e à corrida armamentista que levaria à guerra mundial, implicando perdas para os trabalhadores independentemente de quais países fossem vitoriosos, se aplica quase sem mediações à atual situação alemã", disse ao Brasil de Fato a especialista nos pensamentos de Rosa Luxemburgo, Isabel Loureiro.

Ela aponta que parte da ascensão e popularidade da extrema direita e do fascismo está diretamente relacionada com a falta de respostas dos partidos social-democratas na Europa e, principalmente, na Alemanha, à desigualdade crescente perpetrada pelo neoliberalismo.

Após mais de três anos no poder, a coalizão tripartite liderada pelo Partido Social-Democrata (SPD) de Olaf Scholz, com os Verdes e o Partido Democrático Liberal (FDP), rompeu-se em 6 de novembro, após a demissão do ministro das Finanças de Scholz, Christian Lindner, que representava o FDP na aliança tripartite.

A saída de Lindner e consequente quebra da aliança acionou uma moção de voto de confiança sobre o governo Scholz na Câmara dos Deputados, que perdeu. O resultado: eleições antecipadas em 23 de fevereiro.

Scholz, que concorrerá novamente ao cargo, está em terceiro lugar nas pesquisas, atrás dos Conservadores Democratas Cristãos (CDU) e do partido de extrema direita Alternativa para a Alemanha (AfD).

A AfD foi criada em 2013 e radicalizou-se depois da grande crise migratória de 2015, processo intensificado após a pandemia de covid-19 e a guerra na Ucrânia, que enfraqueceu a maior economia da Europa.

Este foi o palco perfeito para que o partido ultrarradical obtivesse vários sucessos eleitorais nos últimos meses, com discursos anti-imigração e promessas de retomada rápida do comércio e indústrias alemãs, que está ficando para trás na corrida comunicacional e tecnológica global.

Ao relacionar os pensamentos de Rosa Luxemburgo com a guinada do fascismo na Europa, e o cenário alemão atual, a professora diz que a revolucionária "não dá receitas para vencer a luta contra a extrema direita. Socialismo ou barbárie é sua palavra de ordem a partir da guerra mundial. Apenas se os trabalhadores entrarem unidos na luta será possível uma alternativa à barbárie".

Loureiro também ressalta a importância que os trabalhadores, verdadeiros agentes da revolução socio-política, têm no discurso da militante.

Contra o sistema capitalista, Rosa Luxemburgo "defendia a unidade dos trabalhadores, os únicos que poderiam barrar o avanço da barbárie e criar um mundo que não fosse dominado pela insegurança da existência".

Os trabalhadores na Alemanha

A Alemanha, maior economia da Europa, vem sofrendo diversos fiascos econômicos nos últimos tempos. Em 2024, pelo segundo ano seguido, o PIB do país contraiu 0,2%, sendo a mais fraca de todos os países da zona do euro.

A economia alemã, há décadas, é quase exclusivamente voltada para a exportação, que sofre os impactos de retração na demanda global, além de embates com a produção chinesa.

Entre os meses de outubro e dezembro de 2024, as greves tomaram o país, principalmente em fábricas da Volkswagen, após a empresa anunciar demissões em massa e fechamento de fábricas no país.

 A insegurança de emprego no país pode ser a chave para entender a queda de popularidade de Scholz e do governo social-democrata. "Esses partidos se limitaram a administrar o capitalismo sem nunca dar uma resposta radical a favor dos trabalhadores", explica Loureiro. "A insatisfação acaba tendo como bode expiatório os imigrados e refugiados, vistos pela extrema direita como responsáveis pelos males que assolam a Alemanha."

Rosa Luxemburgo e o papel do Sul Global

A professora ressalta que a obra de Rosa mostra que o capitalismo é um sistema global; que demanda a posse e controle das colônias e visa um processo sem fim de acumulação. Nesse contexto, os países do Sul Global, são parte importante na luta contra esse ciclo.

A revolucionária esquerdista demonstrou que o desenvolvimento da metrópole ocorreu, historicamente, "por meio da espoliação violenta da periferia, que ocorre não somente nas origens do capitalismo, mas que, por meio dos mais variados mecanismos, é uma violência permanente contra as populações originárias, que lutam contra a anexação de seus territórios pelo capital".

Exemplo desta luta são os países do Sahel africano - Burkina Faso, Mali e Níger, Chade e Senegal - que, em novembro do ano passado, exigiram que o governo francês retirasse suas forças armadas de seus territórios.

Luta pela preservação ambiental

O capital, que rege a maioria dos sistemas e governos políticos contemporâneos, e utiliza das influências políticas para alimentar uma sede infinita de lucro, não só destrói a força de trabalho, mas, segundo Rosa, também a natureza. "Rosa Luxemburgo revela nas suas cartas um profundo amor pela natureza e, nesse sentido, é uma personagem ímpar do socialismo internacional. Dessa perspectiva, além de todas as mencionadas anteriormente, ela continua sendo nossa contemporânea".Além disso, Rosa acreditava que "as formações sociais originárias, regidas pela solidariedade e igualdade, têm o que ensinar aos povos 'civilizados', dominados pela luta de todos contra todos".

Estamos colhendo os resultados da exploração: o ano de 2024 foi o mais quente da história e o primeiro a romper a barreira de 1,5°C de aumento na temperatura média da Terra, estipulado como limite crítico pelo Acordo de Paris.

Os dados mostram um aumento de 1,6°C na temperatura média global, que chegou a 15,10°C, e foram divulgados nesta sexta (10) pelo observatório europeu Copernicus.

O cenário está diretamente ligado ao aumento dos gases de efeito estufa na atmosfera, consequência de atividades humanas tais como a queima de combustíveis fósseis.

 

Edição: Leandro Melito