Novo sherpa

Brasil troca negociador do Brics envolvido em veto à Venezuela e busca aproximação com G20

Ex-sherpa participou do veto à entrada da Venezuela no grupo; novo negociador era presidente do Brasil no G20

Brasil de Fato | Caracas (Venezuela) |
Mauricio Lyrio será o novo sherpa do Brics e foi presidente do Brasil no G20 em 2024 - Itamaraty

O governo brasileiro anunciou a troca de negociador do Brics nesta quarta-feira (22). O cargo de sherpa no bloco era ocupado por Eduardo Paes Saboia e agora será de responsabilidade do secretário de Assuntos Econômicos e Financeiros do Ministério das Relações Exteriores, Mauricio Carvalho Lyrio. A troca acontece no ano em que o Brasil tem a presidência do grupo e será sede da cúpula em julho, no Rio de Janeiro.

Saboia esteve na última cúpula do Brics que foi o estopim de uma crise diplomática entre Brasil e Venezuela. O governo brasileiro vetou a entrada dos venezuelanos no bloco e o então negociador foi alvo de críticas por Caracas. O Ministério das Relações Exteriores venezuelano afirmou que Saboia manteve o veto que o ex-presidente Jair Bolsonaro aplicou durante anos ao país. 

O novo sherpa do Brics foi presidente do Brasil no G20 em 2024. Foi embaixador no México e na Austrália, além de ocupar outras funções em Brasília. Ele será responsável por organizar a agenda de reuniões técnicas e ministeriais que serão realizadas durante a presidência brasileira do Brics, assim como da Cúpula de Líderes.

Para o professor de Relações Internacionais da Universidade de Brasília (UnB) Roberto Goulart Menezes, esse histórico na presidência do G20 pesou a favor de Lyrio, pela importância do Brics nesse momento para o Brasil. 

“A diplomacia brasileira talvez tenha considerado que o Brics atue junto no G20. A agenda que o Brasil trabalhou com África do Sul e Índia no G20 foi bem sucedida e os três são do Brics. Nessa estratégia. O gopverno brasileiro considerou que Maurício tinha um peso importante porque ele já estava no G20. A decisão de levar ele pro Brics é acertada porque ele já tem interlocução e dá mais celeridade na agenda do Brics”, disse ao Brasil de Fato.

De acordo com o professor, a agenda do Brics é mais densa e demandará esforço, já que há um debate hoje sobre saídas ao uso do dólar e a chegada de Donald Trump à presidência dos Estados Unidos. O republicano chegou a ameaçar impor tarifas de 100% aos países que compõem o bloco caso eles queiram dar continuidade à proposta de criar uma moeda própria. 

Saboia e o Itamaraty

Saboia está no Itamaraty desde 1990 e atualmente é secretário de Ásia e Pacífico. Segundo apurou o Brasil de Fato, havia um descontentamento da ex-presidente Dilma Rousseff com a posição do diplomata no bloco. Ela é presidenta do Banco do Brics e tinha um forte contato com o agora ex-sherpa.

A questão envolvendo Dilma e Saboia começou em 2013, quando ele ajudou o ex-senador boliviano Roger Pinto Molina a fugir de La Paz para o Brasil. O diplomata brasileiro trabalhava como encarregado de negócios da embaixada brasileira na Bolívia e estava substituindo o embaixador Marcelo Biato, que estava de férias.

Em 2012, Molina estava sendo acusado de corrupção e recebeu asilo político no Brasil. Ele, no entanto, ficou na embaixada brasileira na capital boliviana por ter receio de ser preso caso saísse da residência. Saboia então usou um carro oficial da embaixada sem autorização para levá-lo até Corumbá (MS), na fronteira do Brasil com a Bolívia. De lá, ele entrou em um jatinho com o senador brasileiro Ricardo Ferraço (PSDB-ES) até Brasília.

A situação levou à demissão do então ministro das Relações Exteriores, Antonio Patriota, e à troca do embaixador brasileiro na Bolívia. Saboia também foi removido do cargo e transferido para a Secretaria de Estado do Itamaraty. Mais tarde, ele foi promovido pelo ex-presidente Michel Temer a ministro de Primeira Classe, o posto mais alto da carreira diplomática.

Edição: Leandro Melito