Nesta segunda-feira (20), o republicano Donald Trump chega à Casa Branca pela segunda vez, assumindo a Presidência dos Estados Unidos para um mandato de quatro anos, até 2028.
Nas eleições presidenciais de 6 de novembro de 2024, o magnata de extrema direita conquistou 279 votos de delegados eleitorais, superando os 270 necessários para a vitória no sistema eleitoral indireto do país, e pôs fim ao governo de Joe Biden, do Partido Democrata.
A cerimônia de posse será marcada pela presença de empresários e bilionários apoiadores da extrema direita mundial, como Jeff Bezos (Amazon), Mark Zuckerberg (Meta), e o próprio Elon Musk, que também comandará o Departamento de Eficiência Governamental, com conselhos extra-oficiais ao governo. Líderes da extrema direita mundial também foram convidados para a posse, caso dos presidentes da Argentina, Javier Milei e do opositor venezuelano Edmundo González Urrutia, derrotado por Nicolás Maduro. O ex-presidente brasileiro, Jair Bolsonaro, também foi convidado por Trump, mas sua saída do Brasil foi vetada pelo ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF).
Polêmicas e condenações sem efeito imediato
Donald Trump chega à Presidência com um presente político marcado por condenações e polêmicas referentes ao seu passado. O republicano assume hoje o mais alto cargo do executivo estadunidense, tornando-se o primeiro presidente dos EUA condenado por crimes federais a assumir a Casa Branca.
Em 10 de janeiro, Trump recebeu a condenação por 34 acusações criminais de fraude contábil. Em nome do magnata, seu então advogado pessoal Michael Cohen pagou US$ 130 mil (cerca de R$ 415 mil na cotação da época) do seu próprio bolso para comprar o silêncio da ex-atriz pornô Stormy Daniels, na reta final das eleições de 2016 devido a um caso extraconjugal, declarando essa quantia como despesas legais.
Contudo, esta é uma pena simbólica, uma vez que não sofrerá nenhuma penalidade além da designação legal em si. O juiz que presidiu o julgamento criminal de Trump, Juan Merchan, emitiu uma sentença de "liberação incondicional", o que significa que o presidente eleito será libertado sem multa ou prisão.
Apesar das dívidas com as leis estadunidenses, Trump insiste no argumento de que foi perseguido pelo Sistema Judiciário dos EUA e que suas condenações foram “politicamente motivadas”.
“Ao que tudo indica, seu eleitorado parece concordar com essa interpretação [de perseguição do judiciário]. Por outro lado, legalmente, o sistema jurídico estadunidense permite que ele assuma a Presidência, a despeito das condenações”, analisa ao Brasil de Fato Layla Dawood, professora do Departamento de Relações Internacionais da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ).“Certamente esses assuntos serão mobilizados pela oposição democrata no curso do mandato de Trump”.
Contudo, a maioria do Partido Republicano tanto no Senado, quanto no Congresso, deve ser levada em consideração.
“As vozes internas do Partido Republicano que se colocavam contra Trump estão enfraquecidas. Com a maioria em ambas as casas, não é possível vislumbrar efeitos imediatos das polêmicas e condenações sobre o presidente eleito”, prevê Dawood.
Guerra na Ucrânia não deve terminar em um dia
Enquanto Trump foi eleito apostando em discursos anteriormente conhecidos, como a deportação em massa de imigrantes não-documentados, após seu resultado favorável, guinou para outras declarações que causaram tensão no mundo: sobre a política externa dos Estados Unidos.
O republicano tem defendido o aumento de tarifas sobre outros países. Na última terça-feira (14), especificou que sua medida seria taxar “todas as receitas de fontes estrangeiras”. “Começaremos a cobrar daqueles que lucram às nossas custas no comércio, e eles começarão a pagar, finalmente, sua parte justa”, defendeu.
Naturalmente, os países que mais serão afetados se opuseram ao anúncio, levando o magnata a fazer ameaças em relação à anexação do Canadá, controle do Canal do Panamá, e uso de forças para tomar a Groenlândia, um território autônomo pertencente à Dinamarca.
