A Cooperativa de Produção Agropecuária Vitória Ltda (Copavi), localizada no assentamento Santa Maria, em Paranacity (PR), está captando recursos de investidores interessados em apoiar projetos com propósito para aumentar sua produção de leite orgânico. A entidade busca arrecadar R$ 2,6 milhões até sexta-feira (31). Já arrecadou quase R$ 1,5 milhão.
A captação de recursos está sendo realizada pela plataforma Financiamento Popular para Produção de Alimentos Saudáveis (Finapop), criada em 2020. Por meio do Finapop, qualquer pessoa pode emprestar recursos para fomento à fomento às cooperativas ou assentamentos de Reforma Agrária em troca de uma remuneração anual.
No caso do projeto de produção de leite orgânico da Copavi, interessados podem emprestar a partir de R$ 100 e receber os recursos corrigidos por juro de 11% ao ano num prazo de 60 meses. Isso é mais do que paga a poupança e pouco menos do que pagam aplicações em renda fixa.
A operação segue regras definidas pela Comissão de Valores Mobiliários (CVM), autarquia federal que regula o mercado financeiro no país.
"O investimento é uma alternativa para quem quer aplicar seus recursos com propósito, pensando em rentabilidade, mas também no meio ambiente, na emergência climática e outros fatores", explicou Cristina Sturmer, economista e diretora de planejamento estratégico do Finapop.
Segundo ela, mais do que uma alternativa de investimento, o Finapop ainda é uma forma de levar crédito a quem precisa dele, mas não tem acesso. Ela disse que cerca de 70% das cooperativas financiadas pelo Finapop não conseguem um empréstimo bancário por questões burocráticas. Quando conseguem, precisam pagar juros de cerca de 2,5% ao mês, o que beira os 35% ao ano – mais que o triplo do prometido no Finapop.
"É muito difícil incentivar a produção com este nível de taxa de juros praticadas pelos bancos. Torna a produção inviável", alertou a economista.
Produção orgânica
Sturmer é assentada do Assentamento Santa Maria, onde fica a sede da Copavi. Disse que a cooperativa já obteve financiamento por meio do Finapop para um projeto ligado à produção açúcar, melado e cachaça feito da cana. Agora, quer investir em laticínios.
Tania Vieira Leite, diretora-presidente da Copavi, disse que a cooperativa já tem uma planta de processamento de leite, mas é pequena, com capacidade para processar até 500 litros por dia. Os R$ 2,6 milhões devem financiar a construção, os equipamentos e o capital de giro para uma nova planta de processamento de até 3 mil litros por dia.
"Queremos produzir principalmente queijos finos", explicou ela. "Hoje, nosso laticínio tem licença para vender produtos somente na nossa região. Com o laticínio maior, queremos vender produtos para todo o Brasil."
A presidenta reforçou ainda que toda produção de laticínios da Copavi é orgânica. A alimentação das vacas alimentadas com pasto sem uso de veneno e o manejo dos animais é feito com práticas agroecológicas.
Sturmer disse que, se o financiamento do Finapop for bem sucedido, o laticínio da Copavi deve ser um dos maiores produtores de leite orgânico do país, se não o maior. Além de queijos finos, a cooperativa está interessada na produção de iogurte e leite pasteurizado.
A Copavi foi fundada em 1993. Reúne 96 cooperados e cooperadas, que trabalham a terra de forma coletiva. Está presente hoje em 15 municípios da região noroeste do Paraná.
Como investir
Para emprestar dinheiro à Copavi, é preciso acessar o site do Finapop (finapop.com.br). Na página inicial, há um link "invista com propósito".
Clicando ali, aparecerão as opções de investimentos disponíveis. O empréstimo para a Copavi é a única ainda aberta para aportes.
Quando a cooperativa alcançar a meta dos R$ 2,6 milhões, a captação é encerrada. Há também uma meta mínima para investimento. São R$ 1,73 milhão. Se a captação não atingir este valor, a operação é cancelada.
"Os R$ 1,73 milhão é o mínimo definido pelo plano de negócios para conseguirmos construir o laticínio", explicou Sturmer.
A operação da Copavi é a maior já lançada pelo Finapop. Ela, como toda operação do Finapop, envolve riscos. Investidores devem estar ciente deles.
Desde 2020, 125 projetos foram financiados por meio da plataforma. Cerca de R$ 75 milhões foram destinados a cooperativas e associações, beneficiando 25 mil famílias, de 18 estados, mais o Distrito Federal.
Edição: Thalita Pires
