Desde o início da tarde desta terça-feira (28), vias estratégicas de acesso à Casa Civil e ao Palácio do Governo do Pará foram interditadas por forte aparato policial em Belém (PA), após anúncio de primeira reunião entre o governador Helder Barbalho (MDB), lideranças indígenas e professores não indígenas, que aconteceria às 15h, com a presença da Ministra dos Povos Indígenas, Sônia Guajajara.
O movimento ocupa a Secretaria de Educação do Estado (Seduc) há 15 dias e há quatro, os professores da rede estadual anunciaram greve, mas até o momento os grupos não haviam sido recebidos pelo governador.
Entre as ruas fechadas e sob chuva, professores grevistas denunciam que a interdição durante toda a tarde foi uma tentativa de desmobilização, mas reforçam a continuidade da ocupação e greve até a revogação da Lei 10.820 e da saída do atual secretário de Educação, Rossieli Soares.
"Isso é uma prática muito visual do governo. Ele sempre tenta desmobilizar, tenta separar a nossa pauta da pauta dos indígenas, que na verdade é a mesma pauta. Hoje a gente luta para revogar essa lei, também pela exoneração desse bandeirante que veio aqui ser o mercador da nossa educação", afirmou ao Brasil de Fato o professor Bruno Nascimento, presente ao ato. Ele faz referência a Rossieli, que já foi secretário de Educação de São Paulo, durante do governo de João Doria (PSDB), e ministro da área do governo de Michel Temer (MDB), após o golpe que derrubou a presidenta Dilma Rousseff (PT).
Os professores seguiram nas ruas e se encontraram com os povos indígenas em frente ao Palácio do Governo por volta de 18h30, onde um grupo de 40 lideranças seguiu para o diálogo com Barbalho, sob a proibição de acesso da imprensa, de comunicadores indígenas e retenção de aparelhos celulares, que foram adesivados com os seus respectivos nomes, o que foi denunciado pelo movimento como mais um ato de censura.
Quarto dia de greve da rede de educação
No quarto dia de greve, o Sindicato das Trabalhadoras e dos Trabalhadores em Educação Pública do Estado do Pará (Sintepp) realizou mais uma assembleia geral, que aprovou por unanimidade a continuidade do movimento paredista. Após a assembleia, os professores realizaram uma caminhada e ocuparam o prédio da Secretaria da Fazenda do Pará.
"Fomos até a secretaria denunciar a nossa insatisfação com o governo Helder, principalmente com a forma como o Rossieli está conduzindo a educação no estado do Pará. É um secretário autoritário, não dialoga. E tem levado o adoecimento para a categoria a partir do assédio que está sendo feito", afirma Mateus Ferreira, diretor do Sintepp.
Segundo ele, a avaliação do sindicato é de uma greve forte, que alcança mais de 60 municípios no estado, rebatendo afirmações do governo. "Você pode frequentar a maioria das escolas, inclusive os alunos não estão indo para as escolas porque já reconhecem o movimento grevista. E o governo segue nessa linha de autoritarismo, de querer desqualificar a nossa luta", avalia Ferreira.
O professor complementa ainda que a categoria prepara um ato para os próximos dias, provavelmente na sexta-feira (31), e também vai solicitar uma audiência com o governador.
Em paralelo a isso, manifestantes também realizaram ato no município de Castanhal, a 75 km de Belém, na inauguração de um projeto social, que também foi reprimido pela Polícia Militar.
A reunião entre indígenas e o governador não havia terminado até a publicação desta matéria. Do lado de fora, o movimento aguarda entoando cânticos indígenas até receber resoluções.
Edição: Nicolau Soares