Na análise da Dawood, tais ameaças são reflexo da frase de campanha “América em primeiro lugar”, que gera “uma série de especulações sobre possíveis mudanças na chamada grande estratégia estadunidense, isto é, sobre a eventual transformação da presença militar dos EUA no mundo”.
Contudo, o que verdadeiramente interessa é “saber o quão intervencionista será a administração Trump no que se refere aos conflitos contemporâneos”. Entre as diversas declarações do republicano sobre a guerra na Ucrânia, a principal foi a promessa de que finalizaria o conflito em seu “primeiro dia” de governo.
A comunidade internacional olha com expectativa para a intervenção de Trump na guerra que perdura desde fevereiro de 2022 devido à sua proximidade com o presidente russo, Vladimir Putin, e considerando que o outro conflito que mobiliza o mundo, na Faixa de Gaza, teve um acordo alcançado entre Israel e o Hamas na última quarta-feira (15).
“Trump se apresenta como um negociador cujas ameaças são tomadas como mais críveis por aliados e adversários. Nesse contexto, é bastante provável que haja pressão por parte da administração Trump para que Ucrânia e Rússia negociem um acordo de cessar fogo”, afirma a professora da Uerj.
Dawood considera as análises de que, sob Trump, os EUA poderiam diminuir ou retirar totalmente seu apoio financeiro e militar à Ucrânia, levando o presidente, Volodymyr Zelensky, à mesa de negociação.“A meu ver, essa é uma possibilidade concreta, mas haverá pressões por parte dos aliados da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) para que o apoio estadunidense perdure porque negociações podem favorecer demasiado a Rússia, uma vez que tem vantagem no campo de batalha”, considera.
Por outro lado, para a Ucrânia “ceder os territórios à Rússia não garante segurança no curto, nem no longo prazo, pois não garante a inexistência de investidas futuras em seu território”, reflete. “Diante desse cenário, em uma eventual negociação, é provável que a Ucrânia exija garantias de segurança ao Ocidente, as quais não são facilmente negociáveis. O cessar-fogo não será uma negociação simples”, completa.
Para a doutora em Relações Internacionais, o cenário possível é que Trump mantenha o apoio à Ucrânia, mas pressione os países europeus a aumentarem suas contribuições. Em outras palavras, Trump pode “vender” a um preço mais caro o apoio estadunidense à Ucrânia.
Pressão contra governo Lula
Em uma breve análise da relação entre o governo brasileiro, sob a presidência de Luiz Inácio Lula da Silva, Dawood afirma que é esperada “maior pressão da administração Trump para que o Brasil se aproxime ainda mais dos interesses dos estadunidenses”, no contexto da ascensão econômica e militar da China.
O republicano ainda deve questionar a participação do Brasil no Brics, formado por países de economia emergentes, incluindo a Rússia e a China.
Cerimônia de posse
O evento que marca o início do governo Trump terá início às 11h30 locais (13h30 no horário de Brasília) será realizado dentro do Capitólio (sede do Congresso estadunidense) devido às baixas temperaturas.
A cerimônia também é marcada por um desfile do presidente e seu vice, J.D. Vance, em Washington, logo após a posse. O trajeto começa às 15h30 (17h30 em Brasília) no Capitólio em direção à Casa Branca. O percurso tem cerca de cinco quilômetros, e deve ser finalizado às 17h30 (19h30 em Brasília).
A posse pode ser assistida diretamente do gramado do Capitólio pelos apoiadores do republicano que conseguiram os ingressos limitados distribuídos pelo Comitê Conjunto do Congresso para Cerimônias de Posse. Quem não obteve o acesso, deve acompanhar a posse no entorno da Pennsylvania Avenue - onde fica a sede da Presidência.
As medidas de segurança serão excepcionais depois de duas tentativas de assassinato contra o magnata durante a campanha. 48 quilômetros de barreiras, 25 mil policiais mobilizados e drones farão parte do esquema.
De acordo com a CNN, 56% dos estadunidenses acreditam que o segundo mandato de Trump será bem-sucedido. Em comparação, em 2021, quando finalizou sua primeira administração, deixou o cargo com 58% de desaprovação, segundo pesquisa do Politico/Morning Consult.
*Com AFP e informações do Valor
Edição: Leandro Melito