O secretário-geral da ONU, António Guterres, manifestou nesta quarta-feira (22) preocupação com a crise de segurança no Haiti, alertando que a situação coloca em risco o processo de recuperação da política no país.
"É possível que o país não consiga adotar as medidas previstas no acordo de governança alcançado em 11 de março de 2024. Em outras palavras, o objetivo de restaurar as instituições democráticas até fevereiro de 2026 está em risco", afirmou.
Guterres também declarou que as gangues promotoras da violência no país poderiam assumir o controle total de Porto Príncipe, capital do Haiti, se a comunidade internacional não aumentar seu apoio às autoridades locais.
"Qualquer atraso ou lacuna operacional na prestação de apoio internacional na questão de segurança à polícia acarreta o risco de um colapso catastrófico das instituições nacionais de segurança", advertiu Guterres em um informe.
No texto, o secretário-geral assinala que "isto permitiria que as gangues invadissem toda a região metropolitana, o que provocaria um colapso total da autoridade do Estado e tornaria insustentáveis as operações internacionais no país".
O chefe das Nações Unidas afirmou ainda que a Missão Multinacional de Apoio à Segurança "ainda não está plenamente implantada” e por isso sua capacidade operacional para apoiar a polícia nacional é "limitada", pedindo reforço "imediato" de pessoal, equipamentos e financiamento.
A missão mencionada por Guterres foi aprovada pelo Conselho de Segurança da ONU em outubro de 2023, é liderada pelo Quênia e apoiada com envio de soldados da Guatemala e El Salvador para apoiar a polícia local, que está sobrecarregada pela violência das gangues. Até agora, foram mobilizados 600 policiais dos 2.500 prometidos pelo presidente queniano, William Ruto.
De acordo com a ONU, as gangues já controlam 85% da capital. Segundo o Escritório do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos, pelo menos 5.601 pessoas foram assassinadas no país caribenho no ano passado, mil a mais do que em 2023.
Em seu relatório, António Guterres lamenta também os "fracassos do processo político", que "contribuíram para criar um clima que possibilitou essas atrocidades". Sob pressão dos ataques coordenados das gangues, o então primeiro-ministro Ariel Henry renunciou em março de 2024, deixando o país sob o comando de autoridades de transição.
Mais de um milhão de pessoas foram deslocadas internamente no país devido à violência das gangues, três vezes mais do que no ano anterior, segundo a Organização Internacional para as Migrações (OIM).
*Com AFP
Edição: Leandro Melito