Política

Em votação questionada pelo Ocidente, Lukashenko é reeleito presidente de Belarus com quase 90% dos votos

Países europeus anunciaram novas sanções contra ex-república soviética, enquanto China e Rússia parabenizaram mandatário

Brasil de Fato | São Paulo (SP) |
País governado por Lukashenko foi alvo de sanções da Europa e acelerou proximidade com a Rússia - NATALIA KOLESNIKOVA/AFP

Alexander Lukashenko foi reeleito neste domingo (26) para um sétimo mandato como presidente de Belarus, país que fez parte da União Soviética (URSS), com 86,82% dos votos, segundo resultados preliminares da Comissão Eleitoral do país (CEC). Os resultados oficiais devem ser anunciados na próxima terça-feira (3). 

Lukashenko, que já governa o país há 30 anos e estendeu seu mandato para mais cinco, até 2030, venceu no pleito que permitiu que aproximadamente 6,9 ​​milhões de eleitores bielorrussos pudessem votar. 

Segundo a agência russa de notícias TASS, a votação antecipada, que começou na última terça-feira (21) até sábado (25), registrou a participação de 41,81% dos eleitores. Já a participação popular no domingo foi de 85,7%. 

Além de Lukashenko, a empresária Anna Kanopatskaya (que obteve 1,86% dos votos), o presidente do Partido Liberal Democrata, Oleg Gaidukevich (2%), o primeiro secretário do Comitê Central do Partido Comunista Bielorrusso, Sergey Syrankov (3,21%), e o presidente do Partido Republicano do Trabalho e Justiça, Alexander Khizhnyak (1,74%), estavam concorrendo ao mais alto cargo. 3,6% dos eleitores também emitiram seu voto na opção que rejeita todos os candidatos. 

Esta foi a primeira votação presidencial desde 2020, a qual também foi finalizada com a vitória de Lukashenko, e ocorreram protestos após eleições no país que foram consideradas fraudulentas por países europeus. 

Opositores de Lukashenko, que estão presos ou exilados, também acusam o presidente bielorrusso de reprimir os atos, classificando o pleito deste domingo como uma "farsa". A líder da oposição, Svetlana Tikhanovskaya, exilada na Polônia, agradeceu aos bielorrussos que se manifestaram no exterior contra Lukashenko no domingo.

"A coragem e a solidariedade deles são um lembrete poderoso de que os bielorrussos nunca deixarão de lutar pela liberdade, pela democracia e por um futuro europeu", disse ela.

Por sua vez, o líder de 70 anos, declarou após realizar seu voto: "Temos uma democracia brutal em Belarus. Não pressionamos ninguém e não silenciamos ninguém". 

Em discurso aos seus apoiadores na última sexta-feira (24), Lukashenko comparou os protestos de 2020 "como uma vacina”. 

"Todos os nossos opositores e inimigos devem entender: não tenham esperança, nunca haverá uma repetição do que tivemos em 2020", afirmou em um estádio na capital Minsk.

Diante da tensão política, mais de 300 mil bielorrussos, de uma população de nove milhões de habitantes, fugiram do país por motivações políticas, principalmente para a Polônia.

Reações

Em um envolvimento com a vida política de Belarus, após os atos de 2020, países ocidentais impuseram uma série de sanções ao país, levando Lukashenko a acelerar sua aproximação com a Rússia e a abandonar sua estratégia de se equilibrar entre Moscou e o Ocidente.

Após o pleito, a União Europeia reafirmou que "continuará impondo medidas restritivas e seletivas contra o regime" após a "farsa" da eleição presidencial, segundo declarou a chefe da diplomacia europeia, Kaja Kallas.

Em resposta à reeleição de Lukashenko, o Reino Unido anunciou novas sanções contra Belarus nesta segunda-feira (27), em coordenação com o Canadá.

As sanções afetam seis pessoas, incluindo o presidente da Comissão Eleitoral Central de Belarus, Igor Karpenko, e Andrei Ananenko, chefe do GUBOPiK [Agência governamental contra o crime organizado e corrupção], "uma das principais forças de segurança responsáveis pela perseguição política", de acordo com um comunicado do Ministério das Relações Exteriores britânico.

Em fevereiro de 2022, Lukashenko permitiu que a Rússia usasse seu território para lançar uma invasão à Ucrânia. Assim, três empresas de defesa "que apoiam a guerra da Rússia na Ucrânia" também são afetadas pelas sanções, acrescentou o comunicado.

Por outro lado, os presidentes da Rússia e da China parabenizaram Lukashenko por sua reeleição. Segundo o mandatário russo, Vladimir Putin, o pleito mostra que o o líder bielorrusso tem o apoio "inquestionável" do povo.

"Sua vitória convincente nas eleições atesta claramente sua grande autoridade política e o apoio inquestionável da população à política adotada por Belarus", disse Putin em uma mensagem publicada no site do Kremlin.

"Ele sempre será um convidado bem-vindo e querido em solo russo. Espero vê-lo em breve em Moscou", acrescentou.

Já o presidente chinês, Xi Jinping, "enviou uma mensagem de parabéns" a Lukashenko por sua reeleição, segundo informou a agência de notícias oficial chinesa Xinhua.

'Diversificar relações'

Após a reeleição, o presidente bielorrusso declarou que “agora a Bielorrússia está à procura de pontos de apoio em todo o mundo para diversificar as relações comerciais e econômicas”. 

Ao falar sobre a cooperação com a Venezuela, o presidente destacou que “as relações com a Venezuela são uma conquista nossa desde os tempos de Hugo Chávez”.

“Construímos fábricas de tratores, automóveis, tijolos, cidades e vilas inteiras, o que Hugo Chávez nos pediu. Portanto, não gostaríamos de perder a Venezuela de forma alguma e apoiamos essas relações”, disse ele.

Lukashenko lembrou que recentemente sua delegação governamental visitou demais países da América Latina, incluindo Nicarágua e Cuba, e que seu governo “continuará desenvolvendo o que iniciou” nessas nações. 

O mandatário também afirmou que busca aprofundar as relações com o Brasil, país do qual “sabemos que têm grande interesse na Bielorrússia por determinados produtos". “

*Com AFP, TASS e TeleSUR


 

Edição: Leandro Melito