JUSTIÇA TRIBUTÁRIA

Existência de bilionários é 'contrassenso civilizatório', diz economista

Para Weslley Cantelmo, doutor pela UFMG, medidas de taxação são urgentes

Brasil de Fato | Belo Horizonte (MG) |
Cartaz protesta por taxação de bilionários na abertura do encontro do G20 no Rio de Janeiro
Cartaz protesta por taxação de bilionários na abertura do encontro do G20 no Rio de Janeiro - #taxaosbi

Nesta quinta-feira (30), o presidente Lula afirmou que o projeto para isentar o Imposto de Renda para quem recebe até R$ 5 mil por mês será enviado ao Congresso Nacional em breve, mas que ainda passa por ajustes. 

Lula ainda sinaliza que o pacote deve incluir, como forma de compensar a renúncia, a proposta de taxação dos super-ricos. A medida deve ser analisada pelos deputados federais ainda neste ano. Em 2024, a inclusão dos super-ricos na tributação contribuiu para que o Brasil arrecadasse R$ 2,65 trilhões, o que representa um crescimento de 9,62% em relação a 2023.

Em todo o Brasil, movimentos populares, partidos políticos, centrais sindicais e outras entidades planejam organizar na semana do 7 de setembro um plebiscito popular sobre a medida. O objetivo é estimular o debate na sociedade sobre as distorções no sistema tributário brasileiro, consultar a população sobre a taxação das grandes fortunas e pressionar o governo e os parlamentares pela aprovação do projeto.

Weslley Cantelmo, doutor em economia pelo Centro de Desenvolvimento e Planejamento Regional da Faculdade de Ciências Econômicas (Cedeplar) da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), destaca que a taxação das grandes fortunas seria positiva para a maioria. Ele ainda avalia que, por si só, a existência de bilionários é um “contrassenso civilizacional”. 

“O neoliberalismo acentuou uma dinâmica que já é do próprio capitalismo, de concentração da riqueza, e isso tem levado a distorções gigantescas. Taxar grandes fortunas e super-ricos é uma realidade quase que incontrolável, se a gente quiser ter algum grau de civilidade na nossa sociedade. O aperto que a população da parte de baixo da pirâmide sente tem relação com a maior acumulação da parte de cima”, avalia. 

“Eu acho que já passou da hora de enfrentar essa questão. A taxação de grandes fortunas como mecanismo de financiamento de políticas de contenção de danos e de um bem-estar mínimo para as pessoas que estão convivendo com a frustração é algo mais do que urgente”, continua.

Contrários à proposta utilizam frequentemente o argumento de que, ao modificar as regras de tributação no Brasil, o capital “sairia” do país, prejudicando a economia e os negócios e, consequentemente, aumentando o desemprego. 

Na realidade, de acordo com Weslley Cantelmo, a medida é uma condição para que o sistema capitalista, como tem funcionado, não entre em colapso. Para o economista, a taxação das grandes fortunas só traria bons resultados e, mesmo diante da disputa que deve se abrir pela destinação dos recursos arrecadados, a população mais pobre deve ser beneficiada. 

“Tem um potencial de ser mais um elemento a ser apropriado pela classe trabalhadora, pelas pessoas, por esse Brasil popular que anseia por uma série de melhorias e de investimentos. Temos um déficit infraestrutural enorme, com questões básicas de saneamento, educação, etc. Uma medida como a taxação das grandes fortunas reforçaria uma nova possibilidade para que a gente disputasse o orçamento do Estado nesse sentido”, reforça.


 

Fonte: BdF Minas Gerais

Edição: Elis Almeida