Repercussão

PF diz que blitzes no Nordeste têm relação com o plano golpista de Jair Bolsonaro

Grupo responsável por blitzes poder ser 'parte da tentativa de abolição violenta do Estado democrático de Direito'

Brasil de Fato | São Paulo (SP) |
Silvinei Vasques foi nomeado diretor-geral da Polícia Rodoviária Federal em abril de 2021, durante governo Bolsonaro - Marcelo Camargo/Agência Brasil

A Polícia Federal (PF) apontou uma relação entre a investigação sobre o plano golpista para manter o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) no poder e as operações rodoviárias no Nordeste, com bloqueio de estradas, no dia 30 de outubro de 2022, data do segundo turno das eleições presidenciais. 

A informação, revelada pelo UOL, está no relatório final do inquérito que indiciou Anderson Torres e Silvinei Vasques, que estavam à frente do Ministério da Justiça e da Polícia Rodoviária Federal (PRF) à época dos acontecimentos.  

O documento, o mesmo que indiciou Jair Bolsonaro (PL) e outras pessoas, chegou ao Supremo Tribunal Federal (STF) em dezembro e enviado em seguida ao procurador-geral da República, Paulo Gonet, para a análise do material. 

Apesar de a investigação sobre as operações ter tramitado separadamente, o grupo responsável pelas blitzes pode representar mais uma parte do plano golpista para manter Bolsonaro no poder.  

“Os atos aqui descritos podem ser interpretados como parte da tentativa de abolição violenta do Estado democrático de Direito e parte da tentativa de golpe de Estado, previstos nos arts. 359-L e 359-M do Código Penal, atos estes investigados no bojo da Pet 12.100/DF do Supremo Tribunal Federal, como um núcleo especialmente dedicado à alteração criminosa do resultado das eleições presidenciais”, diz um trecho do relatório da PF.   

"Houve uma atuação orquestrada deliberada pelo ministro da Justiça, empregando recursos materiais e humanos do Ministério da Justiça, da Polícia Federal e da Polícia Rodoviária Federal como força armada para criar óbices e intimidação aos eleitores do Nordeste, com a finalidade de alterar o resultado das eleições presidenciais de 2022 e favorecer a manutenção na Presidência da República de Jair Messias Bolsonaro", escreveu a PF, na conclusão do relatório. 

Dados do Ministério da Justiça apontam que a corporação fiscalizou, entre os dias 28 e 30 de outubro, 2.185 ônibus no Nordeste, 893 no Centro-Oeste, 632 no Sul, 571 no Sudeste e 310 no Norte. Quanto às diárias pagas no primeiro e no segundo turnos, em 2 de outubro, foram aplicados R$ 500 mil, enquanto no dia 30 do mesmo mês foram cerca de R$ 13 milhões. 

Os bloqueios em estradas e rodovias foram feitos a despeito da determinação imposta pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE), que proibiu a realização de qualquer mobilização que pudesse restringir a locomoção de eleitores e eleitoras no dia de votação.   

As operações só foram interrompidas após o ministro Alexandre de Moraes, presidente do TSE, intimar Vasques e impor uma multa pessoal de R$ 100 mil por hora de decisão não cumprida. Com o fim das abordagens, nenhum eleitor foi impedido de exercer seu direito ao voto, segundo o tribunal eleitoral.

Edição: Nathallia Fonseca