Disputa

Após aliança envolvendo 17 partidos, paraibano Hugo Motta se elege para comandar Câmara dos Deputados

Coreografia da vitória vinha sendo ensaiada desde segundo semestre de 2024; parlamentar obteve os votos de 444 deputados

Brasil de Fato | Brasília (DF) |
Arthur Lira [ao centro, à esquerda] foi principal fiador da candidatura de Motta [à direita] - Bruno Spada/Câmara dos Deputados

O plenário da Câmara dos Deputados elegeu, na noite deste sábado (1º), o paraibano Hugo Motta (Republicanos) para suceder Arthur Lira (PP-AL) na liderança da Casa, a partir de agora, até fevereiro de 2027. O parlamentar obteve os votos de 444 dos 499 deputados que marcaram presença na eleição. Ultrapassando em larga escala a marca dos 257 votos necessários para a vitória em primeiro turno, ele enfrentou Marcel Van Hattem (Novo-RS) e Pastor Henrique Vieira (Psol-RJ), que capitalizaram 31 e 22 apoios, respectivamente.

A coreografia da vitória de Motta vinha sendo ensaiada desde o segundo semestre do ano passado: o paraibano contou com a articulação destacada de Lira e também recebeu apoio do PT do presidente Lula e do PL de Jair Bolsonaro, alinhavando um arco de alianças que envolveu um total de 17 partidos. Além de PT, PL e Republicanos, aderiram à chapa as legendas União Brasil, PP, PDT, Avante, Solidariedade, MDB, PSD, Podemos, PSB, PRD, PC do B, PV, PSDB e Cidadania.

Assim como ocorre em cada eleição da Casa, foram escolhidos também os demais membros da mesa diretora. A configuração ficou da seguinte forma: Altineu Côrtes (PL-RJ) na 1ª vice-presidência; Elmar Nascimento (União-BA) na 2ª vice-presidência; Carlos Veras (PT-PE) como 1ª secretário; Lula da Fonte (PP-PE) na 2ª secretaria; Delegada Katarina (PSD-SE) como 3ª secretária; e Sergio Souza (MDB-PR) na 4ª secretaria.

Além do grupo, os parlamentares elegeram quatro suplentes para a mesa. São eles: Antonio Carlos Rodrigues (PL-SP) como 1º suplente; Paulo Foletto (PSB-ES) para 2º suplente; Dr. Victor Linhalis (Podemos-ES) como 3º suplente; e Paulo Alexandre Barbosa (PSDB-SP) como 4º suplente. 


Como de costume, partidos fizeram costuras para garantir cargos na mesa diretora / Marina Ramos/Câmara dos Deputados

Hugo Motta

Atualmente com 35 anos, Motta é o deputado mais jovem da história a assumir a presidência da Câmara, além de ser o vigésimo ocupante do posto oriundo do Nordeste. O parlamentar está em seu quarto mandato de deputado federal e pertence a uma família de políticos da Paraíba. Ao longo de sua jornada na Câmara, caracterizou-se por orbitar em torno de figuras de grande poder, como o emedebista e ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha, cassado em 2016, de quem é próximo até a atualidade.

Em discurso feito durante a sessão prévia à votação, o deputado destacou o que promete que serão compromissos de sua gestão à frente da Casa. No mesmo tom adotado pelo senador Davi Alcolumbre (União-AP), que este sábado voltou ao posto de presidente do Senado, o pernambucano sublinhou que pretende batalhar pelas “prerrogativas parlamentares”, tema-alvo de uma série de atritos entre Legislativo e Judiciário. "Juntos, vamos fortalecer institucionalmente a Câmara, manter a sua autonomia e independência em relação aos demais Poderes. Queremos uma Câmara forte, com a garantia de nossas prerrogativas e em defesa da nossa imunidade parlamentar”.


Oriundo da Paraíba, Hugo Motta vem de família de políticos da região e está em seu quatro mandato de deputado federal / Marina Ramos/Câmara dos Deputados

Outro ponto alto do discurso do paraibano foram as propostas para a readequação da dinâmica de trabalho da Casa ao rito tradicional, que foi quebrado por Arthur Lira durante todo o mandato e gerou reações de parlamentares de todos os espectros ideológicos. Uma das principais críticas está relacionada à publicação da pauta do plenário momentos antes de cada sessão, o que impede que as assessorias das bancadas tenham tempo hábil para analisar as propostas em detalhes e dificulta o conhecimento prévio dos temas por parte de setores civis.

“Buscaremos debater temas relevantes, abrindo diversas frentes de discussão, oportunizando previsibilidade sobre a pauta legislativa, direcionando para um aprimoramento constante das agendas temáticas", afirmou. O parlamentar também disse que considera importante a retomada das sessões no começo da tarde, para evitar notificações de última hora.

"O planejamento deve preceder nossas ações. Dessa forma, os impactos nas agendas interna e externa de cada parlamentar são minimizados. De maneira prática, precisamos, por exemplo, estabelecer com antecedência quais sessões serão virtuais e presenciais. Devemos também priorizar um alinhamento de pautas com o Senado para otimizar o processo legislativo", acrescentou. 

Em contraste com a gestão Lira, o deputado afirmou ainda que pretende aprofundar o debate das pautas, fortalecer as comissões e estabelecer critérios para a designação de relatorias de projetos, função que costuma ser bastante disputada por parlamentares quando se trata de pautas de maior relevo.

Motta também afirmou que terá “diálogo inesgotável” com os demais parlamentares e destacou que pretende “promover a visibilidade das mulheres” no parlamento, garantindo ao segmento a relatoria de propostas situadas além do espectro da pauta de gênero.

Edição: Douglas Matos