FAMÍLIA

Crianças sem nada para fazer nas férias? 'O tédio é fundamental para o desenvolvimento humano', diz pedagoga

Com filhos em casa e pais trabalhando, é comum que os pequenos se queixem de 'não ter nada para fazer' ou busquem telas

Brasil de Fato | Recife (PE) |
Crianças brincam na fonte de água do Parque da Tamarineira, na zona norte do Recife - Edson Holanda/Prefeitura do Recife

As férias escolares nem sempre representam descanso e lazer para as famílias brasileiras. As crianças e adolescentes, agora em casa, demandam mais atenção dos pais, mães (principalmente) e demais responsáveis, esbarrando nas rotinas de trabalho dos adultos, cujos expedientes seguem os mesmos. Não é raro ouvir dos pequenos a queixa sobre "não ter nada para fazer", espaço que muitas vezes acaba sendo ocupado pelo uso de telas.

O que as famílias podem fazer, dentro das suas possibilidades concretas, para estimular essas crianças e adolescentes a se engajarem em atividades sem o uso de celulares e computadores? E qual o papel do poder público na garantia de alternativas de atividades - de lazer, esporte e cultura - para as crianças fora do período escolar? Para responder a estas e outras questões, o Brasil de Fato Pernambuco entrevistou Ana Cláudia Leite, pedagoga e consultora de Educação do Instituto Alana.

Uma das questões que a especialista afirma para as mães e demais responsáveis é que "o tédio é fundamental para o desenvolvimento humano". "Está sentindo tédio? Tudo bem. Lide com ele e veja o que surge. A criança vai ter que se pôr em movimento para resolver o tédio", diz Ana Cláudia Leite. "Ela vai ter que ler um livro, levantar do sofá e procurar algo para fazer, improvisar um brinquedo, olhar as formigas na parede… as crianças são muito melhores que os adultos na curiosidade e encantamento pela vida", completa a pedagoga.

Deixar que elas lidem com o tédio não significa se eximir do desafio de organizar atividades divertidas, mesmo que seja dentro de casa ou nas proximidades. "A criança precisa ter um ambiente organizado, em que ela consiga se sentir e brincar. Pode até ser com elementos simples, como tampinhas de garrafa, tecido, sementes, gravetos e pedrinhas. Ela precisa de elementos para criar o seu universo, imaginar", sugere Leite.

E o poder público?

Questionada sobre o papel das prefeituras e governos estaduais e federal na garantia do lazer, esporte e cultura para essas crianças no período de férias, a entrevistada cita equipamentos públicos como praças, parques e museus como opções que os órgãos devem oferecer como possibilidades à população.

Ana Cláudia Leite também cita a escolha por manter alguns espaços escolares - como quadras esportivas, parquinho ou espaços culturais - abertos à comunidade durante o período de férias, de modo que aquele sejam locais de encontro e uma opção de atividade esportiva ou cultural. "Tem essa discussão de como manter a escola funcionando e acessível à comunidade. Pensar como garante que aquele equipamento público seja de direito da comunidade, o uso para o bem comum", diz ela.

Na entrevista, a pedagoga e mãe também aborda a sobrecarga das mulheres com os trabalhos do cuidado e fala de outros temas relacionados aos desafios de cuidar dos filhos neste período de férias escolares. Ana Cláudia Leite é consultora do Instituto Alana, organização que atua há mais de 30 anos em defesa dos direitos das crianças e adolescentes.

A entrevista foi ao ar no Trilhas do Nordeste, programa semanal de entrevistas do Brasil de Fato Pernambuco. O Trilhas vai ao ar todas as segundas-feiras, às 19h45, na TVT São Paulo (canal 44.1) e no Youtube do Brasil de Fato Pernambuco. Assista à entrevista na íntegra.

Fonte: BdF Pernambuco

Edição: Vinícius Sobreira