Donald Trump decidiu suspender por 90 dias a ajuda que os Estados Unidos enviam para programas no exterior. Essa decisão tem um impacto direto sobre programas de combate e tratamento de HIV/Aids em todo o mundo, principalmente na África Subsaariana.
A Organização Mundial da Saúde já se pronunciou sobre essa decisão, e afirmou que o mundo pode regredir aos anos 1980 e 1990, quando milhões de pessoas morreram de Aids globalmente.
Para entender melhor os impactos deste corte de recursos, o Central do Brasil dessa sexta (31) entrevistou Jesem Orellana, infectologista e pesquisador da Fiocruz. Ele afirma que essa decisão de Trump pode dificultar ainda mais o controle da pandemia de HIV/Aids, criando uma situação sem precedentes no mundo.
"Nós estamos falando de uma doença infecciosa, de uma doença transmissível, que se falharmos e regredirmos nas estratégias de prevenção, diagnóstico, acompanhamento, gerenciamento desses casos, nós, de fato, podemos estar nos aproximando de um momento bastante difícil e, sem dúvida, de um enorme retrocesso em relação ao combate dessa importante causa de adoecimento e morte."
A decisão do Trump também proíbe que os medicamentos já comprados com fundos dos Estados Unidos sejam entregues para as pessoas que fazem tratamento. Orellana alerta para as consequências dessa medida.
"A suspensão dessa terapia pode significar não apenas a possibilidade de nova disseminação, como também mais mortes. Seria diferente se nós estivéssemos falando de uma doença onde o tratamento é pouco relevante, ou com vacina disponível. No caso do HIV, nós ainda não temos essa vacina e o medicamento segue sendo a esperança de qualidade de vida para milhões de pessoas no mundo", analisa o pesquisador.
O especialista ainda explica que a disseminação de outras doenças, bem como o surgimento de novas cepas do vírus HIV, são preocupações importantes nesse contexto.
"Quando você tem uma doença como a Aids, você se torna um indivíduo mais vulnerável para outras doenças oportunistas. Não é por acaso que boa parte das pessoas infectadas por HIV morre por outras doenças que acabam fragilizando a saúde desse indivíduo. Neste momento não podemos dizer que há uma disseminação descontrolada do HIV em determinadas regiões do mundo, mas se você deixar de cobrir essas regiões com tratamento, você pode ter muito mais gente se infectando ao mesmo tempo, muito mais gente adoecendo ao mesmo tempo, e é justamente nesse momento que pode ocorrer uma coinfecção, novas mutações e problemas que nós sequer podemos calcular as consequências."
Confira a entrevista e outros assuntos no programa completo, disponível no YouTube do Brasil de Fato.
Veja também
Após ameaças de Trump, Haddad afirma que Brasil deve fortalecer laços comerciais com a China e a União Europeia.
E ainda: população de Mali, Níger e Burkina Faso celebra saída dos países de bloco econômico ligado à França.
O Central do Brasil é uma produção do Brasil de Fato. O programa é exibido de segunda a sexta-feira, ao vivo, sempre às 13h, pela Rede TVT e por emissoras parceiras.
Edição: Nicolau Soares