Neste sábado (1), quando Lélia Gonzalez completaria 90 anos de vida, pela primeira vez, uma grande festa será montada na Gamboa, no Rio de Janeiro (RJ), para o público celebrar a memória e o legado da intelectual brasileira. No melhor estilo carnaval carioca, o evento inicia logo às 8h da com o cortejo do bloco Prata Preta.
Toda a programação é gratuita e acontece no Museu da História e da Cultura Afro-Brasileira, R. Pedro Ernesto, 80, Gamboa.
A escritora que cunhou termos como “amefricanidade” e “pretuguês”, faleceu em 1994, no Rio de Janeiro.
Marcelo de Lima, neto da intelectual e um dos fundadores do Instituto de Memória Lélia Gonzalez, conta que tem poucas memórias da “Lélia avó”, afinal ele tinha sete anos quando ela faleceu.
No entanto, da “Lélia intelectual eu tenho muito mais porque eu pesquisei muito o legado dela”, conta em entrevista ao programa Bem Viver desta sexta-feira (31).
“A Lélia intelectual eu acabei descobrindo por conta do racismo e somente no início dos anos 2000, por conta de um livro”.
Na entrevista, o neto conta mais detalhes do apagamento que até hoje vive Lélia Gonzalez no Brasil.
Sobre o evento deste sábado, a programação completa pode ser acessado no instagram do Instituto.
Após o cortejo inicial, às 10h, acontece uma roda de conversa sobre o legado da escritora que contará com a presença de Jurema Werneck, diretora executiva da Anistia Internacional Brasil, a ativista e ex-deputada, Jurema Batista, entre outras pensadoras negras. O papo será mediado pela neta de Lélia Gonzalez, Melina de Lima.
Ao meio dia terá a abertura oficial da exposição Festas e Resistências: o sagrado e o popular na arte brasileira. E ao longo da tarde a programação segue com mais debates, rodas de samba e DJ’s.
Marcelo de Lima ressalta que a ideia é que o evento de celebração de 90 anos de Lélia Gonzalez se estenda ao longo do ano, acontecendo em outras cidades do país. Mas a programação ainda não tem data, nem cidades confirmadas.
Confira a entrevista na íntegra
Que memória você tem de sua avó?
Eu tenho poucas memórias da minha avó, da minha avó Lélia, né? Eu a chamo assim, porque Lélia González, a intelectual, eu tenho muito mais, porque eu pesquisei muito o legado dela.
Minha avó faleceu em 1994, eu tinha 7 anos. Então lembro muito de ir na casa dela em Santa Teresa, de passear com ela de bondinho ali. A gente fazia muito passeio de final de semana.
Ou de algumas memórias como ela brigando com o meu pai porque não estava fazendo comida para a gente, ela era meio dura com ele, sobre o cuidado com a gente.
E a Lélia intelectual eu acabei descobrindo por conta do racismo, eu acabei descobrindo quem ela era ela somente no início dos anos 2000, por conta de um livro que trazia as 500 mulheres mais importantes do Brasil em alusão aos 500 anos de descobrimento. E quando eu vi que uma delas era a minha avó, eu entendi que se tratava de uma pessoa importante.
Mas eu tenho certeza que essa demora pelo reconhecimento, a demora por ela ser mais lida e levada para as universidades e os textos dela serem referenciados no Enem, por exemplo, é muito pelo que ela já falava: o racismo estrutural.
Talvez se ela fosse uma mulher branca, falamos sobre feminismo, e aí um feminismo numa construção francesa, ali de Simone de Beauvoir, ou seja, um feminismo branco, com certeza ela teria tido mais voz e mais espaço para falar.
É o que ela explicou sobre interseccionalidade, que significa que a mulher negra está abaixo, até mesmo dentro do feminismo na disputa por melhores condições, de modo que a mulher negra fica pra trás até da mulher branca, afinal, a mulher negra ficava na casa da mulher branca para que ela pudesse sair às ruas para fazer os enfrentamentos que eram necessários… tudo isso são os motivos que fazem que ela só tenha o reconhecimento agora.
Por exemplo, o aumento do número de pessoas negras, de mulheres negras nas universidades, faz com que pessoas cobrem isso e consequentemente busquem referências negras para seus estudos. Por isso esses intelectuais negros começam a aparecer com mais força nos últimos 10 anos, alguns mais outros menos, cada um durante o seu tempo.
Sobre minha avó, eu entendo que a partir de 2019, depois do lançamento do documentário Amarelo, do Emicida, houve um crescimento diferenciado.
Como começou a ideia de construir o Instituto?
Eu, principalmente, tinha um sonho de ter um instituto que desse conta do legado da minha avó e promovesse o acesso a essa cultura antirracista, para que jovens negros a tivessem acesso a outras formas de entender os debates da sociedade.
Mas isso era uma coisa que eu guardava para mim, que eu nunca tinha conversado muito com meu pai, minha irmã.
Mas, a partir de 2013, quando o projeto do Memória Lélia Gonzalez é lançado, a demanda por Lélia começa a aumentar um pouco. Surgem algumas pesquisas, edição de livros ou de algum escrito dela… e aí eu, meu pai e minha irmã começamos a nos organizar com o minha tia e criamos um grupo de WhatsApp. E a gente começou a lidar com essa ideia, mas ainda sem estrutura.
Pra mim era algo difícil de se concretizar, que seria, sei lá, só quando eu tivesse perto da minha aposentadoria, porque demanda tempo, dinheiro, atenção para você fazer um trabalho como esse.
Mas a partir do documentário Amarelo, o avalanche de procura foi muito grande e a gente começou a se estruturar mais. Então a gente começou com um projeto Lélia González Vive, que está no Instagram até hoje, mas inicialmente ele tinha uma proposta de dar acesso de maneira mais informal dos pensamentos em comunicar um pouco mais com o público jovem.
A partir daí, o projeto se organizou como Instituto, com pessoas que nos apoiavam no Lélia Gonzalez Vive. Era um trabalho voluntário, que só agora a gente trabalha na perspectiva de buscar um financiamento para considerar uma continuidade nas nossas ações e coisas novas, como é o caso que vai acontecer amanhã, sábado, 1º de fevereiro.
Qual era a relação dela com o samba? Porque é algo que aparece muito nas publicações dela.
Eu acho que muito da inovação que ela traz na escrita se relaciona com ela escrever sobre o dia a dia dela. E sobre como ela enxergava como o racismo se dava no cotidiano e nas pequenas relações.
Então era uma pessoa que estava muito na rua, uma pessoa de festa, de muito axé de muita alegria, uma pessoa muito animada. A relação dela com o samba é natural, a família toda gostava de samba, sempre foi assim.
Inclusive, coincidentemente, eu nasci no Dia Nacional de Samba, dia 2 de dezembro.
Por outro lado, ela era uma pessoa muito dedicada ao que ela fazia, ser professora, sempre muito preparada para debater. Então, ela tinha muitos momentos de estudo.
Ela não sabia datilografar, então ela escrevia tudo à mão, e aí meu pai batia quem batia na máquina. Ele que escrevia os livros, a maioria deles.
Meu pai me conta que, para ele, reler os livros muitas vezes é mais para relembrar as memórias que ele teve com a mãe dele do que propriamente para discutir questões profundas do racismo.
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Edição: Nathallia Fonseca