Na sexta-feira (17), o mandato da deputada estadual Marina do MST (PT) encaminhou um ofício à Secretária Municipal de Saúde e à Prefeitura de Duque de Caxias, na Baixada Fluminense, solicitando esclarecimentos ao município pela alegação de negligência médica envolvendo o paciente Itamar da Silva Barbosa, mais conhecido no mundo da Capoeira Angola como Mestre Peixe de Caxias, morto no dia 9 de janeiro após complicações de saúde durante um quadro de Acidente Vascular Cerebral (AVC).
O documento solicita que “seja realizada uma investigação detalhada sobre as circunstâncias do atendimento prestado ao paciente; que seja encaminhado um relatório técnico com informações sobre os procedimentos realizados, as condutas adotadas pela equipe médica e os registros clínicos do paciente; e que sejam apresentadas as medidas tomadas pela Secretaria para apurar as denúncias de negligência, caso já tenham sido formalizadas pela família”.
“Ressaltamos que este pedido tem como objetivo contribuir para o esclarecimento dos fatos e assegurar a transparência na condução do caso, além de reforçar a confiança da população nos serviços de saúde pública de Duque de Caxias”, destaca trecho do ofício encaminhado pela parlamentar.
Além de Marina do MST, a deputada estadual Dani Monteiro (Psol), presidente da Comissão de Defesa dos Direitos Humanos e Cidadania (CDDHC), também está acompanhando o caso para apurar possíveis negligências durante o atendimento do mestre de Capoeira no Hospital Municipalizado Adão Pereira Nunes.
"Estamos penalizados e nos solidarizamos com a família do mestre. Vamos acompanhar o caso pela CDDHC, apoiando os enlutados e oficiando a unidade de saúde a fim de averiguarmos possíveis negligências", lamentou Dani Monteiro.
A reportagem procurou o município de Duque de Caxias para saber as medidas que estão sendo tomadas para responder aos questionamentos do ofício enviado pela deputada Marina do MST. O Brasil de Fato não recebeu o retorno. O espaço segue aberto para a prefeitura.
Relembre o caso
No dia 2 de janeiro, Itamar Barbosa sofreu um AVC em sua casa no município de Duque de Caxias. O capoeirista foi levado por familiares para o Hospital Municipalizado Adão Pereira Nunes. Segundo a família, ele foi vítima de negligência médica.
Registros obtidos pelo Brasil de Fato mostram Itamar deitado numa maca improvisada no corredor do hospital sem nenhum monitoramento para o seu quadro de saúde e em outra imagem é possível identificar um quadro de miíase, uma infecção parasitária na pele, no nariz do paciente. Segundo Taís Barbosa, filha do Mestre Peixe, o rebaixamento cognitivo do seu pai começou a se agravar e nenhuma intervenção médica foi realizada de imediato.
"Meu pai começou a apresentar sinais clínicos evidentes de um agravamento e estava sem monitoramento contínuo para vigilância neurológica para um caso de AVC porque consideraram o caso dele sem gravidade. Os médicos, até sábado (4), afirmaram que meu pai não precisava de leito intensivo porque iria embora com 48 horas para tratamento ambulatorial com neurologia, fonoterapia e fisioterapia", destacou Taís.
A entrada no Centro de Terapia Intensiva (CTI) ocorreu na segunda-feira (6) a partir de uma liminar judicial. Devido ao agravamento do quadro, Itamar precisou ser entubado já com uma extensa lesão cerebral. Mestre Peixe teve a morte encefálica confirmada no dia 9 de janeiro.
Na ocasião, o município de Duque de Caxias informou que “o paciente passou por exames de imagem (tomografia) que evidenciou um AVC isquêmico extenso, com pequenos focos hemorrágicos. Na manhã da segunda-feira (06/01) o paciente foi transferido da sala amarela para o CTI da unidade. Após admissão no CTI, paciente teve piora no rebaixamento do nível de consciência, evoluindo para entubação, devido ao quadro neurológico”.
Segundo a prefeitura, “o paciente foi reavaliado pela neurocirurgia na terça-feira (07), após realização de nova tomografia de crânio, que manteve sem condutas cirúrgicas. O agravamento do quadro neurológico do paciente, com a presença de lesões extensas e irreversíveis, evoluiu para morte encefálica”.
Itamar nasceu na cidade de Duque de Caxias, na Baixada Fluminense, e deu os primeiros passos na capoeira em 1972, aos 12 anos. No dia 13 de junho de 1973, junto com outros amigos capoeiristas, fundou a roda de rua mais antiga do estado do Rio em atividade até hoje, a Roda Livre de Caxias, realizada na Praça do Pacificador e declarada Patrimônio Imaterial da cidade de Duque de Caxias em 2016. Mestre Peixe era um dos coordenadores do Grupo Unificar de Capoeira Angola (GUCA).
Fonte: BdF Rio de Janeiro
Edição: Clívia Mesquita