ARTE URBANA

Recuperação do prédio do DAER em Porto Alegre prevê apagar mural referência da cidade

Segundo o arquiteto urbanístico Flávio Kiefer, ao invés de apagar o mural, a obra poderia torná-lo definitivo

Brasil de Fato | Porto Alegre (RS) |
Inauguração do painel dos artistas responsáveis pela pintura, a suíça Mona Caron e o paulista Mauro Neri - Hack Basilone

O muralismo de 65 metros de altura feito na lateral do prédio do Departamento Autônomo de Estradas de Rodagem (DAER-RS) e da Procuradoria-Geral do Estado do Rio Grande do Sul (PGE-RS), em Porto Alegre, será apagado por obras de reforma. A informação, que veio à tona a partir de uma reportagem do jornal Matinal, ainda não tem data prevista para ser executada, mas o DAER confirmou a decisão.

A pintura, dos artistas plásticos Mona Caron e Mauro Neri, foi inaugurada em 2022. Visível para quem transita do Centro Histórico da Capital em direção à zona Sul pelo Viaduto dos Açorianos, a arte é referência de Porto Alegre. Sua visibilidade sem obstáculos e localização estratégica permitem que a mensagem de superação, resiliência e resistência transmitida pela imagem impacte quem passe pela cidade.


Pintura está visível para quem transita do Centro Histórico em direção à zona Sul pelo viaduto dos Açorianos / Facebook Marcelo Sgarbossa

“A necessidade de substituição das pastilhas já era de conhecimento quando a pintura foi feita", pontua nota do DAER. Por se tratar de um edifício de 1972, o órgão diz que a fachada precisa de cuidados e considera a obra necessária. A vereadora Natasha Ferreira contesta a decisão e protocolou Projeto de Lei nesta terça (14) para preservar o mural. “A preservação da arte pública é um legado para as futuras gerações!", pontua a vereadora.

O então vereador na época, diretor do Laboratório de Políticas Públicas e Sociais (Lappus), Marcelo Sgarbossa lembrou em suas redes sociais que o mural foi concebido em 2013, durante 2º Fórum Mundial da Bicicleta em Porto Alegre, e executado em 2021 sob a coordenação do @lappuspoliticas. “Mural Quebra tudo, Abre Caminhos de autoria da @mona.caron e @reveracidade é muito recente para cogitar apagar. É um trabalho primoroso! Esse mural envolveu inúmeras entidades, artistas e pessoas da nossa cidade.”

Segundo o arquiteto urbanístico Flávio Kiefer, ao invés de apagar o painel, a obra poderia ser uma oportunidade de torná-lo definitivo. “Já que eles vão trocar as pastilhas que as troquem pelas pastilhas “certas”. A própria pintura com o tempo iria desgastar. O que poderia se fazer é transformar a pintura atual em pixel. Assim como já foi realizado no viaduto da Vasco da Gama, com a arte do Mauro Fuke ou no aeroporto, com a arte do Fabio Del Re. Seria um ganho para cidade ter essa arte definitiva", afirma Flávio.

Arte Urbana

A modelo representada no mural do DAER, Beatriz Gonçalves Pereira, conhecida como Mãe Bia, para os seus filhos e filhas de santo, conecta as comunidades quilombolas e periféricas da cidade e ainda dialoga com a fé popular. Esses elementos que constroem e fazem parte da capital gaúcha se tornaram visíveis e presentes para que todos possam olhar.

O projeto da pintura foi idealizado pelo Laboratório de Políticas Públicas e Sociais (Lappus) e também foi um espaço de troca de saberes artísticos e estímulo à arte urbana local. A ação abriu caminhos para outros festivais de muralismo como Arte Salva e Olhe para Cima que vem transformando a Capital em um grande museu à céu aberto e dando espaço para a cultura urbana e periférica. 


Painel retrata ecologista José Lutzenberger / Foto: Jorge Leão/Brasil de Fato RS

As pinturas do artista Kelvin Koubik que homenageou porto-alegrenses de fama internacional, como a atleta olímpica Daiane Santos e o agrônomo e ecologista José Lutzenberger são outros exemplos de arte de rua que já fazem parte do paisagem e do patrimônio da cidade. Do lado de fora dos museus, sem cobrar ingresso e aberta 24 horas à visitação do público, as obras são um convite ao deslumbramento e à informação.

Fonte: BdF Rio Grande do Sul

Edição: Katia Marko