Frágil cessar fogo

Milhares de palestinos retornam ao norte de Gaza após tensão sobre acordo entre Israel e Hamas

Tel Aviv bloqueou passagem no domingo (26), alegando que grupo palestino havia recuado em tratado de cessar fogo

Brasil de Fato | São Paulo (SP) |

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Retorno dos deslocados é "vitória" contra os "planos de ocupação" de Gaza e o "deslocamento" forçado dos palestinos, declarou o Hamas - BASHAR TALEB/AFP

Dezenas de milhares de palestinos deslocados pelo genocídio começaram a retornar, nesta segunda-feira (27), para suas casas no norte de Gaza após Israel e o grupo palestino Hamas acordarem a liberação de outros seis reféns após tensão sobre o acordo no último domingo (26).

Imagens mostram diversos habitantes de Gaza, homens, mulheres e crianças, caminhando, carregados de malas ou empurrando carroças, pela estrada costeira para o norte do território palestino.

Também se formaram longas filas de veículos em Nuseirat, em virtude da previsão da abertura da passagem para os automóveis, o que deve acelerar ainda mais esse enorme movimento de retorno.

O avanço ocorreu após Israel impedir, no último domingo (26), o retorno da população palestina à região. Como parte do acordo de cessar-fogo que começou em 19 de janeiro, Tel Aviv deveria permitir que os habitantes de Gaza deslocados atravessassem o corredor e voltassem para suas casas. 

O Hamas também havia garantido que a passagem poderia ser feita a partir do último sábado (25), no mesmo dia em que outras três reféns foram libertadas em troca por prisioneiros palestinos mantidos em Israel. 

Israel, no entanto, acusou o Hamas de renegar o acordo ao não libertar Arbel Yehud, mulher civil que foi capturada durante o ataque de 7 de outubro de 2023. 

Após a tensão, “intensas e determinadas negociações”, o gabinete do primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, afirmou ter recebido “uma lista com a situação de todos os reféns" vivos ou mortos que podem ser liberados na primeira fase do acordo, que deve durar seis semanas e permitirá a liberação de um total de 33 reféns contra 1.900 prisioneiros palestinos.

No acordo, foi alcançado que Arbel Yehud será libertada na próxima sexta-feira (31), e outros três reféns no sábado (1). 

Esse retorno dos deslocados é uma "vitória" contra os "planos de ocupação" de Gaza e o "deslocamento" forçado dos palestinos, declarou o Hamas após os acordos. 

Contra o deslocamento forçado de Trump

O Hamas, a Autoridade Nacional Palestina (ANP) - governo alcançado para administrar a Faixa de Gaza após os acordos de 1993 - e diversos países árabes denunciaram no último domingo (26) a proposta do presidente estadunidense, Donald Trump, de "limpar" a Faixa de Gaza, enviando seus habitantes ao Egito e à Jordânia.

Trump comparou a Faixa de Gaza, devastada pela guerra e submersa em uma grave crise humanitária, a um "local de demolição".

"Gostaria que o Egito recebesse pessoas e gostaria que a Jordânia recebesse pessoas", declarou o mandatário republicano.

No entanto, tanto Jordânia, que acolhe atualmente 2,3 milhões de refugiados palestinos, como o Egito rejeitaram qualquer projeto de "deslocamento forçado" da população local.

A Liga Árabe, organização internacional que reúne países árabes do norte da África e do Oriente Médio, alertou contra as "tentativas que buscam desterritorializar palestinos de sua terra", qualificando-as como "limpeza étnica".

*Com AFP
 

Edição: Leandro Melito