O Serviço de Imigração e Alfândega dos Estados Unidos (ICE, na sigla em inglês) informou, na última quinta-feira (23), que centenas de imigrantes já foram presos nos primeiros dias do governo de Donald Trump, que promete “a maior operação de deportação da história”. Segundo os dados da agência, desde a posse do republicano na última segunda-feira (20), 538 pessoas foram presas e 373 foram colocadas sob detenção, em um método do ICE que solicita a extensão da custódia.
A secretária de imprensa da Casa Branca, Karoline Leavitt, confirmou os números, detalhando ainda que “centenas de imigrantes ilegais criminosos foram deportados por meio de aeronaves militares”. “A maior operação de deportação em massa da história está em andamento. Promessas feitas. Promessas cumpridas”, afirmou por meio da rede social X.
Segundo Leavitt, a partida dos “voos de deportação” foram iniciadas nesta sexta-feira (24). “O presidente Trump está enviando uma mensagem forte e clara para o mundo inteiro: se você entrar ilegalmente nos Estados Unidos da América, sofrerá graves consequências”, acrescentou.Também na quinta-feira, Ras Baraka, prefeito de Newark, na cidade de Nova Jersey, denunciou que agentes do ICE "invadiram um estabelecimento local, detendo moradores e cidadãos sem documentos, sem apresentar uma ordem judicial”.
Por meio de um comunicado no site da prefeitura de Newark, Baraka detalhou que “um dos detidos é um veterano militar dos EUA que sofreu a indignidade de ter a legitimidade de sua documentação militar questionada”.“Este ato flagrante é uma violação clara da Quarta Emenda da Constituição dos EUA, que garante 'o direito das pessoas de estarem seguras contra buscas e apreensões irracionais’”, denunciou o prefeito.“Newark não ficará de braços cruzados enquanto as pessoas são aterrorizadas ilegalmente”, ressaltou.
'Maior deportação em massa da história'
Trump prometeu reprimir a imigração de pessoas sem documentação durante sua campanha eleitoral e começou seu segundo mandato com uma série de ações para impedir as entradas nos Estados Unidos. O magnata também demonizou os migrantes durante sua campanha, descrevendo-os como "selvagens", "animais" ou "criminosos", e prometeu a maior deportação da história em um país onde cerca de 11 milhões de pessoas vivem sem documentação.
Em sua retórica, o republicano frequentemente usa a palavra "invasão" para se referir à entrada de imigrantes sem visto nos Estados Unidos e os acusa de envenenar o "sangue" do país. Na última terça-feira (21), informou que seu governo restabelecerá o programa Remain in Mexico (Fique no México) — uma política que ele implementou em seu primeiro mandato (2017-2021) — que envolve requerentes de asilo esperando no lado mexicano da fronteira enquanto sua petição é processada.
O presidente cancelou um programa que seu antecessor Joe Biden (2021-2025) havia criado para fornecer vias legais para solicitantes de asilo que fugiam da violência e denunciavam perseguição política. Esta medida afeta muitas pessoas de países da América Central e do Sul.Trump também suspendeu até novo aviso todas as chegadas aos Estados Unidos de refugiados que solicitaram asilo, incluindo aqueles que o obtiveram.
No início desta semana, o Congresso de maioria republicana aprovou uma lei para prorrogar a prisão preventiva de estrangeiros não-documentados suspeitos de crimes. Os decretos de Trump ainda incluem uma ordem executiva que busca restringir o direito à cidadania por nascimento nos Estados Unidos, consagrado na 14ª Emenda da Constituição, adotada na segunda metade do século XIX.
Contudo, um juiz federal em Seattle suspendeu temporariamente esta última ordem na quinta-feira, alegando “inconstitucionalidade”. Em resposta às ações do presidente republicano, a porta-voz do Alto Comissariado da ONU para os Direitos Humanos, Ravina Shamdasani, disse, também nesta sexta-feira, que enquanto os países "têm o direito de exercer sua jurisdição em suas fronteiras internacionais", devem lembrar que "o direito de buscar asilo é um direito humano universalmente reconhecido".
Shamdasani refere-se à Declaração Universal dos Direitos Humanos, adotado pela Assembleia Geral das Nações Unidas em 1948, para evitar que crimes contra a humanidade voltassem a ser cometidos, como durante a Segunda Guerra Mundial (1939-1945).“Todo ser humano, vítima de perseguição, tem o direito de procurar e de gozar asilo em outros países”, garante o documento, entre outros artigos que mencionam a migração e o direito à liberdade de locomoção.
*Com AFP
Edição: Leandro Melito