Na tarde desta sexta-feira (31), professores da rede estadual de ensino realizaram a Marcha Estadual em Defesa da Educação Amazônica, em Belém (PA). A manifestação reuniu também indígenas, quilombolas, pais, estudantes e sociedade civil organizada em defesa da revogação da Lei 10.820/2024 e exoneração do secretário de educação Rossieli Soares.
Com concentração na Praça da República, palco de manifestações históricas, foram entoados cantos como "Fora Helder Barbalho, Helder Barbalho fora. Pega o secretário Rossieli e vá embora".
Seguindo para o 20º dia de ocupação neste sábado (1), o movimento ganha mais força com a adesão de artistas paraenses e nacionais à causa, a exemplo de Felipe Cordeiro, Anitta, Alok e Dira Paes, que declararam apoio nas redes sociais. Até mesmo a atriz internacional da série La Casa de Papel, Itziar Ituño, publicou vídeo em apoio ao movimento.
"Estamos aqui para apoiar o movimento que não é só dos professores, porque a educação é um movimento de transformação da sociedade para melhor e qualquer liderança de comunidade sabe que para seu lugar melhorar, precisa de educação de qualidade. Só o governador não entende isso? Ou ele não quer que a gente tenha acesso à educação para não questionar ele?", pergunta durante a marcha o quilombola Josias Santos, do Alto Acará Amarqualta.
O governador Helder Barbalho se manifestou em vídeo público nesta sexta-feira (31), mas cerca de dez minutos depois, a publicação foi excluída. Nela, ele negava a transição de educação presencial para educação à distância nas aldeias do Pará, não mencionava a Lei 10.820/2024 e acusava o movimento de propagar fake news.
"As demandas foram 100% atendidas. O diálogo foi fundamental para a construção do princípio do acordo, no entanto, a ocupação continua. As demandas apresentadas e atendidas, com compromissos firmados, estranhamente passaram a deixar de ser o ponto central para que o grupo de manifestantes pudesse sair", pontuou o governador.
Tentativas de encerrar greve e ocupação
Por sucessivas vezes, o governador Helder Barbalho (MDB) tem tentado alternativas de encerrar a greve de professores e ocupação da Seduc – segundo denuncia o movimento, por meio de cooptação de lideranças, uso de força policial, propagação de fake news, censura à imprensa e, por fim, através de mecanismos judiciais.
Na tarde desta quinta-feira (30), a desembargadora do Tribunal de Justiça do Pará (TJ-PA) Luzia Nadja, em atenção a um pedido do Governo do Estado, concedeu liminar declarando abusiva a greve dos trabalhadores da educação pública do Estado do Pará, sob pena de multa diária de R$ 60 mil.
Em nota, o Sindicato dos Trabalhadores e Trabalhadoras em Educação do Estado do Pará (Sintep) garante manutenção da greve e que não foi notificado sobre a liminar do TJ-PA. "Esse ataque à nossa luta já era esperado, considerando o autoritarismo de Helder e a subserviência do Poder Judicial", complementando que "todas as atividades estão mantidas e vamos enfrentar essa decisão".
Já na manhã desta sexta-feira (31), a juíza federal Maria Carolina Valente do Carmo, acompanha por membros do Ministério Público Federal, Defensoria Pública da União, Procuradoria Geral do Estado e Advocacia Geral da União, inspecionou as dependências da Seduc para avaliar pedido de desocupação do prédio, que apesar da presença dos manifestantes, segue em pleno funcionamento.
O ato não intimidou o movimento, que segue com a ocupação e realizou a marcha anunciada.
"Não vamos nos ajoelhar para o Helder Barbalho, nós temos dignidade e resistência. Tentaram nos apagar e hoje, em janeiro de 2025, estamos ressurgindo. Professores, não desistam de lutar, pais e alunos, também saiam das suas casas e venham para as ruas, porque essa luta é de toda a população paraense", afirmou Alessandra Korap, liderança indígena da etnia Munduruku.
Edição: Nicolau Soares