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Aos 22 anos de história, Brasil de Fato amplia audiência e mantém compromisso com olhar da classe trabalhadora

Num cenário de disputa com a extrema direita, veículo investe em diferentes linguagens e anuncia grade fixa no YouTube

Brasil de Fato | São Paulo (SP) |
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Brasil de Fato esteve em Douradina, no Mato Grosso do Sul, acompanhando a luta dos Guarani Kaiowá - Reprodução/Brasil de Fato

O Brasil de Fato (BdF) completa 22 anos, neste sábado, dia 25 de janeiro, com a proposta ampliar a oferta de conteúdo e chegar mais pessoas. Neste ano, o veículo que surgiu no formato impresso, quando foi lançado no Fórum Social Mundial de 2003, consolida sua estratégia de atuação em diferentes linguagens e anuncia uma grade fixa e diária de programação no YouTube. 

“Vai ser a nossa principal inovação para este ano, junto com o nosso contínuo investimento em projetos especiais”, conta Monyse Ravena, coordenadora de Áudio e Vídeo. Ela ressalta que a nova programação será construída em etapas, “mas a partir da primeira semana de fevereiro a gente já tem a reestreia do Três por Quatro, que é o nosso podcast de política nacional do BdF, e ele já volta no formato ao vivo”, diz.  

Com uma audiência que cresce ano a ano, o Brasil de Fato chega ao fim de 2024 com recorde de visualizações no site, 45% maior em comparação com 2023. Foram mais de 65 milhões de páginas visualizadas, por mais de 21 milhões de usuários. Isso quer dizer que o equivalente a cerca de 10% da população brasileira teve contato ao menos uma vez em durante o ano com o BdF.

Em um cenário global de fortalecimento da extrema direita, ocupar espaços com conteúdo crítico ganha ainda mais importância. Em dezembro de 2024, o empresário Mark Zuckerberg, dono da empresa de tecnologia Meta, que engloba as plataformas Facebook, Instagram e o aplicativo de mensagens WhatsApp, anunciou o fim do programa de checagem de fatos da empresa, criado em 2012 para conter a disseminação de desinformação em seus aplicativos de mídia social.  

A decisão de Zuckerberg facilita a disseminação de fake news e impõe um desafio para o jornalismo, que depende, ao menos em parte, dessas plataformas para chegar à audiência.   

“A gente tem um bom engajamento no YouTube, tem seguidores, tem o Instagram, mas todos esses canais de comunicação com a população não estão nas nossas mãos e nos nossos domínios. Então, se muda uma regra, a gente está à mercê disso”, avalia Nina Fideles, diretora-executiva do Brasil de Fato.   

Na data de publicação deste texto, o canal do YouTube do Brasil de Fato tinha 768 mil assinantes. Em 2024, os vídeos somaram mais de 36 milhões de visualizações. A videorreportagem “Máquinas chinesas para a agricultura familiar chegam ao Brasil” foi a mais assistida, com mais de 263 mil visualizações até a publicação deste texto.  

Com duração de 5 minutos e meio, o vídeo apresenta o depoimento de pequenos agricultores que tiveram acesso a essas tecnologias. “Isso vai otimizar o nosso tempo na roça, porque a gente também precisa ir pra feira”, comemorou a agricultora Antônia Diana da Silva, uma das entrevistadas.  

O vídeo, um sucesso de audiência, une três temas importantes para o projeto: a agricultura familiar, o respeito ao trabalhador e a produção de alimentos. São temas que falam sobre uma possibilidade de país pautado na soberania alimentar e na reforma agrária. 

“Não é de hoje que é importante a construção de contranarrativas que possam questionar, que possam apresentar o novo e que possam reverberar a luta da classe trabalhadora”, diz Fidelis.  

Compromisso com lutas populares 

Em 2024, as equipes de reportagem do Brasil de Fato estiveram em Douradina (MS), denunciando a violência dos ruralistas contra os indígenas Guarani Kaiowá e na Amazônia paraense registrando as consequências do avanço das plantações de soja na região oeste do estado.  

No período eleitoral, a equipe se dedicou a uma cobertura descentralizada sobre as eleições municipais, acompanhando debates em capitais, mas também em municípios onde as temáticas ambiental e agrária têm destaque, como em São Félix do Xingu, município com o maior rebanho bovino do país, onde o prefeito, um pecuarista, tentava reeleição. 

Em março de 2024, a reportagem exclusiva “Comercialização da morte: paulistanos denunciam assédio de funerárias durante o luto; notas fiscais mostram valores abusivos” abordou as consequências do modelo de privatização do sistema funerário na capital paulista. O tema, posteriormente, teve destaque durante as eleições, além de ter gerado ações para limitar os preços praticados pelas funerárias.

Esses exemplos ressaltam o compromisso da linha editorial com as lutas dos movimentos populares por direitos trabalhistas, preservação ambiental e proteção dos povos da floresta e das comunidades tradicionais.  

“Também temos a missão, para além de estimular esse senso crítico a partir de notícias. Notícias sobre temas que você vai encontrar em qualquer outro veículo, mas que aqui terão um olhar da classe trabalhadora", ressalta Nina Fideles.  

Outra comemoração de 2024 foi o lançamento do podcast de política internacional O Estrangeiro, com análises a partir de uma perspectiva do Sul Global. Para esse programa e outros conteúdos da editoria internacional, o BdF conta com correspondentes na Venezuela, Cuba, China, Estados Unidos e Rússia.    

“A gente olha para o mundo numa perspectiva internacionalista. A gente quer reverberar as lutas no Brasil para outros lugares do mundo, mas a gente também tem que olhar o todo, identificando movimentos que se constroem juntos, focando tanto nas lutas quanto nas resistências contra quem a gente deve lutar”, diz Fideles.  

Para ela, a cobertura e os produtos do Brasil de Fato acompanham as mudanças tecnológicas, mantendo o respeito à proposta original do projeto. “E eu acho que isso é um trunfo de quem construiu, de quem iniciou na construção e há um respeito de quem está hoje, com relação ao que foi construído”, celebra.  

Documentários 

Para o primeiro semestre de 2025, o Brasil de Fato prepara o lançamento de três documentários. Um desses especiais irá abordar a Tarifa Zero e a mobilidade urbana em São Paulo, “mas também trazendo um panorama internacional”, explica Monyse Ravena, coordenadora da área.   

O tema das máquinas chinesas para a agricultura familiar também ganha destaque em formato de documentário. Por fim, para celebrar os 40 anos da redemocratização, o Brasil de Fato trabalha em um documentário com foco nas questões de acesso à terra e reforma agrária.  

“Tudo que a gente tem, todo esse nosso esforço de renovação, de uma mudança de perspectiva, é um pouco resultado de um trabalho continuado dos últimos anos, mas ele talvez tenha uma urgência maior esse ano diante desse cenário de fortalecimento da extrema direita no mundo, em certa medida na América Latina, e mesmo no Brasil um contexto de uma de muito enfrentamento a esses setores da política”, conclui Ravena.

Edição: Rodrigo Chagas