Uma pesquisa divulgada nesta quarta-feira (29) pelo PoderData revelou que 51% dos brasileiros desaprovam o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), o maior índice desde o início de sua gestão. A aprovação ficou em 35%, enquanto 14% dos entrevistados não souberam opinar.
Na segunda-feira (27), outra pesquisa, desta vez da Quaest, já apontava tendência semelhante, com a desaprovação superando a aprovação: 49% dos entrevistados disseram desaprovar o governo, contra 38% de aprovação e 13% que não opinaram.
Para entender os motivos por trás desse cenário, o programa Central do Brasil conversou com o cientista político Paulo Ramires, que analisou os fatores econômicos, políticos e sociais que impactam a popularidade do governo federal.
"Houve, principalmente no segundo semestre, uma pressão inflacionária, além da desvalorização do real e das pressões do mercado financeiro", explicou ele. Entre os motivos para a alta da inflação está a prática do agronegócio, que prioriza a exportação em detrimento do abastecimento interno, deixando os preços sujeitos às variações do mercado internacional.
Outro ponto crucial que ajuda a explicar a queda da popularidade de Lula é o uso intensivo das redes sociais pela extrema direita para disseminar notícias falsas. "A queda da aprovação do governo Lula também se deve à intensificação, por parte da extrema direita, do uso das redes sociais. Casos como o do Pix e a propagação de informações mentirosas têm impacto direto na opinião pública", afirmou Ramires. Prevendo esse cenário, o presidente iniciou uma reforma ministerial no início do ano, trocando o ministro da comunicação. O publicitário Sidônio Palmeira, que foi marqueteiro da campanha de Lula em 2022, substituiu Paulo Pimenta.
Apesar dos desafios, o governo Lula registra avanços em áreas como a redução do desemprego e o aumento da renda das famílias. No entanto, esses dados positivos parecem não refletir na popularidade.
"Existe toda uma contrainformação financiada por partidos de extrema direita, uma rede internacional que influencia a opinião pública", ressaltou Ramires. Ele destacou a necessidade da esquerda se adaptar às novas linguagens das redes sociais e criar fundos para financiar sua presença nesse espaço, dominado pela direita.
O governo também enfrenta desafios no Congresso, onde a extrema direita está organizada para impor derrotas nas votações. Um dos temas que gerou desgaste foi a proposta do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, de isenção do imposto de renda para quem ganha até R$ 5 mil.
"É muito difícil, já que o Congresso é dominado por conservadores e por aqueles que detêm o poder econômico, o que dificulta a elevação de impostos sobre fortunas. E, ao mesmo tempo, houve essa visão negativa do mercado, porque, claro, anular impostos, imposto de renda sobre quem ganha até R$ 5 mil, acaba gerando um déficit nas contas públicas. Porém, esse déficit seria perfeitamente corrigido se fosse feita uma justiça fiscal, ou seja, o aumento dos impostos sobre os mais ricos", explicou Ramires.
Apesar dos desafios, Ramires acredita que a mudança no Ministério da Comunicação e a adoção de uma linguagem mais adaptada às redes sociais podem melhorar a imagem do governo a médio prazo. "O governo está começando a reagir, e pode ser que daqui a um ano esses resultados sejam diferentes", afirmou. No entanto, ele alerta para a necessidade de o governo enfrentar a queda de braço com o setor financeiro e o Congresso, especialmente em temas como o controle da inflação dos alimentos e a justiça fiscal.
"É uma batalha difícil, mas fundamental para garantir o bem-estar da população", concluiu Ramires.
Confira a entrevista e outros assuntos no programa completo, disponível no YouTube do Brasil de Fato.
Veja também
Começa o Ano Novo Chinês, e o animal da vez é a serpente. Na China, milhões de pessoas devem se deslocar no feriado, que dura uma semana.
No Brasil, mais de 2 mil pessoas foram resgatadas em condições de trabalho análogas à escravidão em 2024, segundo dados do Ministério do Trabalho e Emprego.
E na linha de frente do combate ao trabalho escravo, auditores fiscais do trabalho estão descontentes, relatando que a categoria sofre uma espécie de censura.
O Central do Brasil é uma produção do Brasil de Fato. O programa é exibido de segunda a sexta-feira, ao vivo, sempre às 13h, pela Rede TVT e por emissoras parceiras.
Edição: Thalita Pires