O antigo prédio que abrigou o Centro de Operações de Defesa Interna (DOI-Codi) na Tijuca, zona norte do Rio de Janeiro, será oficialmente reconhecido como patrimônio histórico ainda em 2025. O local foi cenário de tortura e morte de dezenas de presos políticos durante a ditadura, entre eles o ex-deputado Rubens Paiva, retratado no filme "Ainda Estou Aqui", indicado ao Oscar.
Uma das principais agências de repressão política durante o regime militar, o órgão funcionava no prédio que hoje abriga o 1º Batalhão de Polícia do Exército. O posicionamento do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) de priorizar o tombamento do prédio segue recomendação do Ministério Público Federal (MPF).
O tombamento, cujo processo tramita no Iphan há mais de dez anos, é uma demanda de familiares de vítimas e organizações que lutam pela preservação da memória e pela justiça. Além de Paiva, a Comissão Nacional da Verdade (CNV) identificou outros 52 mortos ou desaparecidos por ação direta dos agentes do DOI-Codi), que funcionou de 1970 a 1979 na Rua Barão de Mesquita.
Com o reconhecimento, a expectativa é que o local se torne um centro de memória e resistência contra os regimes de exceção. A exemplo do que é hoje o Memorial da Resistência de São Paulo, inaugurado em 2009 no prédio do extinto Deops (Departamento Estadual de Ordem Política e Social).
Na recomendação para Iphan, o MPF solicita conclusão da fase de instrução do processo de tombamento em 2025, avalie a possibilidade de tombamento provisório e disponibilize informações sobre o andamento em seu site institucional. Para o MPF, a demora de mais de uma década na conclusão do procedimento é injustificada e prejudica a preservação do espaço como símbolo de memória histórica.
'Ainda Estou Aqui'
O filme indicado ao Oscar é baseado no livro homônimo de Marcelo Rubens Paiva sobre seu pai, Rubens Paiva, que foi vítima da ditadura militar brasileira, mas foca na história de Eunice Paiva, esposa do ex-deputado. Ele foi levado de sua casa, no Rio de Janeiro, por agentes do Centro de Informações da Aeronáutica (Cisa) em 20 de janeiro de 1971, e nunca mais foi visto com vida.
A produção do diretor Walter Salles já teve mais de 3,5 milhões de espectadores nos cinemas brasileiros. 'Ainda Estou Aqui' concorre ao Oscar deste ano nas categorias Melhor Filme Internacional e Melhor Filme. Já a atriz Fernanda Torres, que protagoniza o filme ao lado de Selton Mello, foi indicada como melhor atriz de drama.
O ex-deputado Rubens Paiva entre sua mulher, Eunice (à esq.), a sua mãe e os cinco filhos / Reprodução/Memorial da Democracia
Fonte: BdF Rio de Janeiro
Edição: Clívia Mesquita