Democracia reclama pluralidade. Olhares diversos constroem políticas públicas mais efetivas, legislações inclusivas e decisões judiciais que contemplam realidades múltiplas. Todos nós queremos viver em um país efetivamente democrático.
Quando a ministra presidente do Superior Tribunal Militar (STM), Elizabeth Rocha, se posicionou publicamente criticando a baixa representatividade feminina nos espaços de poder, ela foi sincera e trouxe o que está no coração de todas as mulheres, não só daquelas que são da área jurídica.
Ela traduziu um sentimento real, que está permeando mais de 50% da sociedade. É essa postura que esperamos das mulheres que estão nos espaços de poder, que sejam a nossa voz. Trazer um reclamo tão necessário é um contributo efetivo para que o governo possa acertar o passo.
É também importante destacar, ainda acerca desta potente manifestação, que das pessoas honestas é possível saber o que esperar: a coragem. Na obra Como distinguir um adulador de um amigo, Plutarco explica que o adulador é tal qual como água, molda-se aos vasos que deseja caber. O amigo é constante, é sincero, o abraça nas celebrações e o critica em suas falhas. Quem te encoraja a errar não é seu amigo. Quem o corrige está lhe indicando como acertar a rota.
No dizer de Aristóteles, "a coragem é a escada por onde todas as virtudes sobem".
Felizmente temos exemplos de mulheres extraordinárias que foram indicadas pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) para ocupar posições importantes dentro do Poder Judiciário. Destacamos a ministra Daniela Teixeira, que está fazendo um trabalho brilhante no Superior Tribunal de Justiça (STJ), as ministras Vera Lúcia Santana e Edilene Lobo, ambas do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), a desembargadora Selma Leão, no Tribunal Regional do Trabalho da 8ª Região (TRF-8), dentre outras.
Contudo, é necessário lembrar que há outra lista… uma outra lista, a de mulheres brilhantes que se colocaram na disputa por cargos aos quais tinham absoluta competência para assumir, mas não foram nomeadas. Mesmo apresentando a mesma competência e destacada trajetória profissional em relação aos homens que foram nomeados. Eis a questão! Ninguém defende que mulheres sejam escolhidas por serem mulheres. Defendemos que não deixem de ser escolhidas por serem mulheres, porque é o que vemos acontecer.
O fato inegável que se coloca é: existe uma disparidade de gênero nos espaços de poder! Os dados demonstram isso e são facilmente localizáveis. Desnecessário replicá-los aqui. Certo é que essa maioria masculina que está ocupando esses ambientes chegou lá, majoritariamente por nomeações de governos progressistas, visto que de 22 anos para cá tivemos apenas 7 anos de governos de centro e extrema direita.
Então, diante disso, o que se impõe é um dever de compromisso por parte do chefe do Poder Executivo Federal em reparar esse estado de coisas, reconhecendo que se os números apresentam esse cenário de imenso desequilíbrio de gênero, tal situação se instalou, em larga medida, por força de decisões oriundas de governos de esquerda.
Se existem mulheres competentes e comprometidas com as pautas progressistas, como é o caso da desembargadora Daniele Maranhão que está disputando uma vaga para o STJ, o presidente precisa olhar para o contexto histórico e ter a sensibilidade de buscar corrigir esse desequilíbrio.
Não se trata de uma disputa de mulheres contra homens. É uma luta em prol da qualidade material da nossa democracia. Precisamos avançar. Precisamos amadurecer enquanto nação. E isso só acontecerá quando os ambientes decisórios forem efetivamente plurais.
Estamos do mesmo lado da trincheira. Precisamos que os homens entendam isso e não vejam os nossos pleitos como uma ameaça ou um enfrentamento (principalmente quem tem o poder da caneta na mão).
Temos a certeza de que, caminhando todos juntos, a vitória será da democracia!
*Coalizão Nacional de Mulheres, movimento que reúne lideranças feministas de todo o Brasil. Siga a Coalizão no Instagram.
**Este é um artigo de opinião e não necessariamente representa a linha editorial do Brasil do Fato.
Edição: Thalita Pires