Após um fim de semana marcado por crescentes ameaças de Donald Trump, a Casa Branca finalmente decidiu suspender a entrada em vigor das tarifas de 25% anunciadas contra o México.
O anúncio foi feito nesta segunda-feira (3) pela presidente mexicana, Claudia Sheinbaum, por meio de sua conta no X, apenas cinco minutos antes de iniciar sua coletiva de imprensa diária, conhecida como "La Mañanera del Pueblo" ("a matinal do povo", em tradução livre).
Em sua postagem, Sheinbaum relatou que, após uma "boa conversa" com Trump, caracterizada por "respeito mútuo e soberania", foi alcançado um acordo para suspender a imposição de tarifas por um mês. Também enfatizou que os dois países trabalharão juntos para tratar de questões de segurança e comércio.
Como parte do acordo, o governo mexicano enviará "imediatamente" 10 mil agentes da Guarda Nacional para combater o tráfico de drogas, especialmente o fentanil. Por sua vez, os EUA se comprometeram a intensificar os esforços para conter o tráfico ilegal de armas de fogo para o México.
"Nossas equipes começarão a trabalhar hoje em duas áreas: segurança e comércio", afirmou Sheinbaum.
"Coordenar, sem perder a soberania"
O acordo foi alcançado após uma conversa de aproximadamente 45 minutos entre o presidente dos EUA e a presidenta mexicana, realizada na própria segunda-feira (3).
No início de "La Mañanera del Pueblo", que começou uma hora mais tarde do que o habitual devido à conversa telefônica, Sheinbaum entrou sorridente e perguntou ao público: "Vocês viram o tuíte?"
De acordo com Sheinbaum, ela explicou a Trump a gravidade do problema das armas de alto poder de fogo que entram ilegalmente dos Estados Unidos no México, alimentando grupos criminosos.
"E que essas armas de alta potência que chegam ilegalmente armam grupos criminosos e lhes dão poder de fogo. E que estávamos pedindo aos Estados Unidos que também ajudassem nosso país a impedir o tráfico de armas dos Estados Unidos para o México. Ele concordou", disse durante a coletiva.
Sobre o envio de forças de segurança mexicanas para a fronteira com os Estados Unidos, ela afirmou que se trata de uma medida que também beneficia o México. "Também nos ajuda a fortalecer a segurança na fronteira norte. Acho que foi um bom acordo e vamos informar sobre esse mês de trabalho das equipes de segurança e das equipes de comércio", declarou.
Assegurando que se trata de "colaborar, como sempre dissemos, coordenando, sem perder a soberania, respeitando nossos territórios e nossa esfera de ação. E (Trump) concordou que deveríamos criar esse grupo de trabalho para elaborar um plano de ação, dentro da estrutura de nossa soberania, que produza resultados".
Ela também enfatizou que México e Estados Unidos são parceiros comerciais, não concorrentes, e que essa relação é fundamental para enfrentar os desafios globais.
"Promessas cumpridas pelo presidente"
Os anúncios da presidenta Sheinbaum foram feitos após o governo dos Estados Unidos ter escalado suas ameaças durante o fim de semana.
Na última sexta-feira (31), durante uma coletiva de imprensa, Karoline Leavitt, secretária de imprensa da Casa Branca, afirmou que o presidente Donald Trump cumpriria sua ameaça de impor tarifas sobre produtos do México e do Canadá. "O prazo de 1º de fevereiro, estabelecido pelo presidente Trump há várias semanas, ainda está de pé", disse Leavitt, afirmando que as tarifas seriam de 25% para o México e o Canadá e de 10% para a China.
A justificativa, de acordo com a secretária, era combater o tráfico ilegal de fentanil, que já matou "dezenas de milhares de americanos". "Essas são promessas feitas e cumpridas pelo presidente", disse.
Finalmente, de sua mansão em Mar-a-Lago, na Flórida, no sábado (1), Trump aprovou novas tarifas sobre o México, o Canadá e a China.
"Nada pela força; tudo pela razão e pelo direito"
Em resposta às ações da Casa Branca, no domingo (2), a presidente Sheinbaum, publicou um vídeo de 8 minutos nas redes sociais no qual expôs a posição de seu governo.
"O México não busca o confronto. Partimos da colaboração entre os países vizinhos", disse ela. "Não queremos apenas que o fentanil não chegue aos Estados Unidos, não queremos que ele chegue a lugar nenhum. Se os Estados Unidos querem combater grupos criminosos e trabalhar juntos, devemos fazê-lo de forma abrangente, mas sempre sob princípios", disse, enfatizando que esses princípios incluem responsabilidade compartilhada, confiança mútua, colaboração e, acima de tudo, respeito pela soberania. "A soberania não é negociável. Coordenação sim, subordinação não."
Sentada em seu escritório no Palácio Nacional, Sheinbaum expressou sua rejeição às acusações da Casa Branca que sugeriam que o governo mexicano mantinha alianças com organizações criminosas. "Rejeitamos categoricamente essa calúnia, bem como qualquer intenção de interferir em nosso território. A soberania não é negociável."
A presidenta ressaltou que, se há alguma aliança com grupos criminosos, ela pode ser encontrada nos arsenais dos EUA, de onde saem armas de alta potência que são vendidas ilegalmente a esses grupos. "Isso foi demonstrado pelo próprio Departamento de Justiça dos EUA em 8 de janeiro deste ano", lembrou.
Como prova, ela citou o relatório National Firearms Commerce and Trafficking Assessment (Avaliação Nacional do Comércio e Tráfico de Armas de Fogo em traduçaõlivre, NFCTA na sigla em inglês) do Bureau of Alcohol, Tobacco, Firearms and Explosives (Departamento de Álcool, Tabaco, Armas de Fogo e Explosivos, ATF), que reconhece que 74% das armas usadas pelo crime organizado no México vêm ilegalmente da indústria militar dos EUA.
Ao mesmo tempo, Sheinbaum destacou o progresso da Estratégia de Segurança Nacional do México, que em quatro meses apreendeu 40 toneladas de drogas, incluindo 20 milhões de doses de fentanil, e prendeu mais de 10 mil pessoas ligadas a grupos criminosos.
"A epidemia de opioides sintéticos nos Estados Unidos teve origem na prescrição indiscriminada de medicamentos, cuja venda ainda é autorizada nas farmácias daquele país", afirmou. "O consumo e a distribuição de drogas é um problema de saúde pública que não foi abordado, e por que eles não se perguntam qual é a razão subjacente a tanto consumo de drogas nos Estados Unidos?"
Ela enfatizou que "o povo do México é corajoso e tem muita dignidade. Eles são as pessoas mais maravilhosas do mundo. Aqui está sua presidenta, com coragem e firmeza, mas sempre agindo com cabeça fria e amor pelo povo".
Edição: Nicolau Soares