A Câmara dos Deputados se prepara para eleger, na tarde deste sábado (1º), o sucessor do presidente Arthur Lira (PP-AL), que deverá comandar a Casa no biênio 2025-2027. Também serão escolhidos os demais membros da mesa diretora, que engloba os cargos de vice-presidente, 2º vice-presidente, além de 1º, 2º, 3º e 4º secretários e mais quatro suplentes. Os futuros ocupantes desses postos, no entanto, são eleitos de forma separada do candidato a presidente, cuja eleição está no centro da disputa.
No exercício da função, entre outras coisas, cabem ao parlamentar que estiver no comando da Casa as seguintes atribuições: presidir as sessões do plenário, conduzir o colégio que reúne o conjunto dos líderes partidários, convocar as sessões e definir a ordem do dia, rol de pautas a serem votadas e um dos principais mecanismos de influência no jogo legislativo. Também compete ao presidente deliberar, por exemplo, sobre a largada ou não da tramitação de pedidos de impeachment do chefe do Executivo.
Neste ano, três candidatos disputam a liderança da Câmara, todos eles com menos de 40 anos de idade, algo incomum na história da Casa, cujos ex-presidentes tinham uma média de 54 anos. Veja a seguir quais os nomes que concorrem à sucessão de Lira.
Hugo Motta
Candidato com mais força política no jogo, Hugo Motta (PB) é o líder da bancada do Republicanos, sigla com 44 parlamentares, uma das maiores da Casa. O deputado tem o apoio de Arthur Lira e do governo Lula, sendo considerado o favorito na corrida por aglutinar em torno de si um conjunto de 18 legendas. O arco de alianças engloba PT, União, PP, PSD, MDB, PSDB, PDT, PSB, Podemos, PV, PCdoB, Avante, PRD, Solidariedade, Cidadania, Rede e o PL, partido que abriga o ex-presidente Jair Bolsonaro. A frente representa um total de 495 integrantes, mas o voto dos parlamentares é secreto e não há garantia de alinhamento automático de deputados por conta do acordo entre siglas.
Motta é o candidato mais jovem da disputa e tem apenas 35 anos. Médico de formação, o paraibano se elegeu deputado federal pela primeira vez em 2010, aos 21 anos, idade mínima para conquistar uma cadeira na Câmara. Nos primeiros anos, foi filiado ao MDB, sigla que ajudou a articular o impeachment de Dilma Rousseff (PT) em 2016 e partido de Eduardo Cunha, então presidente da Casa, posteriormente cassado. Em 2018, Motta migrou para o PRB, onde ficou até 2019, quando resolveu seguir para o Republicanos.
Apontado como um parlamentar que tem bom trânsito entre legendas de diferentes colorações ideológicas, Motta votou com o governo Lula em 91% das disputas que ocorreram na Câmara entre 2023 e 2024. Paralelamente, tem bom trânsito com Eduardo Cunha, mentor do impeachment de 2016 e rival de petistas. Presidiu a Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Petrobras, criada em 2015, e foi acusado por parlamentares de proteger o emedebista, que terminou cassado em setembro de 2016 sob a acusação de ter mentido para a CPI a respeito da existência de contas pessoais no exterior. Na época, Motta também foi assessorado de Danielle Cunha, filha do emedebista e dona de uma empresa de marketing político.
Henrique Vieira
Primeiro candidato a se inscrever na disputa após Motta, o deputado Henrique Vieira (RJ), 37, representa na corrida a bancada do Psol, sigla com 14 membros. Vieira é um dos vice-líderes do governo Lula na Câmara, pastor da Igreja Batista do Caminho, sediada no Rio de Janeiro (RJ), e figura de destaque entre o segmento de evangélicos progressistas no Brasil. O psolista foi vereador da cidade de Niterói entre 2013 e 2017 e se elegeu deputado federal pela primeira vez em outubro de 2022.
Em 2024, Vieira integrou as Comissões de Previdência, Assistência Social, Infância, Adolescência e Família; Direitos Humanos, Minorias e Igualdade Racial (CDHM); Legislação Participativa (CLP); e Segurança Pública e Combate ao Crime Organizado (CSPCCO) da Câmara. O psolista é próximo de movimentos populares, bases sindicais e entidades civis do campo progressista em geral, sendo presidente da Frente Parlamentar Mista em Defesa da Reforma Psiquiátrica e da Luta Antimanicomial. Também é atual secretário da chamada "bancada negra" da Câmara, grupo que congrega 122 deputados que se autodeclaram pretos ou pardos.
Vieira é crítico à candidatura de Hugo Motta, entre outros pontos, por conta da ligação do republicano com Eduardo Cunha e Arthur Lira. Ele também se opõe à ideia de anistia para os golpistas que atacaram os prédios dos três Poderes em 8 de janeiro de 2023, em Brasília (DF). Tem, ainda, ajudado a vocalizar a defesa de propostas como a que prevê o fim da jornada de seis dias seguidos de trabalho para um dia de folga, a chamada "escala 6x1".
Marcel van Hattem
Aos 39 anos, o deputado Marcel van Hattem (RS) concorre pelo partido Novo, sigla com apenas quatro integrantes, mas que tende a arregimentar apoio de parlamentares reacionários de outras legendas, como o PL, por conta do posicionamento crítico à composição entre Motta e o governo Lula. O parlamentar gaúcho é um dos opositores mais engajados da atual gestão petista e tem propostas que dialogam com a extrema direita na política e com a agenda neoliberal na economia.
Van Hattem defende, por exemplo, a anistia para os golpistas do 8 de janeiro, a privatização de empresas públicas e pautas de perfil antitrabalhista. O deputado tem conhecida oposição às agendas do campo da esquerda, principalmente as que ele classifica como assuntos de viés identitário, sendo considerado um dos bolsonaristas mais ferrenhos da atual legislatura.
Edição: Thalita Pires