Privilégio?

Reconstrução de Los Angeles, devastada por incêndios, é ameaçada por diferenças políticas de Trump

Presidente republicano rejeitou verba para Califórnia devido ao grande apoio aos democratas no estado

Brasil de Fato | São Paulo (SP) |
Devastada pelas chamas, Califórnia contava com a promessa de Joe Biden para receber apoio - FREDERIC J. BROWN/AFP

O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, fará sua primeira viagem de seu segundo mandato nesta sexta-feira (24) para a Califórnia, estado reduto do Partido Democrata que vive sob intensos incêndios florestais. Com a rivalidade política, a verba federal para a reconstrução de Los Angeles pode estar ameaçada.

Devastada pelas chamas, a região na costa oeste dos Estados Unidos, que até o momento registrou mais de 25 mortos, contava com a promessa do então presidente democrata Joe Biden (2021-2025) de receber apoio financeiro de Washington para se reerguer.

As ruínas de milhares de estruturas no bairro luxuoso de Pacific Palisades e em Altadena, ao norte de Los Angeles, exigem enormes trabalhos de limpeza. A ajuda federal que Biden aprovou por 180 dias deveria financiar esta operação.

Mas Trump, que retornou à Casa Branca na última segunda-feira (20) e enfrenta resistência política na Califórnia, acusa o estado de administrar mal seus recursos hídricos, referindo-se à falta de água para os bombeiros combaterem os incêndios.

"Acho que não devemos dar nada à Califórnia até que eles deixem a água correr", disse o republicano na última quarta-feira (22) em entrevista à emissora estadunidense Fox News.

Trump, um cético das mudanças climáticas, acredita que a Califórnia está ficando sem água por causa das políticas ambientais democratas que teriam desviado a água da chuva para proteger "peixes inúteis".

Diferentemente do que Trump acredita, a maior parte da água usada por Los Angeles vem do Rio Colorado e é usada principalmente no setor agrícola. Ainda assim, a velocidade e a intensidade das chamas na Califórnia sobrecarregaram a infraestrutura de combate a incêndios e levantaram questões sobre a preparação do estado.

Além das declarações, em sua retórica anti-imigratória e de deportação em massa, o republicano assinou um decreto que impede Washington de conceder ajuda financeira a cidades que se declaram "santuários" para imigrantes, como Los Angeles, governada pela prefeita democrata Karen Bass.

Assim, as autoridades locais temem que a verba aprovada pelo governo Biden não seja disponibilizada, ou que seja necessário mais tempo. A visita de Trump a Los Angeles também poderia colocá-lo frente a frente com o governador da Califórnia, Gavin Newsom, do Partido Democrata, e um dos principais líderes da oposição a Trump.

Segundo a imprensa dos EUA, o presidente será recebido em sua chegada, como é de costume, por Newsom, embora uma reunião não esteja na agenda do mandatário até o momento.

Na última semana, Newsom enviou uma carta a Mike Johnson, líder republicano na Câmara dos Deputados, para tratar do assunto. "Historicamente, a ajuda federal em tempos de desastre é dada de forma incondicional", disse ele na carta.

"Cálculos políticos ou divisões regionais não devem impedir os esforços de ajuda. Este princípio de unidade está no centro da resiliência de nossa nação", acrescentou o governador californiano.

A Procuradoria-geral da Califórnia espera que a ajuda federal chegue, mas, se necessário, afirmou que está pronto para ir aos tribunais caso o presidente republicano bloqueie a ajuda devido a divisões políticas.

"Estamos nos preparando para o governo Trump há meses e não hesitaremos em agir se acreditarmos que o presidente está violando a lei", disse a Procuradoria.

Ajuda para republicanos?

Durante sua primeira viagem como o 47º presidente dos Estados Unidos, Trump também visitará Nevada e a Carolina do Norte, estado onde venceu nas corridas eleitorais e foi atingido pelo furacão Helene em outubro passado - que deixou 104 vítimas.

O bilionário de 78 anos criticou duramente a maneira como Biden e sua vice-presidente Kamala Harris lidaram com a crise.

Trump afirmou, sem evidências, que algumas áreas do estado atingidas pelo furacão foram deixadas de fora dos esforços de ajuda porque votam predominantemente nos republicanos.

Com a chegada de Trump à Casa Branca, cidadãos da Carolina do Norte aguardam, com expectativa, ajuda federal para a reconstrução do estado. Enquanto isso, há atenção caso o presidente priorize, por razões políticas, o estado que fica no sudeste do país em detrimento da Califórnia.

*Com AFP 

Edição: Leandro Melito