Movimentos populares do Panamá divulgaram uma carta nesta segunda-feira (3) denunciando o que chamam de uma postura "humilhante" do governo panamenho ante a posição do governo de Donald Trump. Em documento assinado pela Frente Nacional pela Defesa dos Direitos Econômicos e Sociais (Frenadeso), os panamenhos questionam as medidas do presidente José Raúl Mulino de aproximação com os Estados Unidos.
De acordo com o grupo, o mandatário se comporta como "governador de uma colônia ianque". Os movimentos destacam que as medidas tomadas recentemente pelo governo do Panamá fazem com que o país "abaixe as calças" para a Casa Branca. Entre as medidas, o grupo denuncia a presença de bases militares estadunidenses em território panamenho, além de um centro com porto e aeroporto para militares.
O grupo ressalta que o governo também aceitou receber os migrantes deportados pelos EUA, independentemente da sua nacionalidade, e disse que Mulino está entregando portos e aeroportos do Pacifico para os Estados Unidos.
O texto diz também sobre um suposto rompimento das relações com a China. O governo panamenho, no entanto, ainda não rompeu relações com Pequim, mas nos últimos dias anunciou a saída do projeto de infraestrutura chinês chamado de Nova Rota da Seda.
Segundo a Frenadeso, o administrador da Autoridade do Canal do Panamá, Ricauter Vásquez, promete "otimizar a passagem dos navios de guerra dos Estados Unidos através do Canal", algo que, para o grupo, compromete a neutralidade do Canal e segue os interesses militares dos EUA.
Ainda de acordo com o grupo, Mulino está disposto a ceder aos objetivos estadunidenses por fazer parte de uma "conspiração contra o Panamá". O texto denuncia também uma série de prisões promovidas pela policia panamenha contra lideranças estudantis e integrantes de movimentos populares.
"Os gringos exigem operação conjunta da Administração do Canal do Panamá e Mulino está disposto a ceder porque faz parte desta conspiração contra o Panamá. Enquanto Trump ataca, o covarde Diretor da Polícia, Jaime Fernández, invade as casas e prende líderes estudantis e ativistas de movimentos sociais. Por sua vez, a Assembleia, que não se pronunciou sobre o assunto, continua a avançar na imposição de reformas desastrosas na segurança social", diz o texto.
O trecho faz referência aos projetos que estão sendo discutidos na Assembleia Nacional. Um deles é a reforma da Caixa de Seguro Social (CSS), um fundo de segurança social para os trabalhadores. Os movimentos denunciam as mudanças propostas pelo governo tirariam grande parte dos direitos dos trabalhadores. Segundo o movimento, o objetivo da reforma é continuar buscando empréstimos de instituições financeiras internacionais depois da crise em que o país entrou, que impossibilitou esses novos pagamentos.
"Eles são cúmplices de Mulino, tal como as figuras espanadas do establishment, os partidos políticos tradicionais, os pseudo-independentes, os sindicatos empresariais, os especialistas em opinião. Os mesmos que foram fotografados com a ex-embaixadora gringa e que lhe permitiram atuar como pró-cônsul. Mulino não fala a verdade. Ele não diz o que deu aos Estados Unidos na sua reunião de uma hora a sós com Marco Rubio. Por traição contra o país, Mulino e o seu Gabinete devem sair", termina o texto.
Em seu discurso de posse, o presidente dos EUA, Donald Trump, voltou a ameaçar o canal do Panamá. Depois da eleição, ele disse que retomaria o controle do canal caso o preço dos pedágios para os navios dos EUA não fosse reduzido, apesar de a tarifa paga pelos navios ser determinada pela sua capacidade e carga transportada, e não pelo país de origem. Agora, ele disse que o acordo para o controle do canal foi "ruim" para os Estados Unidos e afirmou, sem provas, que a China está controlando as passagens no canal.
Em janeiro, os movimentos já haviam publicado uma carta convocando uma mobilização internacional para enfrentar o que chamaram de "planos de Donald Trump contra o Panamá". Na ocasião, os grupos pediam que as organizações se unam para derrotar projetos impulsionados pela Casa Branca contra o país.
Edição: Nicolau Soares
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