O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, disse na terça-feira que os palestinos “adorariam” deixar sua terra natal em Gaza e viver em outro lugar se tivessem a opção.
Eles “adorariam sair de Gaza”, disse ele aos repórteres na Casa Branca. “Eu acho que eles ficariam entusiasmados”.
“Não sei como eles poderiam querer ficar. É um local de demolição”, disse ele, mais de 15 meses depois que Israel, principal aliado dos EUA na região, conduziu uma ofensiva militar que resutou na morte de mais de 47 mil palestinos na Faixa de Gaza.Trump já havia apresentado um plano para “limpar” Gaza, pedindo que os palestinos se mudassem para o Egito ou para a Jordânia.
Ambos os países rejeitaram categoricamente essa ideia e, na terça-feira, seus líderes enfatizaram “a necessidade de se comprometer com a posição árabe unida” que ajudaria a alcançar a paz, de acordo com a presidência egípcia.
“Bem, eles podem ter dito isso, mas muitas pessoas disseram coisas para mim”, disse Trump aos jornalistas na Casa Branca na terça-feira.
“Se pudéssemos encontrar o pedaço certo de terra, ou vários pedaços de terra, e construir para eles alguns lugares realmente agradáveis, há muito dinheiro na área, com certeza, acho que seria muito melhor do que voltar para Gaza, que teve décadas e décadas de morte”, disse ele.
O presidente republicano já havia apresentado no final de janeiro, uma proposta para “limpar” a Faixa de Gaza. “Estamos falando de um milhão e meio de pessoas, e simplesmente limparemos tudo isso”, declarou aos jornalistas.
'Não sairemos'
“Não sairemos”, afirmou Hatem Azam, um morador de Rafah, no sul da Faixa de Gaza, que, como a maioria dos palestinos, está indignado com a proposta do presidente estadunidense, Donald Trump, de enviar os habitantes de Gaza para o Egito ou a Jordânia.
“Trump acha que Gaza é um monte de lixo. É mentira!”, disse o homem de 34 anos, irritado com as palavras que o presidente dos Estados Unidos usou ao falar de seu plano.
O presidente estadunidense deve se reunir nesta terça-feira (4) na Casa Branca com o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu. Desde 19 de janeiro, vigora um cessar-fogo no estreito território palestino, devastado após mais de 15 meses de ofensiva israelense que deixou mais de 47 mil mortes.
“Trump e Netanyahu precisam entender a realidade do povo palestino e da população de Gaza. Trata-se de um povo profundamente enraizado na sua terra. Não sairemos”, insistiu Azam à AFP.
Perto de edifícios em ruínas em Jabaliya, no norte de Gaza, Raafat Kalob está preocupado com as possíveis consequências da reunião em Washington entre Trump e Netanyahu.
“Acho que a visita de Netanyahu a Trump refletirá seus planos futuros de deslocar a força o povo palestino e redesenhar o Oriente Médio”, afirmou. “Espero sinceramente que este plano não seja concretizado”, acrescentou.
Ihab Ahmed, outro residente de Rafah, lamentou que tanto Trump quanto Netanyahu “ainda não entendem o povo palestino” e sua conexão ao território.
“Permaneceremos nesta terra aconteça o que acontecer. Mesmo que tenhamos que viver em tendas e nas ruas, continuaremos enraizados nesta terra”, declarou o homem de 30 anos.
Segundo Ahmed, os palestinos aprenderam a lição da guerra de 1948 que se seguiu ao mandato britânico, quando centenas de milhares de palestinos foram expulsos de suas casas com a criação de Israel, e nunca lhes foi permitido retornar, episódio conhecido como Nakba, a catástrofe palestina.
“O mundo precisa entender esta mensagem: não sairemos como aconteceu em 1948”, enfatizou.
A primeira fase da trégua pôs fim aos combates em Gaza e possibilitou um processo de troca de reféns por prisioneiros palestinos. Mas as negociações para encerrar de forma definitiva a guerra ainda não começaram.
Zebda, um pai de seis filhos que perdeu sua casa na guerra, disse que nem ele nem nenhum morador de Gaza abandonaria o território costeiro.
“Somos os donos desta terra; sempre estivemos aqui e sempre estaremos. O futuro é nosso”, afirmou. Em Jabaliya e outras áreas do norte do território, duramente afetadas pela guerra, os deslocados que voltaram ao que resta de suas casas sobrevivem no momento em tendas.
*Com AFP
Edição: Leandro Melito